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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Nós, os cinco

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Dou de mamar de três em três horas e sinto-me uma vaquinha. A minha filha, às vezes, acaba de encher o bandulho e, cheia como uma bola, começa a mamar-me nos dedos, no pescoço, na cara. Como se já se tivesse esquecido que acabou de comer. É por isso que a rebaptizámos de Dori, a peixinha do Nemo que se esquecia de tudo.
A Dori seria o bebé perfeito se não fossem as cólicas. Às vezes a barriga fica dura como uma pedra e a miúda entra em histeria. Mas eu não me importo muito, desde que continue a dormir 5 e 6 horas de noite, para depois acordar num gemido, mamar e tornar a dormir. Linda, Dori. Linda.
Os manos tiveram diferentes reacções à irmã, como se esperava. O Manel está louco por ela, beija-a e revira os olhos; o Martim... o Martim foi mais complicado.
Na noite em que a Madalena nasceu, a avó e os tios levaram-nos ao hospital. O Manel apaixonadíssimo pela bebé. O Martim em histeria. Não era preciso ser psicólogo para ver como estava descompensado: falava alto, trepava à cama, à mesa, dizia parvoíces, recusava-se a chegar perto daquela coisa minúscula, e nem olhava nos meus olhos. A família entreolhava-se, aterrada com tão exuberante reacção. Nos primeiros dias foi doloroso ver como sofria, o meu reguila. Demorou a dar-lhe uma festinha, demorou um pouco mais a dar-lhe um beijinho, demorou pouco a dar-lhe o primeiro murro na cabeça. Foi preciso esperar e dar-lhe muita atenção, processo que continua. A minha amiga Anabela contou, de resto, uma história maravilhosa. Um casal estava a contar ao pediatra como o filho mais velho estava a reagir mal ao nascimento do irmão. O casal não entendia, afinal tinham preparado tudo tão bem... O pediatra disse uma coisa genial. Virando-se para a mãe, explicou: "Imagine que o seu marido chega a casa e diz: Querida, a partir de agora vem cá para casa uma rapariga mais nova. Continuo a gostar muito de ti, mas pronto. Ela vem e temos de ser muito queridos com ela'. Está a imaginar? Pois bem, é exactamente isso que o seu filho sente." É ou não é perfeita, esta comparação? :)
Não é fácil gerir isto tudo. Nas três semanas em que o pai ficou comigo em casa (bendita nova lei da parentalidade!!!), fomos buscar os rapazes várias vezes ao colégio, e o Martim gostou de mostrar a irmã aos amigos. Numa das vezes, decidimos levá-los ao Funcenter. E se a vida já me mostrou (vezes e vezes sem conta) como não devemos julgar os outros sem saber exactamente como as coisas são, naquele dia tive mais uma prova disso mesmo. Se eu tivesse visto um casal com um bebé com 3 semanas no carrinho, dentro do Funcenter, teria provavelmente pensado o pior. "Que gente maluca, esta". Mas a verdade é que aquele bocadinho no Funcenter foi super importante, sobretudo quando me meti na montanha russa com o Martim, eu que ODEIO montanhas russas e afins, para lhe mostrar que, apesar do nascimento da irmã, eu continuo a ser a mãe fixolas que o acompanha nas cenas dele. Fui o tempo todo de olhos fechados, a fingir que estava muito divertida, mortificada pela bicharoca que dormia no carrinho lá em baixo, apesar do barulho e do mau ambiente, eu a sentir uma súbita hemorragia que me apavorou (o que é que esperava, toda costuradinha, a pegar nos putos ao colo e a enfiar-me em montanhas russas?), mas a verdade é que ele saiu do Funcenter e deu-me a mão, coisa que não fazia espontaneamente desde que a irmã tinha nascido, e à noite quis que ficasse deitada ao lado dele, um bocadinho, antes de adormecer.
Agora, o Tim já dá beijinhos à irmã, e festinhas, e vai sempre à procura dela. Claro que há momentos em que se nota que, se pudesse, o Martim apertava a irmã com mais força que a desejável. Mas, enfim, é um processo. Um processo lixado sobretudo para mim, porque é comigo que o Tim está zangado, e é por isso que tento ao máximo brincar, correr, dar banho à bebé a horas em que eles possam ajudar para lhes gabar o jeito e a ajuda, ir buscar à escola, dar festinhas e elogiar imenso. Não é fácil gerir isto tudo. Sobretudo desde ontem, que o pai Ricardo voltou ao trabalho. Mas que somos uma família divertida, lá isso somos.

