Do leite frio a ser vertido para uma chávena de chá quente, do efeito que logo ali nasce. Como se fosse uma explosão, uma bomba, um cogumelo nuclear inofensivo. Só leite frio e chá quente. Dois opostos que se misturam, que se fundem e que se transformam em algo novo.
Nancy Borowick é uma fotógrafa americana freelancer a quem aconteceu o improvável: a mãe e o pai estão a lutar contra o cancro, em simultâneo. A mãe (Laurel) luta contra um cancro de mama e o pai (Howie) contra um cancro do pâncreas. A história repete-se, de resto. A mãe de Howie morreu de cancro da mama, tal como agora o mesmo tipo de cancro lhe está a matar a mulher. E - arrepiante coincidência - o pai de Laurel tinha morrido com... um cancro de pâncreas, o mesmo tipo de cancro que lhe está a levar o marido. Nancy e o namorado, Kyle, queriam casar na Primavera de 2014 mas, para ela, havia um ponto assente: queria ser levada ao altar pelos pais. Os médicos aconselharam-na, então, a antecipar a data. Os pais podiam não resistir até 2014. E foi assim que os noivos casaram agora, dia 5 de Outubro. Nancy cumpriu o seu sonho. Os pais também. No entretanto, a filha decidiu acompanhar fotograficamente os pais, na sua caminhada, juntos, contra a doença. Estas são algumas imagens, terrivelmente belas, desta história que infelizmente não vai ter um final feliz.
Le Petit Prince é um trabalho do fotógrafo esloveno Matej Pelijhan, que retrata um menino de 12 anos, chamado Luka, a fazer coisas que ele adoraria fazer na vida real mas que não pode, por ter uma distrofia muscular que se vai agravando progressivamente. Apesar de, na vida real, Luka só poder fazer movimentos com os dedos para operar a sua cadeira de rodas eléctrica e desenhar, nesse projecto fotográfico ele pode ver-se a mergulhar, a andar de skate e até a fazer o pino. Assim, e ainda que só na fantasia dos dois, Luka pôde ser um miúdo como os outros.
Eu tinha saudades dela. Não sabia que tinha porque, sempre que alguém me desaparece, seja por que razão for, acciono um plano de emergência interno que implica desligar toda a parte emocional e ficar fria como um bloco de gelo. Pode até ser um bloco falso. Por dentro (lá muuuuuuito no fundo) até posso estar ferida e triste, mas a verdade é que vivo sem o sentir. Costumo dizer que é como se puxasse o manípulo de um disjuntor fabril enorme e tudo cá dentro se desligasse. Puff. Apagou. Mas agora que ela voltou à minha vida percebo que sentia a sua falta. Fico tão contente quando vejo que me enviou uma mensagem, quando falamos, quando estamos juntas, quase como se nada tivesse acontecido. A minha madrasta foi uma pessoa muito importante no meu crescimento. Muito importante mesmo. Não me esqueço - nunca me esqueci - que era ela que me aturava em muitos fins-de-semana que ia para o meu pai. Não me esqueço da paciência que tinha para as conversas dos namorados, das amigas, disto e daquilo. Ela era mais nova, quase uma "igual" e, não sendo minha mãe, não tinha aquele julgamento moral que as mães têm para com os filhos. Ela compreendia-me e aconselhava-me, sem dar sermões. Era fixe. Tínhamos uma cumplicidade. Gostava de me deitar na cama dela, sempre que estávamos as duas sozinhas à noite. De folhearmos juntas a Máxima ou a Elle e imaginarmos que comprávamos mooooontes de modelitos, que assinalávamos metodicamente com círculos encarnados. As agendas dela, todas escritas, rabiscadas, com papéis lá dentro, setas, frases, poemas, bilhetes, contas... as agendas dela exerciam um fascínio em mim. Tão grande que hoje as minhas agendas são um bocadinho assim. Quando a minha irmã nasceu, nunca me senti posta de lado, nunca. A minha madrasta fazia-me sentir útil, importante, pedia-me ajuda para cuidar dela, soube fazer as coisas. E sempre que íamos a qualquer lado, ela dizia: "A minha mais nova e a minha mais velha". E eu, não sendo filha dela (e tendo a minha mãe bem segura no seu lugar, na minha vida), sentia-me feliz com aquela inclusão. Não era "a minha filha e a minha enteada", como na expressão "uns são filhos, os outros são enteados". Não. Nunca foi assim. E eu agradeço-lhe muito essa generosidade, esse amor. Eu tinha saudades dela. Não sabia que tinha (ou sabia, lá no fundo de mim). Mas agora sei, bem à superfície da pele e também cá no fundo. Ainda bem que, agora que sei, já a tenho por cá outra vez.
