Incursão no mundo dos meus gajos
Hoje fui com os meus rapazes ao futebol. O meu Manel estava tão feliz, tão excitado... A sua mamie no universo dos gajos (leia-se, ele, o pai, o irmão e o avô)! Aquilo era claramente o território deles e eu uma privilegiada pelo convite.
Gosto que eles tenham as suas coisas, o pai e eles. Gosto de ter outras, que são só nossas, minhas e deles. E depois há as que são dos quatro. E ainda as outras (que alguns medíocres criticam, como se ter filhos devesse ser um sacerdócio de carmelita descalça), as do casal, que só nós dois vivemos e partilhamos, algumas vezes longe deles, num espaço e num tempo que é - saudavelmente - só nosso.
No futebol, o pai disse "porra" e o Manel pôs a mão na boca, estarrecido com a "asneira". Então, lembrei-me do meu amigo Augusto Brázio. Ele combinou com o filho poderem dizer palavrões quando fossem ao futebol. Como se o futebol fosse uma espécie de país com as suas próprias leis, onde ninguém fosse penalizado por quebrar as regras que existem fora dele. E então lá iam, os dois, e era uma festa de alhos e bugalhos, uma catarse louca entre pai e filho. Tudo o que ali se dissesse, dali não saía. Cá fora, os dois rapazes voltavam à contenção de sempre, aos limites da boa educação e do civismo.
Achei isto tão bonito que decidi copiar. E então, pisquei o olho ao Ricardo, e disse ao Manel: "No futebol podes dizer 'porra'. Mas só no futebol..." E os olhos dele brilharam e o riso soltou-se e disse 'porra' mais duas ou três vezes, sempre gargalhando como se proferisse a palavra mais proibida do mundo.
Foi bom ir ao mundo dos meus rapazes. Todos de verde a cantar "Uma curva belíssima, uma equipa fantástica, és a nossa fé, força sporting alé". Obrigada pelo convite. Qualquer dia destes volto. A ver se, então, o 'porra' se mantém como única palavra feia ou se já o acompanham outras primas, muito mais agrestes que ela.