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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Angelina

Estou a trabalhar na sala e a televisão está acesa. Tenho auscultadores nos ouvidos e os Goldfrapp embalam-me as palavras. Nem olho para o écrã. Quer dizer, não olhava. Até começar um filme com a Angelina Jolie e o Brad Pitt. E a porra, agora, é que dou por mim boquiaberta a olhar para aquela mulher linda. Nem sequer é para ele, que também é um belo pedaço de mau caminho. É mesmo para ela. Eu não sou lésbica mas, honestamente, esta senhora era bem capaz de me fazer mudar de ideias. Não admira que a Jennifer Aniston tenha ido à vida, depois deste filme. Um homem não é de ferro.

Hoje

Hoje era o dia em que acabava a minha licença de maternidade.
Hoje era o dia em que voltava ao trabalho, à Time Out, para o meu posto de editora executiva.
Hoje devia estar com o estômago embrulhado, pelo regresso à rotina fora de casa, a oito, dez, doze horas longe de casa e dos meus filhos.
Hoje estaria com má cara, com maus fígados, com muita vontade de chorar por me afastar o dia inteiro da minha Madalena, tão bebé.

Mas...
Há dois meses fui conversar com os meus chefes e expliquei que queria mudar de vida. Que queria ser freelancer. Poder gerir o meu tempo, poder acumular trabalhos para vários sítios, poder ficar na minha casa a escrever, sair para fazer entrevistas e reportagens e depois regressar a casa.
O telefonema que ajudou a mudar a minha vida aconteceu há dois meses e tal, e foi quando o director de programas da Antena 1, Rui Pêgo, me ligou a dizer que um dos cinco programas de rádio que lhe propus ia mesmo para a frente. Foi esse telefonema que me ajudou a tomar a decisão de ser freelancer. A melhor decisão da minha vida.

Isto ainda pode tudo correr mal mas, até ver, está a correr maravilhosamente. Tenho encomendas de trabalho até mais não, proponho muita coisa e tenho tido bom feedback, e estou na minha casinha. Sempre que a Madalena está mais chata, a minha mãe vem buscá-la ou eu levo-a lá, que ela mora mesmo no prédio em frente. Tenho podido ir todas as semanas almoçar com os meus rapazes, uma semana um, outra semana outro, para lhes dar espaço enquanto indivíduos. Tenho-os ido buscar às 18.00 ou 18.30, e depois dedico-lhes tempo, coisa que há muito não acontecia.

Estar fechada tantas horas num sítio começava a ser-me difícil, doloroso. Sempre fui bicho com pouco pousio nas redacções, a minha matéria-prima está na rua, não dentro de uma assoalhada com jornalistas, telefones e computadores. Falta-me o ar.

Gosto muito da Time Out, vou continuar a ser colaboradora e a assinar a revista, deixei lá algumas pessoas de quem gosto muito. Mas, até ver (reparem que sou cautelosa e deixo sempre aberta a possibilidade de tudo correr mal) foi a melhor decisão da minha vida.

Anabela, minha querida: tinhas tanta, tanta razão. Obrigada pela insistência. Obrigada por não teres desistido de me convencer.

É tão raro dizer-se isto que até faz confusão. E dá medo (parece que quando estamos bem e o dizemos aos sete ventos, vem um raio e leva-nos tudo). Mas eu estou muito, mas mesmo muito feliz.

Adoro

O novo anúncio do Lidl. São famílias que levam a mesa de Natal até ao trabalho daqueles que não podem ter um Natal como gostariam: Hospitais, bombeiros, portageiros, condutor do metro... É lindo, lindo. Se eu estivesse grávida, chorava.

A diversidade do mundo

Na sexta-feira entrevistei um moço tão vegano, tão vegano, que não se senta à mesma mesa com pessoas que "comem cadáveres". Eu, distraída, pedi um iogurte, e ele olhou-me com reprovação, explicando depois que as pobres vacas são engravidadas só para produzirem leite, que os seus filhos são-lhes retirados para fazerem vitela, e que depois lhes estimulam a produção de leite até ao infinito, com todos os sofrimentos e mal-estar inerentes. Eu, ignorante, fiquei com o iogurte na garganta, preso, o sacana não descia nem à força.
Isto foi na sexta.
No sábado fui a um casamento em que, a certa altura, apagaram as luzes, puseram uma música triunfal e entrou um porco numa liteira carregada por dois homens, e o bicho tinha cravadas umas tochas a arder, e no final houve pessoas a aplaudir e a fazer "Yeah!"

