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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Trabalhinhos lindos que nos engolem

Todos os anos vem para casa uma pasta (quando não é uma caixa) com os trabalhinhos dos nossos filhos. O Manel já não traz, mas trouxe sempre durante 7 anos (dos 3 aos 10). Do Martim também já tenho uma quantidade considerável de desenhos, pinturas e pequenas esculturas. E até a Madalena já acumula um alegre amontoado de trabalhos manuais. Não tarda será a vez de pequeno baby M.
No início é tudo lindo e maravilhoso. Cada rabisco é olhado com comoção, cada boneco ainda que apenas levemente parecido com uma silhueta humana é recebido com grande êxtase, cada peça de barro faz tremelicar uma lagriminha emocionada. São uns artistas, os nossos meninos, tão queridos, tão habilidosos, tão profundos na sua inocência. Depois, com o tempo e com a profusão de trabalhos artísticos dos filhos, uma alminha só consegue pensar onde raio vai meter tanta "arte", e acaba a encaixotar tudo e a pensar que talvez para o ano ganhe coragem de mandar uma boa parte para o lixo. Mas nunca consegue. Eu pelo menos ainda não atingi esse patamar de desprendimento. Tenho milhares de obras em caixas etiquetadas com o nome do autor e o ano de produção, engolindo-me espaço e mais espaço, e atrevo-me a apostar que nunca mais nenhum deles vai querer olhar para aquilo duas vezes. Talvez nós, pais, quando todos eles já tiverem seguido as suas vidinhas, passemos horas a fungar perante pedaços de barro bafientos e cerâmicas estaladas pelo passar dos anos. Talvez o arquivo nos venha a servir de combustível à nostalgia e à saudade de um tempo que já não volta. Talvez o melhor - agora que penso nisso - seja deitar tudo fora depressa, que já antevejo largas horas de depressão.