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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Mojito: 2ª aula

Foi há bocado. Tão fixe. O treinador hoje pediu um tapete e só lhe dava comida quando ele se punha em cima do tapete. Foi uma hora disto. O tapete a mudar de lugar, a ficar mais longe, e o Mojito a aprender que só naquele espaço é que tinha a sua recompensa. Aprendeu num instante. Às vezes hesitava, outras vezes parecia ir ao tapete só por acaso. Nome do objectivo: "Vai para o teu lugar". É mesmo giro vê-lo a pensar, a puxar pelos miolos. A ideia é depois extrapolar daqui para a rua, para que quando o chamemos para junto de nós ele venha, e fique até ordem em contrário, já sem o reforço da comida. Também estamos a aprender a tirá-lo do sofá (onde ele adora estar), sem ser à bruta ou aos gritos - o que, manifestamente, não tem resultado. Agora vamos fazê-lo com a recompensa da comida, como com tudo. E sem muitas palavras (muito menos gritos).
O Mojito tem agora um caderno, onde fica registado o que fazemos em cada aula (tipo sumário) e onde nos são passados os TPC. Temos muitos trabalhos para casa.
Juro-vos: estou a adorar aprender a linguagem e o pensamento canino. É mais uma ferramenta na vida. E começo a notar diferenças na relação de todos com o cão. É incrível, eu sei. Só tivemos ainda duas aulas. Mas nota-se LOGO a diferença. E a exaustão dele, depois de cada aula? É cá um sossego...

Desabafos

Estou cansada.
Passo os dias a arfar.
Tenho sempre muito calor.
E sono.
Menos de noite. Acordo sempre às 3h e fico de pestana arregalada até às 6h. Depois durmo. Mas só até às 7h, hora a que tenho de despachar humanos e caninos.
Às vezes as pernas não querem andar.
Às vezes estão inchadas e, se me encosto a qualquer coisa, fico logo com uma cratera marcada na canela.
Sim, estou com uma retenção de líquidos que vai daqui até à China.
Já disse que estou cansada?
Sempre trabalhei até ao último momento. Desta vez parece que carrego o mundo às costas. Ou na barriga.
Tenho quase 34 semanas.
Engordei 14 quilos, o que não é assim tanto, atendendo a que do Manel foram 25, do Martim 20 e da Madalena 10.
Tenho vontade de o ver. De o cheirar. De lhe pegar nos pés minúsculos e de o deixar dormir encostado a mim.
Tenho medo que a Madalena sofra como o Martim sofreu, ou pior. Temos ambas uma relação muito fusional e não quero que se sinta ultrapassada, traída, menos amada.
Tenho sono e não tenho paciência para nada e estou com muito mau feitio.
Choro muito.
Acaricio a minha barriga e não posso sequer pensar que nunca mais vou estar assim, que nunca mais vou ser uma entidade mágica, assim uma espécie de unicórnio. Quero apreciar cada momento, porém estou fartinha de não me conseguir mexer como uma pessoa normal.
Tenho saudades de correr. Sim, que medo. Eu. Saudades de correr. De andar de bicicleta. De ser ágil (dentro do género, claro).
Quero-o cá em casa e, por outro lado, tenho medo de tudo o que isso vai implicar: como é que vou levar os miúdos ao inglês, futebol, ténis, guitarra, natação com um recém-nascido atrás?
Dentro de pouco tempo terei de escolher a data para ele nascer.
Não gosto de ter de escolher. Preferia que a coisa se desse, como foi com a Madalena, mas não podemos correr esse risco sob pena de poder rebentar as costuras anteriores, o que não me apetecia muito.
Baby M faz 38 semanas dia 11 de Novembro. Eu faço anos a 3 de Novembro. O Manel faz anos a 13 de Novembro. Dia 15 de Novembro os rapazes dão um concerto na Aula Magna. Gostava que tivessem, baby M e Manel, pelo menos 6 dias de diferença nos nascimentos, para que nem um nem outro venham a ter festas de anos sobrepostas - eu sei, eu sei, é preciso é que venha com saudinha e essas minudências não interessam, mas eu cá gostava que ambos estivessem, pela vida fora, presentes nas festas um do outro. Manias.
Já disse que tenho calor?
Muito mais calor que em todo o verão.
Quando levo a Madalena à escola, às 9h, há sempre alguém que me diz "Está quase…" ou "Está com um ar tão cansado logo de manhã".
E estou. De gatas.
Ainda não fiz a mala, nem a dele nem a minha. Só ontem comprei fraldas de tamanho 1.
O quarto deles está amoroso, mas ainda não está pronto.
Tenho mandado quilos de coisas para fora desta casa (entre o lixo, a dádiva a instituições e a arrecadação). Creio que busco a leveza que me falta no corpo neste destralhar incessante da casa.
Já me deitava outra vez. E dormia.
Mas tenho de ir buscar o mais velho. E depois vem o do meio. E a seguir tenho de ir buscar a mais nova. E depois levo um à natação e o outro ao futebol.
Odeio os fins de dia.
Quando ela me pede para brincar eu fico à beira das lágrimas.
Quase nunca janto. Uma sopa e está bom.
Depois, às vezes a meio da noite tenho uma fome de lobo. Aguento-me quase sempre sem atacar a despensa. Muito graças ao cão - para não o acordar prefiro ficar a ouvir o roncar do meu estômago.
E o calor que eu tenho?
Já disse que estou cansada?

Liberdade e responsabilidade

Ontem o Manel distraiu-se com uma amiga no caminho a pé da escola para casa. Esqueceu-se das horas. De maneira que, às 18.30, comecei a ligar-lhe insistentemente porque era a hora de sair para a aula de guitarra. Mas ele distraiu-se também do telefone. Não atendeu. Não fui de modas. Peguei no Martim, meti-o no carro e fomos à nossa vida. Afinal, o irmão não tinha de ser prejudicado pelas distracções femininas do Manel. Às 18.45 lembrou-se da vida e ligou-me. Para o ir buscar não sei onde. Oi? Já estamos longe, quase a chegar à escola de música. Quem estava estava, não não estava estivesse. Agora vai pagar do seu dinheiro a aula que perdeu e, enquanto a fúria me permanecer a ferver no sangue, acabaram-se os almoços com os amigos e as idas e vindas a pé, de que ele tanto gosta. Aqui em casa há liberdade, sim, mas com responsabilidade. Quando acaba a responsabilidade, fecha-se a torneira da liberdade.