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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Sábado

Ontem fui à depilação e quando voltei a casa trazia mais duas crianças pela mão. O Ricardo ficou a mirar-me à porta, estupefacto. Mas a minha depiladora, que tem uma vida terrível (muito mais que terrível), estava mais desesperada que nunca. O marido, que era suposto ter ficado com dois dos seus três filhos, não tinha dormido em casa (mais uma vez), e ela não tinha com quem deixar as crianças. Levou-as para o cabeleireiro, mas estava preocupada com a paciência da patroa. E a mim estava a dar-me dó aquelas duas alminhas ali, obrigadas a ficarem quietas, sem terem nada para fazer. Perguntei-lhe se as podia levar para casa. Ela não queria dar trabalho, eu jurei que não davam trabalho, e pronto, levei-os (um rapaz de 7 e uma menina de 4). O Ricardo diz que é melhor nunca irmos a África ou à Índia, porque acha que aí vou trazer charters de crianças para casa.
Depois do almoço acabámos por levar os dois irmãos connosco para a praia. Eles raramente vão à praia, acho que nunca andaram de carro, têm uma vida dura mas mesmo dura. O menino é de uma educação irrepreensível, ajudou a levar o seu prato para o lava loiça, perguntou se podia ajudar mais, sempre a pedir «por favor», sempre a dizer «obrigado», um doce como nunca vi. Ela também é uma linda, que não dá trabalho nenhum.
Os nossos amigos levaram dois dos nossos no carro, para nós levarmos os dois extras.
Na praia foi difícil contá-los a todos, e passei o tempo em sobressalto com medo que faltasse algum. Além disso estava vento e acabámos por não ficar muito tempo. O pior foi o regresso. A menina começou de vomitar dentro do carro e estávamos em plena via rápida, sem nada para amparar tanto vomitado. Encostámos assim que pudemos e limpámos o possível com toalhas de praia. Mas era tanto! Tanto, tanto! Feijões verdes inteiros do almoço, iogurte de morango da praia, mais gelado e sumo e eu sei lá o que mais. A pobrezinha estava branca como a cal. Chegámos a casa, dei banho aos dois manos, os meus ficaram a tomar conta da Madalena, o Ricardo foi lavar o carro.
O pior foi quando os fui levar a casa, que não queriam ir. O meu coração apertou-se. «Mas a vossa mamã gosta muito de vocês e fica triste se não vão. Um dia destes voltam a passar o dia connosco, sim?» Eles assentiram. Mas iam tristes. Porque eles amam a mãe, claro, mas sabem que a vida, ali, é dura para caramba. Mesmo dura. E não deve ser fácil ter uma lambidela de felicidade e de vida tranquila para depois voltar para a vida de todos os dias, onde faltam muitas coisas e, infelizmente, sobram outras. A mãe abraçou-me, a chorar. A vida é tão injusta e desequilibrada.
Conclusão? Saí de lá lavada em lágrimas e aprendi que não posso ser daquelas «madrinhas» que vão buscar crianças a instituições para passar um fim-de-semana de 15 em 15 dias ou de mês a mês. Não posso mesmo. Porque me afecta, porque me amachuca o coração, porque me perturba à séria. E porque ia querer adoptar todas as crianças que viessem passar o fim-de-semana.