É fabulosa a diversidade. Fabulosa.

Já passaram três meses...

... e o Tim continua a chorar sempre que vai para o colégio. Já tivemos não sei quantas reuniões com a coordenadora, duas com a educadora, e todas dizem que o Martim está felicíssimo na escola, que só chora na despedida, que gosta de nos arrasar os nervos porque assim que viramos costas pula e salta e ri alarvemente.
O que eu sei é que isto dá cabo de nós. O que eu não sei é quanto tempo é que eu devo considerar normal este choro desesperante. Mudo-o de escola? E se faz o mesmo? Mudo-o de professora? Ele diz que não quer!
Temos feito de tudo: vou buscá-los à escola uma vez por semana, vou almoçar uma semana com um, outra semana com o outro, para que tenham o seu momento enquanto indivíduos e não apenas membros de um rebanho louco. Aturo birras, ofereço Gormitis, dragões, brinco, deito-me ao seu lado à noite, encharco-o de beijinhos, enalteço-o, tão crescido que estás, tanto que me ajudas, que bom que já não és bebé, os bebés só choram e dormem, e tu, tão lindo, tão grande, tanta companhia que me fazes. E no fim... parece que nada do que fazemos chega. Nada do que façamos parece compensar a dor que ele sente.
Cheira-me que este miúdo vai dar-me muito que fazer.
Se ele soubesse o quanto gosto dele, se ele soubesse que nem mais 150 irmãos podiam beliscar o quanto gosto dele... mas não sabe. E eu continuo a esforçar-me, todos os dias, para lho mostrar.

À Espera

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Faz hoje 4 anos que tive um dos meus melhores momentos profissionais sem, no entanto, estar a trabalhar. Faz hoje 4 anos que estreou uma peça de teatro feita com base numa reportagem minha e a experiência foi extraordinária. Ouvir e ver actores representar as minhas palavras foi absolutamente mágico, sobretudo porque nunca me tinha passado pela cabeça tal ideia.
A Peça À Espera teve encenação de Bruno Baptista e proporcionou-me mais prazer que qualquer prémio de jornalismo que já ganhei. Foi mágico.
Obrigada ao Bruno Baptista e às Ideias do Levante, que até me chamaram ao palco e deram flores e fizeram com que me sentisse uma estrela naquela noite chuvosa. Faz hoje 4 anos. Onde é que vocês andam?

Bem-vindas

Queridas Rita e Joana:
A vossa mãe espera-vos há sete anos.
Não foram nove meses. Foram sete anos.
A vossa mãe acreditou, deixou de acreditar, ganhou coragem e forças e perdeu-as e reencontrou-as e desanimou, e das últimas vezes que a vi estava tão triste que temi que baixasse os braços e se deixasse vencer pela amargura. Das últimas vezes que a vi parecia-me baça, magoada, murcha por dentro e por fora. Como uma flor fora de tempo.
Eu, não sei porquê, acreditei sempre. Não achava possível tamanha injustiça. A vossa mãe nasceu para ser mãe. Uma coisa que lhe vinha das entranhas. Era demasiado cruel que lhe tivesse vedada a vocação. Ainda que, todos saibamos, essa crueldade exista para com muitas outras mulheres igualmente mães por natureza, sem que a natureza corresponda.
A verdade é que vocês nasceram. Ontem. Dia maravilhoso e tão esperado. A verdade é que estão pousadas no colo da vossa mãe, que há sete anos vos esperava. Façam-me o favor de serem felizes, de encherem a vossa mãe e o vosso pai de mimos, de lhes darem todas as alegrias que conseguirem. Não é preciso muito, acreditem. Eles serão felizes só por vos verem existir.
Bem-vindas, Rita e Joana. Aqui a tia Cocó já gosta muito de vocês.
Parabéns, minha querida Elsa. O meu coração transborda de contentamento.

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