Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

O vazio

Ir a um velório, engolir em seco, ir no caminho com aquele frio na barriga. Pensar no que dizer à família, que cara fazer, nem demasiado triste para não puxar tristeza, nem demasiado ligeira para não parecer que não me custa. Porque custa. Custa sempre. Chegar, abraçar o marido de quem partiu, um homem enorme e com um rosto bonacheirão, 78 anos de vida, e desejar egoisticamente que ele se mantenha assim forte, sorridente até, enquanto nos mantemos naquele abraço. Mas não. Quando os braços se largam, a frase: "Fomos sempre namorados. Até ao fim. Uma vida inteira. E agora ela foi-se embora. E deixou-me o vazio."
E as minhas palavras secaram.
Odeio a morte.
Odeio o vazio que ela deixa. Tão doloroso e irreparável.

Este sábado...

… há mais uma edição do Mercado dos Santos.
É nos jardins da Escola Superior de Educação (ESE), no Porto, entre as 10h e as 19h.
Para os mais distraídos, o Mercado dos Santos é uma iniciativa solidária, dinamizada por voluntários com um grande coração e muita força de vontade, e procura promover o espírito solidário, recuperar laços de comunidade e vizinhança e apoiar causas humanitárias. Todos os lucros obtidos com a organização dos eventos revertem para causas previamente identificadas.

Nesta edição, o Mercado dos Santos associa-se ao IPP Solidário e apadrinha três causas solidárias através da angariação de novos dadores de sangue/medula para a Cristina Pereira, Vamos Ajudar a Susana e na recolha de fundos para o IPP Solidário.

O que podem esperar deste mercado?
Muita animação, alegria e confraternização. Tragam os bolsos recheados porque vai haver muitas marcas com produtos portugueses  - dos têxteis aos petiscos, vão encontrar um pouco de tudo!
Se quiserem apenas aproveitar o sol e relaxar, há bebidas refrescantes e música.
Podem ainda assistir ao lançamento do livro "As Mulheres não sabem estar caladas", dessas grandes queridas Ana Almeida, Carla Rocha e Marta Moncacha, às 16h, e deixar o vosso donativo, em sangue, com a equipa do CEDACE.

E levem as crianças porque não faltarão actividades e animação, incluindo mini-sessões fotográficas com a Elisabete Family Photo e a Mary Poppins.
Podem saber mais AQUI.

Arre, que ia falecendo!

Estávamos a almoçar todos, eu e os rapazes (pai incluído). Nisto, toca o meu telemóvel. Era do colégio. Ia-me parando a digestão e a pulsação, ao mesmo tempo. "É do colégio… Só um momento que querem falar". O momento terá durado 5 ou 6 segundos mas eu congelei. Depois do meu pressentimento matinal, a última chamada que queria receber era a do colégio. Afinal era só para saber se a rapariga tinha carrinha prevista este mês ou se a íamos buscar. Se estivesse com os copos teria ficado sóbria. Mãe sofre.

Um certo calafrio

Ela não queria acordar e eu comecei a pensar que, com a tosse que tem e o sono em atraso, se calhar não fazia sentido estar a tirá-la da cama e levá-la à escola para ir à praia. Eu, que acordei às 7h para ir com o Mojito à rua, sou bem capaz de ter apanhado uma pneumonia com o vento frio que estava e, de repente, não me fez grande sentido arrancar a sleeping beauty do seu sono para ir apanhar com areia nos dentes. Depois, enquanto lhe vestia o corpo inerte, comecei a sentir assim um certo calafrio. E se aquela minha reticência fosse mais do que isso? E se fosse um mau feeling, um pressentimento, uma espécie de aviso de que qualquer coisa ia correr mal?
Não sei se também têm destas parvoeiras. Eu, como as vou tendo amiúde e, além do mais, possuo uma mãe que sempre foi dada a maus feelings que depois não davam em nada, acabo por assobiar para o ar e dar dois bofetões imaginários nas minhas próprias fuças: deixa-te disso, criatura idiota!  
Ainda assim, ao vê-la sair ao colo do pai, adormecida, tive assim um frémito. Suspirei, abanei a cabeça como fazem as galinhas, e fui à minha vida. Há bocado, porém, mal acabei de tirar um café da máquina entornei a chávena inteira. Quando vi o café assim espalhado pela bancada… já imaginam, certo?
Isto é uma coisa de mãe ou é uma coisa de pessoa-que-não-se-pode-sentir-imensamente-feliz-que-fica-logo-à-espera-da-hecatombe?



(Ainda que procurando desvalorizar estas minhas m*rdas, estou a enviar mensagens telepáticas ao condutor da carrinha e às educadoras e auxiliares que vão com os meninos para a praia, para que cuidem bem da minha miúda)

Charters de chineses*

Diz que os chineses andam malucos a comprar casas no Parque das Nações. Não podem ver uma porta e dois pares de janelas que lhes saltam em cima como pulgas em lombos de cães. O meu vizinho (o tal cujo T1 gostaríamos de comprar para partirmos umas paredes e ficarmos com um belo T6) anda agora todo entusiasmado com a hipótese de vender o apartamento aos chineses e até já avançou com um valor que alguém de uma imobiliária lhe garantiu ser perfeitamente possível de conseguir para o seu imóvel. Se isso vier a acontecer, terei então de pôr a minha casa à venda. Porque se ele vender a dele pelo que estima, nós teremos uma pequena fortuna em mãos. A questão que se impõe é: o que fazemos com a massa? Comprar outra casa por aqui estará, pela lógica, fora de questão porque das duas uma: ou já não existem imóveis interessantes porque os chineses as arrebanharam, ou as que existem estão pela hora da morte (à espera que os chineses avancem com a maleta cheia de notas). Podíamos comprar uma moradia imensa, com terreno e piscina algures fora de Lisboa. Mas… e Lisboa? E estar aqui ao pé de tudo? E ter a cidade inteira à mão de semear? Só de termos saído mesmo do centro (vivíamos no Príncipe Real) já sentimos diferença. A falta que sinto do espírito de bairro, quase aldeia, das lojinhas, das velhotas cuscas, das conversas de café. E se fosse para Mafra, para Torres Vedras, para o Cadaval? Seria feliz? E o cinema, o teatro, o Chiado, Campo de Ourique, os sítios todos de que gosto e que ficam aqui tão perto?
Hoje falávamos com um vizinho que está a pensar render-se aos chineses. O valor que lhe prometem pela casa permitirá que compre uma moradia brutal a 30 minutos de Lisboa. E nós ouvimos aquilo e ficamos assim a pensar. Mas só por um bocadinho. Depois olhamos um para o outro, dizemos um "nah" em simultâneo e continuamos aqui, sem mais terreno que um terraço (e já o adoramos), sem piscina, sem sete ou oito quartos, mas na Lisboa que adoramos. Pelo menos até esta zona estar transformada na Chinatown da capital. Depois… depois logo se vê (se calhar até vai ser animadíssimo, sócios!).

* o Futre é um homem à frente do seu tempo, é o que é.