Há bocado, no trânsito, um homem decidiu parar na minha faixa de rodagem, à minha frente, porque quis, naquele preciso momento, mudar de faixa. E, como a fila do lado não andava e ele não se conseguia meter, ali ficou, a alminha, a impedir-me o caminho. Eu, que estava atrasada para ir entrevistar a Luísa Sobral (um amor, além da voz maravilhosa, é um amor!), ali fiquei, à espera que a alma me desamparasse a loja. A minha faixa completamente livre e aquela aventesma ali, nem para trás nem para a frente, parado simplesmente. Passou um bocado e eu perdi a paciência: buzinei. O fulano esbracejou e, quando finalmente alguém o deixou entrar, eu passei. E quando passo, ele grita:
- Vai para casa!
Ora bem. Aquele energúmeno atravanca o trânsito a seu bel prazer, porque em vez de se ter posto na faixa desejada antecipadamente, esperou pelo momento exacto em que tinha de virar à direita para mudar de faixa. Ali fica parado uma eternidade, criando uma fila gigante atrás de mim. E eu é que tenho de ir para casa? Porquê? Por ser mulher, ter a carta de condução, um carro, e ainda ousar buzinar a uma criatura com pilinha? Eu às vezes esqueço-me mas ainda há por aí muito homo sapiens à solta. Ai há, há.