E ainda...

Obrigada à Cuf Descobertas, que emendou a mão a tempo, reparou a injustiça de deixar uns assistir às cesarianas, deixando outros (não VIP) de fora. Assim como vim aqui mostrar a desfaçatez com que permitiram que o Filipe Gaidão assistisse à cesariana da Karen ex-Jardel ao mesmo tempo que me fechavam a porta por email, também devo agora dizer que foram rápidos a reconhecer o erro e a dar a todos a mesma oportunidade.
Para mim e para o pai foi um momento único, ver a gominha sair da toca. À terceira foi de vez. Obrigada, Cuf Descobertas. Não só por mim, mas por todos os pais.

Um médico na trouxa da cegonha

Eu até podia não ter tido a ideia de fazer um programa de rádio em que acompanhasse uma grávida desde o início da gravidez até ao fim.
Eu até podia ter tido a ideia e não ter encontrado uma rádio que achasse graça e quisesse avançar com o programa.
Eu até podia ter feito o programa na Antena 1 (onde fiz), ele até se podia chamar A Viagem da Cegonha (como chamou), mas podia não ter sido a Ana Rodrigues a grávida que acompanhei. Ou podia ela ter escolhido outro obstetra.
Eu até podia não ter engravidado três meses depois de ter começado a fazer o programa.
Eu até podia ter engravidado e continuado com o meu obstetra de sempre, não fora ele ter-me desiludido cinco vezes em pouco tempo.
Eu podia ter procurado outro médico mas, depois das entrevistas que fiz ao médico da Ana, para o programa de rádio, senti-me próxima o suficiente para lhe ligar com dúvidas e sustos. E ele, claro, solícito e impecável como é, disse que me via, aconselhou-me, ligou no dia seguinte a perguntar como estava.

Se não tivesse valido a pena por mais nada (e valeu, valeu muito a pena por tudo e mais alguma coisa), o programa A Viagem da Cegonha teria valido a pena pelo Dr. Fernando Cirurgião, médico como já não existe outro, trazido na trouxa da cegonha juntamente com uma amiga nova, uma "sobrinha" linda e até uma filha feita por embalo de um programa sobre gravidez.

Que médico é este? Passo a explicar:
Ele seria capaz de acalmar a mais neurótica das neuróticas em crise. Fala devagar, baixo sem ser em surdina, e porém com firmeza. Ele dá segurança e a gente tem a certeza que sabe exactamente do que fala.
Ele parece não ter mais nenhuma consulta depois da nossa e quando nos recebe parece que fomos os primeiros a chegar. E no entanto, não é impossível ser recebido às três da madrugada, tendo as consultas começado logo às nove da manhã. Às vezes, sai do consultório para um parto, volta, segue para um banco no hospital, e continua com um duche de intervalo, como se não precisasse de dormir. E sempre com a mesma serenidade e um sorriso para cada mulher que chega.
Ele sabe ouvir e percebe. Explica o que pode acontecer sem nunca nos alarmar ou sem se deixar cair em alarmismos. Ele defende o parto natural e, no meu caso, foi o único a dizer que sendo difícil não era impossível tentar. E quando me encontrou no bloco operatório, antes da cesariana que teve de ser feita, olhou-me com uma pena sentida. Eu sei que ele estava genuinamente triste por mim, naquele momento.
Ele preocupa-se, ele telefona a saber como estamos, ele está sempre disponível.
As enfermeiras da Cuf disseram que ele era "tão querido", o pediatra dos meus filhos sublinhou que eu estava "em muito boas mãos" quando lhe disse que tinha mudado de obstetra, e basta fazer uma pesquisa no Google para ver como há bandos de mulheres gratas para todo o sempre.

A Viagem da Cegonha podia não ter valido a pena por mais nada. Porque ter encontrado um médico assim já seria recompensa mais que suficiente. Obrigada, Dr. Fernando. Do fundo do coração.