Hoje vamos para Aveiro. Amanhã tenho uma reportagem por lá, bem cedinho, de maneira que arrancamos já hoje. Aproveitamos e vamos à festa de São Gonçalinho, que dura todo o fim-de-semana. O ponto alto é atirar cavacas de uma janela e pedir desejos (calma… diz que há sempre gente cá em baixo para as apanhar, não é para desperdiçar comida. Estou até a pensar atirar cavacas e pôr os putos cá em baixo a catarem-nas de volta mas depois tenho medo que, com a batota, os desejos não se realizem). Tenho muitos desejos (sou um bocado garganeira) mas há uns que vou pedir de olhos fechados e com muita força (a fingir que acredito que o santo os possa concretizar). Como a minha irmã tem uma amiga lá em casa a passar o fim-de-semana, preferimos não ficar por lá. Fica demasiado confuso, até para mim. Em vez de um hotel, escolhemos um apartamento na
Homelidays (que já tínhamos usado quando fomos à Madeira e correu lindamente).
Deixei de pensar em terramotos (hummm, deixar deixar não deixei mas serenei um pouco) mas hoje sonhei que tinha cancro (INTERNEM-ME!). Acho que esta é a forma que o meu corpo tem de me dizer que estou a trabalhar um bocadito a mais que a conta - ele é terramotos, ele é doenças ameaçadoras, tudo a minha cabeça inventa para que me dê conta da necessidade de não andar neste desassossego. O meu cancro era no pâncreas e, basicamente, estava frita. Acordei com uma dor de cabeça imensa e não fui correr. Tenho de ir à tarde, nem que esteja a deitar massa cinzenta pelos ouvidos, até porque pôr o animal a mexer ajuda a dissipar pensamentos esquisitos. E o meu treinador (sim, agora tenho um treinador, é para que vejam as coisas que acontecem às pessoas) ficaria muito desiludido comigo se falhasse o prometido, logo à primeira.
O meu telemóvel estava todo partido, à frente e atrás (coitado, é uma vítima da minha velocidade furiosa e passa a vida estatelado no chão), e ontem fomos ter com um rapaz que já o tinha arranjado uma vez. Vidro da frente novo, vidro de trás novo e até parece que o bicho acabou de sair da loja. O rapaz vai ficar rico, quase de certeza, porque enquanto arranjou o meu aparelho esteve sempre ao telefone, a agendar outros arranjos, e a coisa não fica propriamente barata. Pelo meio ainda recebia pedidos de explicações. Entristeceu-me ouvi-lo dizer que mal acabe o curso vai ter de emigrar, porque cá não tem hipótese. E dou por mim a pensar em que vida será a minha, se os meus três filhos tiverem de sair daqui para poderem ter uma vida digna, e se todos forem para países diferentes. Que vida será a minha, sempre de coração partido, com os meus três filhos a fazerem família noutras partes do mundo e nós aqui, sempre a correr para mendigar um abraço e a chorar nos aeroportos. Às vezes penso que o melhor que tinha a fazer era sair já daqui, fazer vida num país que lhes desse perspectivas e, assim, ao menos estávamos juntos, agora e depois.
E pronto. Lá vou eu. Acabar uma reportagem. E depois continuar com a saga do livro (sim, sim, parece a obra de Santa Engrácia, tudo para que fique mesmo bom - olha aí a pretensão, Morais Santos! - , um livro não se escreve em dois dias, é coisa chatinha que leva tempo).