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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Serei tudo o que disserem

Uma leitora escreveu-me por estar ralada com não sei o quê que tinham dito sobre mim. Sorri. Respondi-lhe a mais pura das verdades. Que é esta: ao fim de seis anos de blogue, já ganhei um calo que me tornou imune a todo o tipo de barbaridade que digam sobre mim, sobre os meus, ou a respeito da minha vida. Já li de tudo. É-me completamente indiferente. Serei tudo o que disserem: feia, gorda, que tenho patas em vez de pés, que as minhas mãos são medonhas, que cheiro mal da boca, que não me lavo (por baixo ou por cima), que ganho a vida a fazer felatios, que o meu marido é um trambolho, que tem outra, que é gay, que nos casámos por dinheiro (seja o dinheiro dele ou meu), que ele sofre de impotência e os nossos três filhos (quase quatro) são fruto de obras de engenharia biológica. Ou que são raptados. Ou que foram comprados. E que mal comprados foram, credo, que são todos de meter medo ao susto, que têm um atraso mental, que não têm um atraso mental mas são burrinhos como portas de chapa ondulada. E, já agora, que é por isso que os espancamos, que os fechamos numa divisão sem janelas, e que abusamos deles também. Que vivemos numa barraca, que temos mau gosto, que somos ambos porcos e a nossa casa, além de feia, é imunda e tem ratos do tamanho de coelhos. E que há cenas de pancadaria e sexo selvagem, que mete prostitutas e animais (sim, só para isso é que fomos buscar um cão, pobre Mojito, sabe Deus o que ele passa com as nossas taras). Que o meu gajo subiu na carreira por baixar as calças, que só escrevi livros porque dormi com as editoras, que roubamos nas lojas e vandalizamos paredes. Que a minha mãe é bêbeda e o meu pai drogado, e é só por isso que tenho o blogue, para conseguir dinheiro para fazer face a todas as despesas com os vícios familiares. Sim, porque não trabalho. As reportagens que faço são umas tretas que os jornais e revistas só publicam por pena (e em troca de sexo, claro está), e os programas de rádio que tive foram conseguidos, evidentemente, na horizontal. Ah, e não estou grávida. Estou é obesa. E muito atarefada para conseguir um recém-nascido que chegue na hora certa. E que estes relatos de contracções prematuras não passam de tentativas de me justificar, caso o bebé comprado (ou gamado) chegue mais cedo. Bebé esse que será muito feio, como é óbvio, para não destoar do resto da família.

Acho que a melhor coisa que este blogue me deu foi esta indiferença para com a pobreza de espírito. A indiferença e, até, alguma diversão. Porque há dias em que me farto mesmo de rir com o que leio.
E agora deixo-vos com o grande, o enorme Ary dos Santos.

Mojito

A cirurgia correu bem mas o bicho está desesperado. Quer coçar-se e não pode, porque tem uma antena parabólica tão grande que deve apanhar os canais todos do mundo e talvez mesmo alguns interplanetários. Tem dois comprimidos para tomar, durante 5 dias, e depois tirará os pontos. Olha para mim com olhos tristes e eu não sei o que lhe dizer. Dou-lhe muitas festinhas e espero que ele não pense que lhe fizemos mal ou que o castigámos por algum disparate.

Arrumações

O nascimento de mais um bebé obriga necessariamente a arrumações. A casa não estica e, para cabermos todos, temos de "deitar carga ao mar". No domingo estivemos na arrecadação a decidir, caixa por caixa, aquilo que interessa, aquilo que está impecável para dar a quem precisa, e aquilo que se estragou com o tempo e só tem um destino: o lixo. Antes da decoração nova e da decisão sobre como organizar os quartos e o resto da casa, é preciso limpar. "Destralhar", parece ser o novo termo. Concordo. Acumular tralha só serve para nos prender os movimentos e a última coisa de que preciso é de sentir que me afogo em coisas que não uso e que guardo só porque sim. Ainda assim, parece uma luta inglória. Às vezes sinto que as tralhas se multiplicam, só para me darem cabo do juízo.