A Fernanda, como sempre nestas matérias, a ser precisa, concisa e clara.
Sobretudo neste parágrafo:
«Entendamo-nos: as crianças em causa na lei da coadoção nunca vão ter "um pai e uma mãe". Têm duas mães ou dois pais e tê-los-ão sempre - quer a lei lhos reconheça ou não. Não está em causa decidir com quem essas crianças vivem, quem vai educá-las e amá-las e quem elas vão amar. Essa decisão não nos pertence. A nossa opção é entre aceitar e proteger essas famílias ou rejeitá--las e persegui-las. Entre dizer a essas crianças "a tua família é tão boa como as outras" ou "a tua família não presta". Referende-se então isso: "Tem tanto horror aos homossexuais que deseja que a sociedade portuguesa decida em referendo discriminar os filhos deles ou acha que a lei portuguesa deve deixar, o mais depressa possível, de fingir que essas crianças não existem e o Parlamento lhes deve garantir os direitos que lhes faltam?"»
A questão é essa: as crianças que já vivem com dois pais ou duas mães, mas que foram adoptados apenas por um (porque a lei não permite a coadopção) vão continuar a viver com dois pais ou duas mães, quer a lei permita ou não. A questão mais pungente de todas, para além de outras questões que se prendem com a igualdade propriamente dita, é que se o pai ou mãe "legal" morre, o outro pai ou mãe não tem qualquer direito sobre aquela criança, apesar dela lhe chamar mãe ou pai, apesar de se amarem, apesar de poderem ter vivido, até então, debaixo do mesmo tecto. E essa criança pode acabar por ir parar a uma instituição, em vez de ficar com aquela pessoa a quem chama mãe ou pai, e que ama e reconhece como tal. Se não entendem isto, então julgo que não entendem coisa alguma.