Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Que bicho é que lhe mordeu?

O meu priminho Miguel tem 9 anos está internado há uma semana. Ninguém sabe o que ele tem. Já lhe fizeram todo o tipo de análises e exames. Parece que tem um vírus, uma bactéria, uma merda qualquer, alojada algures. Fazem culturas, repetem, estudam. Põem a hipótese de ter sido um bicho que lhe mordeu. Um bicho entre a chinchila e o esquilo que os pais, depois de um verdadeiro massacre dos miúdos, compraram. O animalzito ferrou o miúdo, num dia em que ele o puxou, para que não se fosse enfiar debaixo de um móvel lá de casa. A minha prima, pelo sim pelo não, já o devolveu à loja. Hoje fui dar com ela na cafetaria do hospital, as lágrimas gordas nos olhos, prestes a desabar. "O pior é a dúvida... esta coisa de ninguém saber o que é que ele tem..."
Pois, faço ideia. Há coisas que não é preciso a gente sentir na pele para sentir na alma. Rápidas melhoras, Miguel. Vai correr tudo bem, malta.

E no entanto... eu.

Mas a verdade, a verdade mesmo é que eu não tenho legimitmidade para me queixar de ninguém. Ontem disseram-me coisas certeiras. Que tinham, justamente, que ver com a falta de tempo e a indiferença para com as pessoas. Para com uma pessoa muito importante, ainda por cima. Não há nada pior do que termos de dar razão a quem nos aponta o dedo. Não há nada pior do que termos que nos ver com a nossa consciência pesada. Não há nada pior do que percebermos que, afinal, não somos assim tão boas pessoas como tínhamos pensado que éramos.

30 semanas

id="BLOGGER_PHOTO_ID_5249975266807241506" />
Cresci ao lado de uma amiga. Conheço-a desde que ela nasceu (é três anos mais nova que eu). Os nossos pais são amigos de juventude. Fomos amigas tão próximas, tão próximas que jurávamos que era para sempre. Quando casei, convidei-a para ser minha madrinha. Ela foi. Depois, o tempo fez merda. Nós fizemos merda. Afastámo-nos devagarinho. E depois depressa. Ela um dia casou. Convidou-me para o casamento, mas não para madrinha, já não fazia sentido. Ficamos longas temporadas sem nos telefonar. Longas. Hoje ela ligou-me. Ah, tenho andado para te ligar, nem imaginas, isto a vida, realmente. Mas que hoje tinha ouvido o meu nome na rádio e que, por isso, ligava então, finalmente. E que tinha tido uma gravidez que tinha corrido mal, um ovo branco que se foi, pouco depois de ter sido festejado como um filho. Uma coisa chata, um desgosto grande. Ah, vê tu bem? Então e não ligavas, eu aqui sem saber de nada. E ela que pois, realmente, mas nem imaginas, isto a vida... E então, subitamente, revela que está novamente grávida, desta vez já passou tempo suficiente para contar, e tal e coisa, e coisa e tal. E eu contente, Parabéns!, e ela obrigada e o trabalho e mais não sei quê, e de repente lembro-me de lhe perguntar de quanto tempo está grávida, e ela responde a resposta que me deixou assim, incrédula, até agora. 30 semanas.
30 semanas.
A minha amiga de infância, com quem partilhei tantas coisas, que escolhi para ser minha madrinha de casamento, conta-me que está grávida às 30 semanas. Sete meses e meio. Diz que é um rapaz, que se chama Miguel.
E eu não disse mais nada. Só parabéns e silêncio.
Há coisas que eu não entendo. Mas que me enchem de tristeza.