- Viste o cartão da avó, Mada? Um cartão igual a este? - Sim. - E onde puseste? - No quarto do Manel... Começa a busca no quarto. - Em que sítio? - Aqui. - diz, apontando para a secretária. Continua a busca. Nada. - Mada, não encontramos... onde está o cartão da avó? - Aqui, aqui! - diz, apontando para os gavetões de brinquedos. - ...
Comecei o dia devagar. Mole e quentinha, a fazer ronha na cama, com o meu homem e os três miúdos. Beijinhos e abracinhos, namoro bom. O corpo a entrar pela cama dentro, contente e espantado do sossego. Levantámo-nos todos, mas sem correr. Sem pressas. Sem stress. Até que a minha mãe assomou no terraço, a pedir a chave do carro e os documentos dela (O Ricardo rompeu dois pneus, levou o meu carro e eu pedi o da minha mãe emprestado). Tinha posto tudo na mesa. Mas... a carta de condução dela não estava lá. E eu sabia que ela também tinha vindo, no pacote. Comecei à procura da carta, primeiro devagar, depois depressa, e a seguir em pânico. O Ricardo virou o sofá, eu virei as gavetas dos quartos deles, fui ao lixo, aos brinquedos, às prateleiras dos livros. O Martim garante que viu a carta da avó no quarto dele. A Madalena também diz que mexeu na carta mas não sabe onde a pôs. Conclusão? Foi-se. Poderei ter sido eu a perdê-la mas podia jurar que a vi em cima da mesa, ontem, junta com o resto. Cheira-me a coisa de pequena Madalena, sempre encantada com as carteiras e malas e tudo o que não é seu. E, assim, comecei mais um dia carregadinha de nervos. E, assim, ganhei mais um novo afazer para amanhã de manhã: ir à Loja do Cidadão tratar de uma segunda via da carta de condução da minha mãe. Que foi querida e me emprestou o carro. E lixou-se. Mais uma vez comprova-se o provérbio: «Quem empresta não melhora». :(