O novo programa da Maya exerce um magnetismo esquisito em mim. Eu começo a ver aquilo e fico grudada, como se ela fosse o tocador de flauta e eu a serpente. É incrível a forma peremptória como a taróloga diz às pessoas coisas como: - Não tem que se preocupar, a cirurgia vai correr lindamente! ou - O seu marido já não tem qualquer sentimento por si, minha querida, por isso é seguir em frente. ou - Pode ficar descansada que a sua filha vai passar nos exames. ou - Esteja tranquila, o homem com quem iniciou esta relação é bem intencionado.
Ora bem. E se a cirurgia corre mal e a senhora fica a babar? E se o marido da outra a ama de paixão e ela o manda para as urtigas, porque a Maya disse? E se a filha da outra chumba? E se o fulano que a mulher arranjou é um bandalho do piorio? E se, de repente, toda uma audiência televisiva se puser à porta do estúdio, com vidas falhadas por culpa da bruxa que garantiu uma coisa que, afinal, era outra? Eu sei que as pessoas são crescidinhas e acreditam no que querem acreditar. Mas dá-me medo. Tanta certeza sobre a vida e sobre o futuro dá-me medo. E, ainda assim, ali fico, em frente ao ecrã, boquiaberta e sem me mexer. E, já agora, amor: a Maya diz que os Peixes vão ter um dia do cacete. Assim mesmo espectacular. Aproveita. Se ela diz...