Na semana passada, a convite da Cytothera, fui ao laboratório, ver como funciona todo o processo de criopreservação das células estaminais. Gostei imenso de ir e fiquei ainda mais contente quando percebi que
qualquer pessoa pode fazer esta visita. Ou seja, não tive este acesso por ter um blogue com muitas visitas, ou por ser jornalista, ou por acumular as duas. O convite foi-me feito por isso, claro, mas o que importa é que qualquer pessoa, com ou sem blogue, pode (e deve!) lá ir, se for ter um bebé e se estiver a pensar fazer a criopreservação.
Eu sempre fiz. Do Manel não, que ainda nem se falava disso, mas do Martim e da Madalena fiz. Porquê? Vou ser muito franca: por descargo de consciência. Mesmo quando havia quem me dissesse: "ah, e tal, isso é uma parvoíce, são raríssimas as aplicações possíveis", sempre respondi a mesma coisa: "pois, talvez hoje seja, mas a Medicina e a Ciência em geral não param de evoluir. Em poucos anos as aplicações podem ser brutais, um dos meus filhos pode precisar (lagarto, lagarto, lagarto), e eu vou sentir-me esmagada pela culpa (essa minha velha amiga) se não tiver feito, podendo fazer."Poderá ter sido uma decisão mais baseada na emoção que na razão, admito. Mas continuo com a mesma opinião: em podendo prefiro fazer, desejar que NUNCA na vida deles precise de usar, e seguir em frente sem pensar mais no assunto.
A verdade é que, com os anos, a aplicabilidade das células estaminais tem vindo a aumentar significativamente. Hoje já são úteis no tratamento de cerca de 80 doenças e continuam a decorrer ensaios clínicos com o objectivo de encontrar soluções para várias doenças, nomeadamente a paralisia cerebral, os enfartes do miocárdio, esclerose múltipla, entre outros.
Adiante. Na minha visita à Cytothera, fiquei a perceber como das outras vezes, de facto, não quis aprofundar muito o assunto. Perguntaram-me se tinha preservado apenas as células do sangue do cordão umbilical ou se também tinha preservado as do tecido. Não soube responder. Perguntaram-me se tinha feito uma visita ao laboratório, para ficar esclarecida sobre como tudo se faz. Não… aliás acho que a empresa pela qual fiz nem sequer oferece essa possibilidade (mas posso estar enganada). A verdade é que todo o meu desconhecimento veio provar que esta é uma matéria em que, até agora, preferi não reflectir muito. Limitei-me a pensar: ok, isto existe, isto pode vir a ser útil para a vida dos meus filhos, então eu quero. Ponto final parágrafo.
Com esta visita, fiquei a saber muito mais. E gostei de saber mais. Partilho convosco, para o caso de vos interessar, mas reforço: marquem visita e deixem-se deslumbrar pelo universo laboratorial! É mesmo interessante. Ora então:
1 - O processo de criopreservação do tecido passa por três fases: descontaminação do cordão; corte do cordão e digestão do tecido (isolamento das células estaminais); e, por fim, a criopreservação propriamente dita (que é feita muito devagarinho, para não dar cabo das células: leva cerca de 1 hora e meia a chegar aos -150ºC).
2 - Fiquei a saber que é importante preservar também as células do tecido do cordão porque o risco de rejeição é muito reduzido e porque, depois de recolhidas, passam por um criterioso processo. Ali não se limitam a congelar e adeusinho, até qualquer dia. O método da Cytothera vai mais longe e o que faz é purificar as células e deixá-las a multiplicar-se até serem no mínimo 3 milhões, o que assegura a sua qualidade e capacidade de proliferação mesmo após descongelamento. Assim, permitem até 4 aplicações em 4 momentos diferentes (enquanto as do sangue só permitem uma aplicação).
3 - Fiquei impressionada com toda a purificação a que está sujeito o processo, desde o ar que se respira (que passa por filtros e mais filtros), às óbvias máscaras e batas e luvas, passando pela descontaminação do cordão umbilical (que é colocado numa solução de antibióticos para eliminar as bactérias). Isto faz com que as células sejam preservadas com elevados critérios de qualidade.
4 - Há análises e mais análises que são feitas, durante o processo, nomeadamente ao sangue periférico da mãe (no conceituado laboratório Joaquim Chaves), e amostras e mais amostras que são tiradas, nas várias fases. Tudo é rigorosamente testado e re-testado.
5 - Como a Cytothera está associada a uma farmacêutica (Medinfar) e tem como parceiro a ECBio, laboratório de investigação nas áreas de Biociência e Botecnologia, tudo faz mais sentido porque há uma constante preocupação em desenvolver novos métodos e novas soluções terapêuticas com células estaminais.
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A
rmada em cientista, a ver ao microscópio células do tecido em pleno crescimento
Posto isto, dizer que desta vez vou voltar a fazer a criopreservação, desta vez já não de uma forma tão desinformada e sentimental, e que o meu kit já está prontinho para levar para o Dia D.
Ah, isto é uma dica muito importante! Não tratem deste assunto muito para o final da gravidez porque, às vezes, os bebés pregam partidas e decidem nascer antes do esperado. Outra dica: se fizerem viagens longas, levem o kit convosco. Nunca se sabe…