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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Domingo, na Notícias Magazine

Fiquem a conhecer um homem que era comissário de bordo e decidiu trocar de companhia. Saiu da Portugália e foi para a Companhia de Jesus. Tornou-se padre, aos 34 anos. Os mais rápidos a julgar (ou os mais cépticos nestas questões de entregas a uma vida religiosa e aos seus votos) poderão pensar: ah, coitado, deve ser feio como uma marquise de alumínio (daquele alumínio não lacado…). Desenganem-se. É um verdadeiro gato, com uns olhos verdes de fazer parar o trânsito. Segunda observação possível: ah, então devia ser infeliz e foi à procura de uma nova vida… Nop. Tinha uma boa vida, muitos amigos, vivia de país em país, viajando e conhecendo gente interessante, e ainda ganhava bem. Ou seja, ali aconteceu um clique. Ou melhor, foi acontecendo. Uma sucessão de cliques, até ao clique final.
Paulo Duarte é um homem muito interessante, com uma visão diferente e arejada do papel da Igreja na vida dos crentes e dos não crentes. Por razões que a Razão desconhece (ou, se calhar, eu é que desconheço), tornámo-nos amigos. Amigos mesmo, daqueles que estão sempre presentes, nos momentos bons e menos bons. E eu, que sou ateia, sinto-me verdadeiramente abençoada por ter o Paulo na minha vida.
Amanhã, domingo, na revista do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias, sugiro que o conheçam um bocadinho.
Fotografia: Dulce Antunes

Saída precária

O médico autorizou-me a levantar, a andar aos poucos, até a sair de casa. Devagarinho e medindo cada passo. Sem abusar. Hoje uns metros, amanhã mais uns quantos.  Sem nunca esquecer os litros de água, o magnésio, a progesterona. Ouvindo o corpo, escutando os sinais. Segunda vou lá ter com ele para me ver e fazer CTG. Parece estar tudo no bom caminho. Mas confesso que me sinto uma espécie de bomba-relógio, capaz de ser armadilhada a qualquer instante, a cada passo. Odeio situações que fogem do meu controlo. Isto das contracções, súbitas e sequenciais, escapa totalmente do meu controlo e isso faz-me sentir impotente. Insegura. O controlo é uma ilusão, eu sei. Achamos que controlamos tudo, que decidimos a nossa vida quando, de repente, ela decide por nós. Somos um bocado tontos, na verdade. Mas talvez seja simplesmente uma defesa: sabermo-nos tão voláteis, tão à mercê, não nos permitiria viver com sanidade. Assim, iludimo-nos. Achamos que controlamos, que decidimos.  Que temos a nossa agenda, que temos coisas marcadas, programadas, definidas. Fazemos planos. Não poderia ser de outra forma, ou a nossa vida seria uma sucessão de episódios caóticos. Neste momento, porém,  sinto de forma vívida que estou à mercê do que o meu corpo decidir. E estou pronta para aceitar o veredicto.