Quem me conhece sabe que sempre quis ter cães. Desde pequenina. Era um cão e um irmão (ou irmã). À minha mãe, como vivia sozinha, não pedia um irmão mas pedi, anos a fio, um cão. À minha boadrasta, como vivia com o meu pai, pedia em primeiro lugar um irmão e, se não pudesse ser, um cão.
Acabei por ganhar os dois. Aos 11 anos nasceu a minha adorada irmã, Adriana, presente da boadrasta e do pai. Aos 14 ou 15 (não me lembro bem), a minha mãe deixou-me ter uma cadela pela qual tive uma paixão à primeira vista, e a quem chamei Crepe.
Quando a Crepe ficou doente e teve de ser abatida, o Ricardo tinha acabado de entrar na minha vida. Ele viu como fiquei arrasada. A Crepe acompanhou-me durante toda a adolescência, era a minha grande companheira e permitia-me, até, as saídas à rua que por vezes a minha mãe travava. Era a minha cúmplice. A minha grande amiga.
Depois dela, não pensei em mais cães. Estava noutra fase. Casei, tive o Manel, tive o Martim, tive a Madalena. A vontade de ter cães continuou cá, mas escondida, até porque o Ricardo nunca teve cão nem sequer grande desejo de ter um. Sempre que a minha mãe nos pede para ficar com a cadela dela, ele gosta, brinca, vai à rua, mas há sempre um limite de confiança que não deixa ultrapassar. E é um bocado enojadinho com as patas sujas e o rabo e as lambidelas os cheiros e não sei quê. Por isso, achei sempre que a luta por um cão era uma luta perdida.
Depois comecei a ganhar aliados. Aqui em casa todos queriam ter um cão, principalmente o Martim. O Ricardo era o único que punha água na fervura. Ou talvez devesse dizer que punha gelo na fervura. Fomos esmorecendo. De vez em quando falávamos no assunto mas ele rapidamente chutava para canto. Até que… a
Dora pôs no facebook e no
blogue as fotos de uma ninhada de cães, filhos da sua rafeira Bela. A Bela, que é meia podenga, ter-se-á perdido de amores por um pseudo-perdigueiro preto que invadiu a quinta onde vive, em Santo Tirso. E pumbas. Engravidou. E assim nasceram seis cachorros lindos e rijos, vira-latas cheios de saúde e vitalidade, que ela estava a oferecer. Eu vi aquilo e senti como que uma pancada na cabeça. Enviei a foto ao Ricardo e ele respondeu: "Manda vir todos". O que ele foi fazer… Claro que era ironia, mas nunca mais o larguei.
Houve um cachorro, em particular, que mexeu logo comigo. Como aconteceu com a Crepe. Foi paixão à primeira vista. Chamava-se Meia de Leite (nome provisório que a Dora lhe pôs). Ela não facilitou, dizendo "este cão nasceu para ti". Não sei bem o que ela queria dizer com aquilo mas pela descrição que fez dele no seu blogue soou-me a elogio:
"O Meia de Leite (pela cor, claro) é tão delicioso que nem sei por onde começar. Tem estes olhos vivos e atentos e é sempre, sempre o primeiro a alcançar-me quando vou ter com eles. É um vivaço, cheio de personalidade e foi o primeiro a ladrar, aos 5 dias, quando os outros ainda só se arrastavam entre a mama e as sonecas."E pronto. Começou a guerra. Os miúdos a pedir, o Martim a implorar. Eu a perceber que o Ricardo cedia, muito devagarinho. Ambos temos a certeza que um cão será excelente para os miúdos, sobretudo para o Martim, que é o filho mais ligado aos bichos, mais sensível. E pronto. No sábado de manhã veio o sim, via SMS, enquanto estava no jogo do Martim. Um "sim" seguido de um palavrão, como quem diz: ESTOU FARTO DISTO, DESISTO, GANHARAM!
Reservámos o Meia de Leite mas… no domingo a Dora enviou-me um email, toda preocupada, a dizer que o Meia de Leite era, afinal…. uma cadela. Ora, a minha mãe tem uma cadela pouco amiga de canídeos do mesmo sexo. E nós não queremos zangas na família. Por isso, aprendi rapidamente a apaixonar-me por este fofo aqui em baixo:
E já o baptizámos. Para não destoar, teria de ser um nome começado por "M".A Dora já lhe tinha dado um nome provisório, por acaso, também começado por "M" (Misto) mas nós já tínhamos outro em mente. E então ficou Mojito (que a malta cá de casa, entre uma meia de leite, um misto, e um mojito opta mais pelo último… só por causa da hortelã!)