Tal como tínhamos feito aquando da Madalena, juntámos o granel todo na nossa cama e dissemos que queríamos fazer um comunicado oficial. Eles ficaram com aquelas carinhas entre o entusiasmo e o pânico, tipo "o que será que estes dois grandes malucos vão inventar agora?"
Começámos por perguntar se teriam, porventura, reparado que a mãe andava enjoada. E o Manel, com a adolescência a ferver-lhe nas veias, atirou um insolente: "Isso está sempre!" (tão fofinho). Depois riu-se. Até que, num laivo de consciência, perguntou incrédulo: "Estás grávida?" Quando disse que sim, saltaram todos para cima de mim numa histeria desenfreada e em urros de alegria. Teria até graça mostrar esse momento se o filme tivesse ficado gravado no telemóvel (mas, infelizmente, o telefone estava tão cheio que o filme não vingou).
O Manel sempre quis ter uma família grande. Sempre. Dizia que queria ter 7 irmãos, às vezes mais. E quando o Martim, primeiro irmão, chegou, ele nunca teve qualquer laivo de ciúme, insegurança ou receio. Pelo contrário. Ficou muito feliz e desde o primeiro minuto e sempre lhe pegou com um cuidado paternal de homenzinho em miniatura, muito ufano da sua missão de irmão mais velho.
Depois, quando veio a Madalena, o Manel voltou a rejubilar. Já o Martim já não ficou assim tão contente. Sentiu-se de tal modo triste que, logo durante a gravidez, deixou de me chamar a mim sempre que precisava de alguma coisa. "Trocaste-me por outra? Então eu troco-te também".
Quando a Mada nasceu, ele sofreu um bocado até compreender que o seu lugar na família continuava intacto. Que continuávamos a amá-lo da mesmíssima maneira, talvez até mais porque o sentíamos assim fragilizado. E, quando ela lhe sorriu pela primeira vez, apaixonou-se. Até hoje. Têm os dois uma daquelas relações mágicas que espero durem para sempre.
Agora a família volta a reorganizar-se. A reestruturar-se para acolher um novo irmão, um novo filho.
O Manel está, como seria de esperar, muito feliz. O Martim, que já sabe que não é pela chegada de mais um que perde importância e amor, está exultante e conta a toda a gente. A Madalena também mas não deixa de frisar a sua clara preferência por uma irmã. De resto, aqui há dias perguntou:
- Então, já decidiram se é menino ou menina?!
Quando lhe explicámos que não éramos nós a decidir, ficou preocupada. Garante que gostará do mano, se vier mano, mas não esconde que a Maria do Mar é que a faria mesmo feliz. A ver vamos, Madazinha. A ver vamos...