Lembram-se de ter dito que, no início do mês, estranhei não ter sido publicado o meu texto habitual de uma rubrica que tinha há quase três anos num jornal, e que, depois de ter enviado 2 emails a perguntar o que se passava, fiquei a saber que… a rubrica tinha chegado ao fim? Nada contra uma rubrica chegar ao fim, claro está, é o que mais sucede nesta vida (afinal, como diz o provérbio alemão, "tudo tem um fim, só a salsicha tem dois"), mas saber disso sem aviso prévio, depois de se ter feito uma entrevista e de se estar à espera que o texto saísse, como habitualmente, sem saber o que dizer aos entrevistados… isso, sim, foi novo e - tenho de o dizer - muito desagradável.
Mas quem tem bons entrevistados tem tudo. Quando lhes expliquei o sucedido e a razão pela qual não iriam sair na rubrica do jornal em causa, ficaram em choque. Disseram que não faziam ideia que era possível tratar assim as pessoas, que eu não tinha que lhes pedir desculpa, que se precisasse de alguma coisa era só dizer. Enfim, acho que se condoeram do chuto no real traseiro que levei, assim à má fila.
O que eu não esperava era que me ligassem, a combinar um encontro, para me trazerem o "menino dos seus olhos", o Eco Gumelo. Uns queridos, em suma. Os miúdos vão adorar!
Sabem o que é isto? São futuros cogumelos, que nascerão de borras de café. Ou seja, criar este cogumelo é transformar o que era desperdício num alimento de alto valor nutritivo.
Como se faz? Basta abrir e vaporizar para começar a cultivar. Alguns dias depois surgem os primeiros cogumelos, que crescem da noite para o dia. Requer apenas 1 minuto de atenção diária.
E depois? Depois de colhidos, os cogumelos podem ser cozinhados frescos ou guardados no frigorífico por alguns dias. Como não têm aditivos nem conservantes, são um produto biológico e gourmet genuíno.
Aproveito para deixar o texto que ia sair na minha rubrica defunta, sobre estes senhores.
Gumelo
Três amigos, borrasde café e cogumelos. Não parece, mas é uma empresa portuguesa, sustentável ecom muito para crescer
Tudo começou com João Cavaleiro. Biólogo de profissão, entãoa trabalhar num laboratório de controlo de qualidade, sempre revelou interessepela micologia em geral e pelos cogumelos em particular. «Um dia tive acesso aestudos sobre a produção de cogumelos a partir de substrato de café e fiqueifascinado porque eu próprio já tinha feito experiências de produção decogumelos a partir de palha, de casca de arroz... E comecei a fazer pequenosensaios.»
Daí até se fazer luz na sua cabeça foi um instante. E secriasse um negócio de produção de cogumelos, a partir das borras do café?«Portugal é um país que consome muito café, aqui em Almeirim há imensosrestaurantes da típica Sopa da Pedra, que servem imensos cafés por dia... e seeu lhes pedisse que me fornecessem as borras? E assim foi.»
Hão-de ter achado que era maluco, aquele rapaz que apareciasempre para levar as borras do café, e para que não achassem que estava mesmodesvairado de todo, nem sequer explicava que dali iam nascer cogumelos. Masiam, e nasceram, e foi então que João pediu ajuda ao seu amigo Tiago Marques,formado em Design de Comunicação. «Fiquei fascinado! Fazer uma caixa com borrasde café que desse cogumelos e comercializá-la? Assim, em 2010 começámos odesenvolvimento da marca, os ensaios da embalagem, e a comunicação do produto.»
E são quatro as principais valências deste produto, a quechamaram Eco Gumelo (a empresa chama-se Gumelo): para começar, e como o próprio nome indica, é ecológico.Pega na borra do café, que é um desperdício, e transforma-a num alimento. Alémdisso, é um produto que permite uma experiência fácil e divertida; é gourmet enão tem conservantes (permite que se comam cogumelos frescos e acabados decolher) e, por último, é saudável e uma boa alternativa a outros alimentosricos em proteína, como a carne, o que só pode ser boa notícia, num país comtantos casos de doenças cardiovasculares.
Por fim, juntou-se aos dois amigos um terceiro amigo deinfância, Rui Apolinário. Formado em Ciências Farmacêuticas mas apaixonado pornúmeros, dedicou-se à contabilidade, à gestão de organização e logística deprocessamento da empresa. Os três amigos procuraram financiamento junto deBusiness Angels mas não tiveram sorte: «Um dos problemas que eles levantavamera a recolha das borras e os custos inerentes. Mas nós queríamos mesmo sersustentáveis e produzir a partir do desperdício – esse era um conceito de baseque não queríamos mudar. Fomos teimosos e preferimos não ter financiamento e continuarmos fiéis aos nossos princípios.»
Recorreram a poupanças próprias e levaram a ideia para afrente. Hoje, o Eco Gumelo está à venda em 35 lojas gourmet e mercearias finas denorte a sul do país e já está a começar a expansão além fronteiras. E há maisideias a nascer. Tudo a partir de borras de café, fungos comestíveis e umaamizade que virou empresa (
http://pt.gumelo.com).