A minha mãe fez um sorriso que era uma coisa a meio caminho entre um sorriso e uma síncope. Nunca escondeu que não queria que nos metêssemos noutra, mas também sei que o que a movia contra mais procriação era o medo. Sim, porque se eu sou medrosa e tenho macaquinhos no sótão, a minha mãe tem todo um Jardim Zoológico! Basicamente ela morre de medo que o meu útero rebente como uma castanha (já fiz 3 cesarianas, esta será a quarta) e ainda que lhe diga que o MÉDICO me tranquilizou muito a esse respeito, ela não consegue deixar de me imaginar a rebentar pelas costuras (literalmente) e a morrer de morte macaca. Por outro lado, também tem medo que fique viúva com 4 crianças (o Ricardo é saudável mas na cabeça de mamãe todo o cenário dantesco é possível), ou que fiquemos ambos sem trabalho e acabemos a pedir no Metro (não é por acaso que as crianças andam a aprender a tocar guitarra).
Os meus sogros ficaram a olhar para nós como se um bando de aliens lhes tivessem aterrado na sala. Ela a rir mas de nervos. Ele a perguntar "Mas isso é assim? É à dúzia?"
O meu pai e boadrasta fizeram uma festa mas, nos momentos seguintes, ele olhava para mim como se eu não tivesse os parafusos todos. Os três putos a fazerem um chinfrim danado e ele a abanar a cabeça como que a dizer "E ainda vem lá mais um…MEDO!"
De resto, nisto das reacções, meus amigos, posso dizer-vos que tem sido um fartote. A maior parte das pessoas dá três passos atrás, arqueia o sobrolho, tapa a boca e guincha uma das seguintes frases, mais ou menos por esta ordem:
- Estão a brincar!
- Não é possível!
-
Gandas malucos!!!
- Quatro???? Quatro??? Vocês não são bons da cabeça!
- Mais um????
- Que horror! [juro]
- Ai, valha-me Deus!
- A sério? Parabéns! Que coragem… [o que a pessoa queria mesmo dizer era: "que anormais…"]
Também tivemos o caso de uns primos que nem se levantaram. Nem "parabéns", nem "que horror", nem "gandas malucos". Nada. À pergunta do Martim: "já sabem que a mãe está grávida?" responderam um"sim, já sabemos…" com um ar grave seguido de um "é preciso é que haja saúde". E ponto final parágrafo. Afinal, à quarta vez já não há cá motivo para festejos. Toda a expressão corporal era de profundo pesar.
Uma querida tia disse a coisa mais divertida de todas:
- Antes isso que uma doença!
A frase, assim retirada do contexto, ainda tem mais graça. Mas a verdade é que ela lê o blogue e estava muito preocupada com o meu enigmático silêncio e tristeza. Temia que uma doença me consumisse a existência. Por isso, quando finalmente soube a razão, só lhe ocorreu aquela exclamação de alívio. Eu ri-me durante uma meia hora (e às vezes ainda me rio ao relembrar a frase).
Algumas pessoas perguntaram como reagiu a D. Emília. Reagiu bem, deu beijinhos e abraços e parecia mesmo contente. Acho que depois da facada que foi o cão, mais puto menos puto… dá-lhe igual.
Talvez a pessoa mais emotiva (tirando a minha irmã e cunhado, a Cristina, a
Inês e mais alguns amigos muitá fortes, já para não falar do vosso próprio entusiasmo, leitores fofinhos) foi uma farmacêutica da farmácia aqui do bairro. Eu não assisti mas o Ricardo disse que ela só faltou saltar-lhe ao pescoço de lagrimas nos olhos: "ai estou tão feliz, ai que notícia tão boa!" Quando ele me contou foi a minha vez de ficar emocionada. É que já quase ninguém se põe propriamente aos pulos quando se fala no quarto filho. E uma pessoa sente falta (se bem que é muito divertido assistir às reacções de horror).