Ah! Mas atenção! Conheço casos em que a mudança de vida não foi por cérebro frito ou simples crise de meia idade. Foi por pura infelicidade na vida anterior. E por coragem de cortar com o que não corria bem (é preciso coragem para se ser feliz, o que pensam?). E por querer encontrar a felicidade. Num desses casos que conheço (e que não meteu roupas jovens nem atitudes palermas de adolescentes tardios), o amor pela nova mulher é tão evidente, tão flagrante, a felicidade é tão brutal que não restam dúvidas sobre o que tinha e o que agora tem, e o benefício (para todos) dessa mudança.
Pronto. Só para não pensarem que defendo que os homens devem penar ao lado de uma megera que lhes faz a vida negra (ou simplesmente cinzenta). Era só o que faltava!
É inequívoco e devia haver estudos sobre isto. Já aqui escrevi sobre o assunto e os meus amigos sabem que é um tema que me fascina. Não acontece com todos os homens e é uma verdade de La Palisse que todas as generalizações são estúpidas e perigosas. Mas, neste caso em concreto, é um fenómeno que acontece a muitos homens. Chegam ali aos 40/45, 50 anos no máximo, e fritam. O tico e o teco entram claramente em curto circuito e eles não aguentam a pressão. Sentem que a vida lhes escapa por entre os dedos, que a mulher com quem casaram já está um bocado gasta, miram de novo e concluem que está mesmo muito gasta, constatam que os filhos estão criados, que eles próprios estão gordos e velhos e verificam que, não tarda, estão com os pés para a cova. Apavoram-se. Angustiam-se. Estremecem. E é então que, muitos, dão à sola. Uns de um dia para o outro; outros devagarinho. Começam a fazer exercício. A ter uma preocupação diferente com a imagem. Há os que compram um carro desportivo. E os que sacam a secretária. Ou a cabeleireira. Ou a vizinha platinada do 5º F. Depois... bom, depois dá-se início a uma nova vida. E é aqui que me farto de rir. Homens que sempre foram irritantemente clássicos, de fato e gravata, apostando nos seguros azuis e cinzentos, aborrecidos de morte, tornam-se de repente uns grandes malucos. E é vê-los de calças verdes, pólos cor-de-rosa, alpercatas às riscas, colares e pulseiras de couro. Com écharpes, camisas por fora das calças e abertas até quase ao umbigo. Quem os conhecia pode até passar por eles na rua, sem os reconhecer. Na verdade, são outros homens. Têm, geralmente, uma mulher nova ao lado. Muito mais nova. O curioso é que, em muitos casos também, repetem o modelo de que se fartaram. Voltam a casar, têm bebés novos... e acabam a fazer a mesma vida que antes faziam, que é, na verdade, a vida normal. Podem mudar de roupa, de corpo, de mulher, de filhos. Mas a vida, a vidinha que é às vezes chata, às vezes difícil, às vezes enfadonha... essa acaba por não ser assim tão diferente, ao fim de algum tempo. Acabam na mesma velhos, a ver envelhecer a mulher nova que têm ao lado, a criar os filhos, a cansar-se das t-shirts com frases divertidas. Um dia, talvez acordem a achar que aquela que ali está também já está gasta e ainda tenham força para recomeçar, de novo. Ou então sossegam. Que a crise da meia idade também dá uma trabalheira dos diabos.
Isto foi só para dizer: Ricardo, já chegaste aos 40, andas a correr... e eu estou de olho em ti!
Acabo de descobrir que existem estendais eléctricos. Se calhar já existem desde o tempo da Pedra Lascada mas eu, então, vivo na idade das Trevas. Um estendal eléctrico? Que me seca a roupa mais depressa, no Inverno, quando chove cães e gatos lá fora? Um estendal que apressa o processo de secagem, impedindo que a roupa fique com aquele cheiro a mofo, de ter estado para ali molhada não sei quanto tempo? Aaaaah, quero! Para quem, como eu, desconhecia... vende-se AQUI.
Ontem quando cheguei a casa, o Martim tinha um bracinho no ar. Estava magoado de uma queda e contou o sucedido detalhadamente. Quando terminou indaguei: - E os trabalhos, já fizeste? - Não! Não consigo, mãe! Com a mão assim... - Eeeerrrrr... mas a mão aleijada é a esquerda. Tu escreves com a direita. - Sim. Mas como é que consigo segurar na folha??
Respirei fundo um pouco. - Queres ver - outra vez - o filme da senhora que não tem braços e que faz a sua vida, tal como nós? - ... Não, mãe. [envergonhado e cabisbaixo] Vou buscar os trabalhos.
Hoje fiz 12 km. Não ia motivada, tinha sono, aos 5 km apetecia-me parar e começar a andar (ou a chorar). Mas o Billy Idol ajudou-me. Rebel Yell, Shock to the System, Dancing with Myself e Mony Mony devem ser das músicas melhores para correr. Aquilo é que foi dar-lhe gás. Às tantas, estuguei o passo e pensei: se for assim mais calminha talvez consiga passar a barreira dos 10 km. Nunca corri mais do que isso e acho que está na altura. E assim foi. Cheguei aos 12 e estou contente. A questão da superação, na corrida, é mesmo incrível. Orgulhosa de mim, mestra Ana Caldas Lopes? :)