Arf, arf, arf
O cão acordou - como sempre - às 6.30. Olhei para o relógio e pensei: "que se f***". Lamento. Podia pôr aqui outra palavra, mais educada, mas para ser verdadeira tenho mesmo de colocar esta, ainda que disfarçada, porque o que eu pensei foi mesmo "que se f***, ele que espere". Mas o bicho continuou a ganir e eu pensei que quem ia acabar por se f*** era eu, a ter de limpar dejectos na cozinha, e então vesti-me e fui. O Ricardo tinha ido à meia-noite, achei que não era justo estar a ir também de madrugada. Saí à rua e era de noite, mas noite escura, noite sem vivalma nas ruas, noite de silêncio e estores fechados e sonos que quase se podiam palpar. Dei a volta do costume, ele fez o xixi do costume, mas como o cocó do costume não veio dei uma segunda volta, num total de meia-hora de passeata com toda a calma e serenidade. Não fez cocó. Vim para casa, deitei-me mas comecei a sentir aquele perfume que, infelizmente, também já pode ser considerado "do costume". Levantei-me e deparei-me com duas poias gigantes na cozinha. Fechei a porta, respirei fundo (há que respirar fundo sempre que estivermos à beira de cometer um crime), abri a porta, encostei-lhe o focinho à primeira poia, depois à segunda, ralhei, limpei, fechei a porta e larguei a chorar. Chorar alivia-me bastante, de maneira que a seguir dormi. Dormimos ambos (leia-se eu e o meu homem, que lá o que o bicho esteve a fazer não sei). Quando acordámos, o Ricardo foi com a Madalena fazer as compras do mês, eu fui à Staples comprar o material escolar da Mada, cerca de 30 itens que incluiam coisas como papel manteigueiro, caderno musgami (oi?), papel sortido, feltros, velcro, cola de madeira, barro, e por aí fora. Saí dali à pressa porque já estava na hora de apanhar o Manel, que tinha jogo às 14h. Liguei-lhe para sair de casa, apanhei-o, levei-o, voltei para casa, fui com o Martim passear o Mojito. Fomos ter com o Ricardo e a Mada para almoçar. O Ricardo seguiu para casa, para arrumar todas as compras do mês, eu fui levar o Martim a Caxias, a uma festa de aniversário. A mãe do aniversariante ofereceu-se para ficar lá com a Madalena e ela olhou para mim com olhos de gato do Shrek. Ficou. Nota para futuras mães: não se ofereçam simpaticamente para ficar com ela, que ela fica. Vim para Lisboa, ainda consegui ver parte do 2º jogo do Manel. O pai também foi lá ter. Ganharam um jogo, perderam outro. Viemos para casa, passeámos o cão, Manel tomou banho, fomos buscar os outros a Caxias, seguimos para as Amoreiras para testar as lentes de contacto do Manel, ah hoje já não vai dar, só amanhã, e eu com o beiço a tremer, praticamente à beira do choro, "Mas viemos de propósito!", pois mas agora só amanhã. Dali íamos visitar uma tia, que foi operada, mas estava a dormir e já não fomos. Ainda passámos em Campo de Ourique para comprar um cueiro para pequeno Baby M estrear quando nascer. Passámos nos frangos, ainda demos um pulo ao Pingo Doce para trazer Gaspacho e Pleno (não há Pleno em lado nenhum!) Chegámos a casa já de noite, fomos passear o cão, e ainda estivemos a arrumar tralha espalhada por aqui e por ali.
Da próxima vez que perguntar - em voz alta ou só em pensamento - porque é que me sinto tão cansada, talvez seja melhor esbofetear-me. Amanhã aproxima-se um dia bastante parecido com este. E depois de amanhã. E… bom, na verdade é quase sempre isto, mais coisa menos coisa.
Da próxima vez que perguntar - em voz alta ou só em pensamento - porque é que me sinto tão cansada, talvez seja melhor esbofetear-me. Amanhã aproxima-se um dia bastante parecido com este. E depois de amanhã. E… bom, na verdade é quase sempre isto, mais coisa menos coisa.