Portugal, para a Moodys, é lixo. Nada mais, nada menos. Eu, que nem sou assim muito patriótica (gosto disto mas não ando sempre com uma bandeira na mão), senti-me assim um bocado... lixada. Vai daí que uma amiga, a Inês, teve uma excelente ideia: e que tal dizermos aos senhores da Moodys que lixo é assim a mãezinha deles? Se tiverem vontade, força aí: RatingsDesk@moodys.com
Passo a noite sem fazer chichi. Mesmo que esteja aflita, não me levanto, com medo de encontrar alguma. Nunca me aconteceu tal encontro - provavelmente já não estaria aqui a escrever - mas só a possibilidade impede-me de ir à casa de banho de noite. Como não quero acordar o Ricardo, para ir comigo (já basta acordá-lo quando a Madalena chora), não vou, pronto. Conclusão: por causa da fobia das baratas ainda fico com a bexiga do tamanho da de uma vaca.
Não tenho trazido o assunto à prosa porque me afecta até às entranhas. Mas a verdade, nua e crua, é que o baratame voltou. Não cá a casa, para já e graças às janelinhas todas fechadas, mas às ruas, às paredes dos prédios, às garagens, a todo o lado, em suma. A coisa está preta. São as chamadas baratas americanas, ruivas e com mais de 10 cm cada uma, juro por tudo. Já enviámos um email para a Parque Expo e já vi homens a desinfestarem as sarjetas, os esgotos, os cantos. Também já estiveram cá no prédio os senhores da Trulynolen a esguicharem veneno nas garagens e nas escadas e nas portas dos apartamentos. E a minha vida está, basicamente, um inferno. Porque a minha fobia está pior que nunca e chegou ao cúmulo de não sair de casa. Não consigo sair sem ser acompanhada. Não consigo entrar sozinha. É triste ser uma mulher independente, mãe de três criaturas, activa, e depois ter um handicap destes, que me impede de me deslocar, como uma pessoa normal. Não consigo. Por mais que pense que são bichos muito mais pequenos que eu, por mais que pense em todas as coisas que me dizem sempre para pensar, não consigo. Arrepio-me, julgo que morro, tenho ataques de pânico só de pensar que vou vislumbrar uma, largo num choro histérico... enfim. Uma tristeza. Ontem, saí de casa para correr e ia tão distraída que nem me lembrei os bichos. Pumbas. Mal saí a porta, vi uma morta. Gritei e fiquei paralisada. O Ricardo abriu a porta: - Gritaste? - Gri-gri-gritei. Ele já sabia. Saiu, levou-me até à porta da rua, onde estava outra, também morta. Novos arrepios e gritos e quase choro. Saí. Fui a correr sempre a olhar para o chão, parvinha de todo. Quando cheguei à minha rua, vi uma enorme na parede de um dos prédios. Dei um salto para o meio da estrada e só não fui atropelada porque não calhou. Pedi ao Ricardo que viesse à porta do prédio, buscar-me. Nisto, olhei para dentro do prédio, no tecto, e lá estava uma gigantona daquelas. Ia morrendo. Apontei, sem falar. Ele deu-me um berro, que passasse depressa que ele já a ia matar. Assim foi. Há coisa de uns 10 minutos, foi a vez da dona Emília exterminar uma, no meu terraço. E vocês não imaginam o que significa para mim ter aparecido uma no terraço. Era o sítio por onde eu saía de casa, galgando o muro. Agora... agora estou mesmo refém, aqui dentro de casa, sem conseguir sair sozinha, nem pela frente, nem por trás.
Só quem tem uma fobia sabe o que é esta sensação. De uma pessoa se sentir racionalmente idiota por ter medo, mas não conseguir ultrapassá-lo de forma nenhuma. Dava tudo para me libertar disto.
Ontem, depois dos afazeres profissionais e domésticos, lá fui eu correr. Corri 10 km mas fiz um tempo péssimo: 1 hora e 9 minutos. É a vida. Num dia difícil do mês fica mais complicado correr, parece que tenho o mundo às costas. No final senti-me bem durante 1 hora e picos. Depois, lá voltou o enjoo, lá voltei a ficar branca como a cal, lá tive de me deitar quietinha para não vomitar. Amanhã vou ao médico de clínica geral, a ver se faço um check-up completo. Afinal de contas, pus-me a correr 10 km sem saber se o meu coração aguentava ou não. É bom que aguente. Agora que descobri um desporto que me dá gozo e que me vicia... era porreiro se o pudesse praticar.