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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Boa noite

A darmos beijos de boa noite à Madalena. Ela, de olhos fechados, proclama:
- Adoro-te, mãe.
Eu, de olhos fechados, agarro-a com força e respondo:
- Adoro-te, Mada.
Ela, reparando que o pai está a olhar na ombreira da porta, exclama:
- Adoro-te pai. [silêncio e a mão na minha barriga] Adoro-te bebé!

Um email com tristeza dentro

"Nasci na Ucrânia, de onde os meus pais, ambos com ensino superior completo, foram OBRIGADOS a sair. Sim, foram OBRIGADOS, eles não saíram porque quiseram, saíram porque no início dos anos 90 perderam tudo o que tinham graças à queda da antiga União Soviética. Lembro-me perfeitamente de ter para ai sete anos, estar a jantar na cozinha com a minha família e ouvir os meus pais gritarem para eu e a minha irmã bebé nos escondermos por baixo da mesa, porque estavam a disparar aleatoriamente contra qualquer pessoa que estivesse na rua e não eram raras as balas que entravam em casa das pessoas acabando com as suas vidas. Portugal foi um refúgio que os meus pais encontraram, onde foram capazes de nos dar um FUTURO que não passasse pelo consumo de droga aos 12 anos, ou casamento e filhos aos 17. 
Hoje a minha mãe falou com a minha avó pelo skype que estava em lágrimas e cheia de medo do que lhes poderia acontecer. Uma senhora de 60 e muitos anos, que trabalhou a vida inteira e sempre defendeu o seu país (sim, aquele SEU PAÍS que fez com ela não visse os seus 5 netos a crescer e vivesse sozinha com o meu avô já há cerca de 15 anos) lavada em lágrimas a contar coisas absolutamente HORRENDAS daquilo que se passa na Ucrânia.  Apenas para contextualizar, devo dizer que os meus avós vivem na zona intitulada pelo seu próprio governo de "rebeldes e terroristas pró russos". O RELATO QUE SE SEGUE É ABSOLUTAMENTE LIVRE DE QUALQUER OPINIÃO POLÍTICA E CENSURA JORNALÍSTICA. É APENAS AQUILO QUE AS PESSOAS DA ZONA "BARBARA" DA UCRÂNIA VIVEM TODOS OS DIAS.

Os meus avós, de 60 e muitos anos, hoje em dia, NÃO PODEM:
- Levantar dinheiro ou transferir as suas poupanças para qualquer conta fora da Ucrânia apenas porque o banco central ucraniano não permite tal "ofensa".
- Descansar sossegados a noite porque têm medo que lhe caia uma bomba em cima que são lançadas sobre a população da zona "rebelde" dos aviões do "exército" ucraniano.
- Vir visitar-nos ou simplesmente sair da zona onde vivem porque o "exército defensor do povo ucraniano" não permite tal barbaridade! Mesmo os autocarros com crianças que pediram corredores humanitários para tirar os menores das "zonas de guerra" foram parados e um deles foi obrigado pelo "EXERCITO AMIGO DO SEU POVO" a regressar para a zona onde se lançam bombas do ar apenas porque sim.

Os meus avós, de 60 e muitos anos, DEVEM:
- Telefonar todos os dias a todos os seus familiares para garantir que todos estão vivos, porque as pessoas e CRIANÇAS levam tiros do "exército" apenas porque vivem na "zona rebelde".
- Devem ficar em casa e rezar para que não lhes entre ninguém em casa a disparar, porém pode lhe cair uma bomba em cima...

Os meus avós, de 60 e muitos anos, CONTAM:
- Que "exército" entra em hospitais e mata TODOS os feridos, UM A UM, para garantir o medo e a obediência da população. 
- Que morrem crianças todos os dias com balas "perdidas". 
- Que os pais dos jovens que são recrutados para o "exército" deitam-se à frente dos autocarros que os vêm buscar, para não os deixar ir.
- Que morrem jovens a andar na rua. Morrem velhotes. Morrem mães e pais. Morre a minha esperança.

As pessoas não querem guerra, as pessoas não querem pertencer à Rússia, as pessoas apenas querem continuar a viver as suas vidas em paz e foram apanhados no meio de um jogo político que vai custar a vida a muitas pessoas..."

A adolescência

A adolescência é uma criatura invisível que nos rouba os putos e nos devolve uns parvalhões, em troca.
Odeio-te, adolescência, ficas a saber.
E, sim, já sei que ainda estás só a começar a mostrar do que és capaz. Já sei que podes muito mais do que isto. E também sei que, quando estiver a levantar-me do roubo de um filho (e a sentir que ele começa lentamente a ser devolvido), vais sacar-me outro. E outro. E, se tudo correr bem, ainda outro.
Não vou mentir: não me sinto preparada. Estou exausta, hoje, por tua causa. Mas vou tratar de me preparar, minha grande nojenta.

Adolescência - 1; eu - 0

(mas o jogo está só a começar)