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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Estar aqui cansa

Estar aqui cansa. É brutal, intenso, um permanente desafio para os sentidos. Os cheiros, os sons, os paladares, o impacto visual, o toque das coisas. Estar aqui cansa. Sobretudo quando se é mulher. Hoje, andei por Jaipur sem casaco, só com uma camisola normal (mas relativamente justa). Foi o suficiente. Os olhares dos homens são verdadeiramente perturbadores. Uma amiga já me tinha dito mas, sinceramente, nunca pensei que pudesse ser assim. É de tal modo aflitivo que, mesmo no meio de centenas de pessoas, uma pessoa pode sentir que vai ser atacada. Creio que não passa de impressão, até porque não temos arriscado nada - sempre que num mercado, as ruas vão estreitando e as mulheres rareando, damos sempre meia-volta (não é por nada mas a violação em grupo - ou individual - não está nos meus planos). Assim, depois do almoço, e apesar do calor, vesti o meu casaco e andei com ele. Os olhares mudaram completamente. Antes o calor.
Estar aqui cansa. Mas é um cansaço bom.
O simples acto de atravessar uma estrada cansa. O corpo endurece, os sentidos voltam a apurar-se, há um medo que não é exagerado porque a quantidade de veículos e animais que se cruzam connosco (vindos de todas as partes) podem facilmente atingir-nos.
A informação que o nosso precioso guia nos vai passando cansa. Porque é tanta coisa, tão diferente de tudo o que conhecemos. O Maendra é um rapaz estudioso, lê todos os livros sobre o seu país, aprendeu inglês e espanhol e quer sempre aprender mais. Perguntamos-lhe tudo. Sobre as castas, sobre a morte, sobre os deuses, sobre o casamento, sobre homossexualidade e prostituição. Ele gosta, vê-se no seu sorriso e na forma como descreve todas as coisas que queremos saber. Vê-se que delira com o nosso encantamento. Em breve faço um post a contar tudo o que tenho aprendido (ou aprofundado) com ele.
Estou encantada. Bêbeda de tudo isto. Hoje à tarde tive de dizer ao Ricardo que já não aguentava mais. Tinha uma overdose de Índia e precisava de ir processá-la para um lugar calmo. Voltámos ao hotel, bebemos um chá no jardim do hotel, e estive a escrever imenso sobre tudo o que aprendi hoje.
Estar aqui cansa. Mas é um daqueles cansaços que dá gosto ter.



"Welcome", diz o autocarro completamente apinhado. No thanks, apetece dizer. 




Esta vaca atravessou duas faixas e eu tive a certeza absoluta que ela ia morrer ali. Era impossível que não morresse. Passou por toda a sorte de veículos com rodas, que lhe passaram rente ao corpo esqueléctico, e surpreendentemente… safou-se! Para mim isto é um mistério.

Atentem no detalhe da foto: um homem a dormir no separador da estrada. Com carros e Tuc Tucs e riquexós e vacas, camelos, e sei lá o que mais, a passarem-lhe tangentes. Espero bem que o homem tenha um daqueles sonos tranquilos e que não se mexa absolutamente nada... 
A pobreza não poupa nem as vacas que, apesar de sagradas, são magras como cadáveres
  
Comemos uma chamuça na rua. Apesar de nos terem dito para não comermos na rua… não deu para resistir. O Maendra ficou com uma cara apavorada e repetia que era demasiado picante para nós. E era. Mas perfeita. Só de falar nisso já tenho vontade de lá voltar…(talvez amanhã, quando estiver a falecer com dores de barriga, já não diga o mesmo)




Jaipur: Forte Amer, Observatório, Palácio da Cidade, Palácio do Vento

Tantas coisas para vos dizer, tantas.
Acordámos às 6.30, tomámos banho, vestimos roupa nova (aaaah, alívio!), tomámos o pequeno-almoço e fomos para o Forte Amer, situado em Amber, a 11 quilómetros de Jaipur. Amber era a capital do estado do Rajastão, antes de Jaipur. O forte foi construído em 1592 pelo Marajá (ou Rajá) Man Singh I, em rocha e mármore e o lago Maotha dá-lhe um charme especial.
Subimos em elefante. Eu confesso que estava sem grande vontade. Acho que é uma daquelas coisas para a turistada bastante dispensável (por um lado), um inferno para os pobres bichos (por outro lado), e um problema para quem tem algumas vertigens (por fim). Mas, claro, quando dei por mim já lá estava, que aqui acontece tudo muito depressa.











Aqui dentro visitámos um templo (que não se podia fotografar), onde estavam alguns hindus em oração. Uma das coisas curiosas que eles faziam era colar migalhas de pão em todas as várias cabeças da deusa da sua adoração. Todos saíam com um risco na testa, sinal de meditação, protecção e respeito.
Também ficámos a saber a história de Ganesh. O deus Shiva e Parvati casaram e ela engravidou. Logo a seguir ele partiu para a floresta, para meditar, sem saber que ia ser pai. Entretanto, nasceu Ganesh. Um dia, já Ganesh era um rapazinho, a mãe pediu-lhe para ficar a tomar conta da porta de casa e não deixar ninguém entrar (a fechadura estava estragada) porque ia tomar banho. Ganesh assim fez. Nesse momento, chegou a casa (ao fim de vários anos), Shiva. Sem saber quem era aquele rapazinho, Shiva tentou entrar em casa. O menino disse-lhe que não podia porque a sua mãe estava a tomar banho e tinha impedido qualquer pessoa de entrar. Furioso, e sem saber que aquele era o seu filho, Shiva cortou-lhe a cabeça. Os gritos da criança assustaram a mãe, que veio a correr. Quando o viu sem cabeça, a pobre mulher ficou desesperada. Então, Shiva ordenou aos soldados que fossem buscar uma cabeça para que ele pudesse fazer renascer o filho. Trouxeram-lhe uma cabeça de elefante. E assim ficou o deus Ganesh, menino com tromba e orelhas de elefante.
O Ganesh é um deus que dá sorte. Antes de comprar uma casa, um carro ou qualquer outra coisa, os indianos compram uma imagem ou estatueta de Ganesh para lá pôr.




Vimos o Palácio da Água, que está fechado. O governo quer aceitar as ofertas de algumas cadeias hoteleiras mas o caso está em tribunal porque, dessa forma, os indianos deixarão de ter acesso ao palácio.



A seguir fomos ao Observatório. Há muitos observatórios no mundo mas o Jantar Mantar é considerado um dos maiores alguma vez construídos. O marajá Jai Singh II, o fundador da cidade cor-de-rosa (como é chamada Jaipur), era um grande estudioso e incrível astrónomo. Estudou filosofia, astrologia, arquitectura e religião em várias escolas. No ano de 1718, quis construir um observatório de renome. E, não contente em construir um, mandou erguer cinco por toda a Índia. Hoje, só o de Jaipur (que é o maior do país) está aberto. Tem vários instrumentos que precisam a hora e os minutos, a altura do sol, a posição das constelações e outros fenómenos. Uma dessas construções é o maior relógio de sol do mundo, o Samrat Yantra (em baixo).



Eu e o meu signo, assinalado no Observatório (bem como todos os outros, está bom de ver)

Depois, seguimos para o Palácio da Cidade e para o Palácio do Vento (assim chamado porque foi feito todo aos buraquinhos, para deixar passar o ar e, assim, refrescar nos dias de calor tórrido - Jaipur pode tranquilamente chegar aos 48ºC).