O médico deixou-me rumar aos Algarves com a família, prometendo vida calma, medicação a tempo e horas e muita água no bucho. E assim tem sido. Na praia durmo a sesta, em casa estou estendida, às vezes irrito-me por ver toda a gente a fazer coisas à minha volta e eu imóvel, mas foi a promessa que fiz para poder vir, por isso cumpro. Por cá está toda uma turma. Primos, amigos, amigos de amigos. Os miúdos quase choraram de felicidade quando lhes dissemos que tínhamos ordem para vir. E têm ajudado muito - fazem as camas, põem e levantam a mesa, arrumam a roupa. Gritam comigo sempre que me vêem fazer alguma coisa (é verdadeiramente infernal).
O mar está gelado, a temperatura também não está de Agosto, basta dizer que à sombra do chapéu chega a estar frio (durmo tapada). Mas não me queixo. E bebo cada instante como se fosse o último (até porque nunca sei se as contracções não voltam a qualquer momento - elas mantêm-se, mas em pequenas doses, como que para não me deixar esquecer). Dou por mim a aspirar profundamente o perfume da ria, a contemplar o pôr do sol, a apreciar pequenas coisas a que não costumo dar assim tanto valor. Como sempre, tendemos a só valorizar aquilo que não temos ou, no caso, que quase não tínhamos.
Obrigada uma vez mais pela vossa corrente positiva. Apesar de ser pessoa pouco crente nestas coisas, dei por mim a achar que tantos desejos de melhoras ajudaram a que isto fosse possível. O meu lado racional diz que estou a ficar parvinha. Quem sabe? De qualquer modo, não deixarei de vos agradecer o carinho.