Estava na dentista, com o Martim. Ele deitado, de boca aberta. E, de repente, o meu telefone tocou. No visor apareceu um nome. Um nome de cujo telefonema esperava há um mês, mais coisa menos coisa. E então também eu fiquei de boca aberta. Tive aquela pontada seca no peito, que antecede uma notícia por que se aguarda. Olhei para a doutora Filipa e pensei pedir-lhe um bocadinho de anestesia. Dali podiam vir boas ou más notícias. Anestesiada podia custar-me menos, se fossem más. Não eram. Eram boas. O novo ano que se avizinha não começa mal. Começa com muito trabalho, com desafios constantes. Mas começa bem. E, assim, pela primeira vez na minha vida fiquei feliz e contente no consultório de um dentista.
E não, não é por gostar menos dos meus outros dois filhos que não faço uma rubrica «Bom dia, Manel» e outra «Bom dia, Martim». É só porque não tinha graça.
Tanto presente para comprar... e tão pouco tempo. E tanta coisa para fazer. E o Ministério da Administração Interna a enviar-me um postal de Boas Festas, para ir levantar na estação de correios mais próxima - deve estar um belo presente lá à minha espera. Ai, e tanto texto, e tanta entrevista, e a surpresa da noite de Natal que estamos a preparar ainda tão atrasada... e eu que gostava de viver esta época em pleno, sem ter de pensar em mais nada. Não tarda passou tudo e eu nem pude apreciar. Como sempre, aliás. Tudo passa, e uma pessoa mal se dá conta.
O despertador desperta na TSF mas acho que vou passar a programar um daqueles toques irritantes de sirene, que sempre é melhor do que acordar sempre com palavras como «crise», «falência», «desemprego», «assalto», «carjacking», «cortes», etc. Hoje foi mais um dia em que acordei como se tivesse tido um pesadelo. O rádio ligou-se aos gritos, à hora certa, e a minha palavra do dia foi «FMI». A primeira palavra de um dia inteiro cheio de palavras. Fiquei sentada na cama, estremunhada e em pânico: «O que é? O que foi? Vêm aí outra vez? O país acabou? Faliu? Fazemos as malas? Hã?»