Devagarinho, a casa começa de novo a encher-se de coisas de bebé. Ontem dei por mim meio espantada a olhar para o pequeno séquito, como se só agora tomasse consciência de que, se tudo correr como é suposto, vai mesmo desaguar um bebé aqui em casa - e já não falta muito. Na verdade, pelo menos para já, sinto que podia continuar grávida durante mais um ano ou dois. Digo "pelo menos para já" porque me lembro de sentir exactamente o mesmo quando foi da Madalena e, de repente, lá pelos 8 meses e qualquer coisa, senti vontade de a conhecer, de lhe pegar, de a ter cá fora. Por isso repito: pelo menos para já ele podia permanecer aqui mais um ano ou dois. Mesmo com as limitações a que estou obrigada, adoro estar grávida. Continuo, à quarta vez, a achar fascinante este fenómeno de ser um dois-em-um, de ter um ser vivo cá dentro, que cresce, que se alimenta, que dorme e que me dá sinais da sua existência todos os dias, praticamente a todas as horas. Gosto do meu corpo imenso, de me deitar de lado e sentir a minha enorme barriga, gosto de sorrir quando dou por mim a andar como uma pata choca ou quando o colostro decide dar o ar da sua graça. Até gosto da bipolaridade que me faz sentir monstruosa num determinado instante, e no seguinte sentir-me sexy com as minhas formas generosíssimas. Gosto de imaginar o bebé e de o acariciar e de conversar baixinho com ele, divirto-me com as mãos dos meus filhos na barriga, todos a quererem sentir os pontapés ao mesmo tempo. E, por saber que será a última vez, quero desfrutar de tudo com intensidade, quero saborear cada momento para nunca mais me esquecer, quero prolongar isto, que é tão bom, porque não poderei repeti-lo. Para ser sincera, nem sequer posso pensar muito no facto de esta ser a última vez porque se o faço ainda acabo à batatada com o médico quando chegar a hora de mo tirar daqui.
Por outro lado, aqui dentro o bebé não chora, não mama, não me acorda de 3 em 3 horas, não compete pela minha atenção com os outros. Eu tenho três filhos que amo perdidamente e, por isso, sinto que podia continuar grávida por mais um ano ou dois, neste amor que já é mas que não tem ainda comparação com o amor que sinto pelos outros, nesta espécie de sonho que, apesar de ser real, possui ainda os contornos de uma certa fantasia, de um imaginário, de uma construção idílica, como tudo aquilo que sendo presente é, ainda assim, um bocadinho futuro.