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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Crónica de uma tristeza anunciada

Nunca mais postei porque tenho tido umas férias perfeitas, sem tempo para me alongar em palavras, que não sejam as dos outros, lidas com paixão. Gonçalo M. Tavares e Aprender a Rezar na Era da Técnica; Philip Roth e o seu Património; Mário de Carvalho e Era Bom que Trocássemos Umas Ideias Sobre o Assunto.
Agora, que as férias estão a acabar e eu deprimo devagarinho, não posto nada mais além disto porque me sinto capaz de cortar os pulsos com a ideia de regresso. Vou ficar assim, silenciosa e quietinha, a rezar para que o Euromilhões amanhã me termine com as angústias, ou então que o tempo e as suas conhecidas propriedades curativas me sarem esta melancolia desgraçada e inútil, tão parva quando comparada com desgraças diversas que agora não vêm para o caso. Adeus aos que gostam do cocó. Aos outros, o meu respeitável desdém.

Um avião para ti




Faz hoje 10 anos que começámos a namorar, tu e eu. Tu abordaste-me no elevador do Diário de Notícias. Tinhas-me visto na noite anterior, bastante embalada com caipirinhas, numa festa do DN na Expo 98. Tinhas-me topado e disseste, num jeito engatatão: "Já vi que gostas muito de caipirinhas. Se quiseres levo-te ao sítio que tem as melhores caipirinhas de Lisboa." Pensei: que lata. Quem é este caramelo? E respondi, evasiva: "Sim, um dia destes, talvez". Insististe. Mas eu andava numa vida louca, muita borga, namorados vários, festas, noites. Depois da tua insistência, assenti. Combinámos para uma noite. Mas nessa noite surgiu-me um encontro importante. Expliquei que não podia, afinal. Ficaste desapontado, mas não desististe. E recombinámos. Nesse permeio, comecei a pensar em ti. De cada vez que te encontrava no elevador do DN ou nas escadas, sorria com mais gosto. "Tem um sorriso bonito", disse à Maria João Caetano. E, no dia 17 de Agosto de 1998, fomos jantar. E depois levaste-me ao sítio com as "melhores" caipirinhas de Lisboa. E, à saída, espetaste-me um beijo na boca, que selou o princípio desta viagem, muito mais longa do que podia (podíamos) imaginar nessa noite.

Foi há 10 anos, isto.

E então, para comemorar, marquei com a empresa Aero Algarve, que um daqueles aviões com faixas publicitárias iria hoje passar na praia onde estávamos. Com uma mensagem para ti. Estava tudo marcado há uns dois meses, e eu estava uma pilha de nervos. O senhor piloto foi espectacular, e passou umas cinco ou seis vezes por cima das nossas cabeças. E mandava-me mensagens para o telemóvel: "Estou bem aqui? Vêem-me bem?" Os nossos amigos filmaram e fotografaram a tua cara, o avião e a minha felicidade. E apontaram, para o resto da praia saber: "É ele! É ele"

Achei graça a teres passado o resto do dia perguntando: "E agora? Que surpresa posso fazer para superar esta?" Não sei... É uma bota que terás de descalçar...

E agora vou andando. Vamos jantar aos Pezinhos na Areia.



Golfinhos


Alguém na praia disse: "Está um tubarão na água". À volta todos levantaram os olhos para o mar. E um dos que o fez viu. Lá estava, uma barbatana. E outra, e outra, e mais outra. Muitas, muitas, muitas.
Não era um tubarão. Eram golfinhos. Muitos. Aos saltos.
"Meninos!", gritámos nós, que éramos 6 pais, para 5 filhos e um sobrinho, "Venham ver os golfinhos!" Eles vieram mas, findo 1 minuto, encolheram os ombros e exclamaram: "Bora jogar à bola!"
Nós e a praia inteira continuámos de pé, num ohhh embasbacado a olhar o mar, e a tirar fotografias. Os golfinhos passaram para um lado e depois para o outro. Por fim, foram à sua vida. E nós à nossa: dormitar, tomar banho, jogar à bola, ler e pouco mais.

13 de Agosto de 2008

E pronto. Hoje foi a concretização de um sonho antigo. A casinha do Algarve é nossa, melhor dizendo, é do BPI. Lá nos enterrámos mais um bocado, comprando uma segunda casa, de modo que durante a escritura estive numa espécie de limbo, entre a felicidade gritante e a incapacidade de engolir.
Levámos os putos connosco para a escritura e, para evitar que um deles começasse a trepar pelos móveis e a atirar jarras de porcelana ao chão, fomos todo o caminho de Tavira até Lisboa a explicar a seriedade do sítio para onde íamos, e que tinham de se portar excepecionalmente bem, caso contrário... enfim, caso contrário coisas terríveis podiam acontecer. E foi assim que, durante uma hora tive dois anjinhos sentados na salinha contígua àquela onde assinávamos muitas folhas, sem um pio, um ai, ou uma "pila" que fosse. "Tão queridos", diziam-me. E eu sorria um sorriso beato, como quem se orgulha do excelente trabalho árduo a educar dois magarefes, vitoriosa e mentirosona, e eles a mirarem-me, cúmplices, como quem diz "Já enganámos mais uns, hein?". Porém, a notária, que deve ser de Olhão (no sentido de ter bom olho, não é preciso começarem já a crispar-se todos os olhanenses que lerem este post), topou o sacrista mais novo: "Este tem um ar terrível". Eu tornei a sorrir, dessa vez um sorriso enigmático, nem sim nem não, antes pelo contrário.
Uma escritura é sempre um acto de algum formalismo e nervoseira. A até então proprietária e vendedora do apartamento com um beicinho genuinamente triste (ela não queria vender a casa mas a crise veio e lixou-lhe a vida), o marido dela tenso, segurando na sua caneta parker, nós no tal limbo, com as mãos geladas, a representante da imobiliária no seu cantinho, a representante do BPI dirigindo operações, e a notária propriamente dita, lendo linha a linha, tintim por tintim. Praticamente tudo o que ali se disse, a mim, soou-me a estrangeiro. Euribores, taxas nominais, percentagens, spreads, hipotecas, averbamentos. E eu que sim, pois claro, pois sim, acenando com a cabeça com uma certeza científica quando, na verdade, tirando a morada do apartamento e o nosso nome pouco mais consegui reter.
Assim que saímos pela porta, atirando adeuzinhos para trás, os meus anjinhos quiseram saber se, depois de tanto esforço fingindo ser o que não eram, podiam receber o prémio merecido: batatas-carninha-pão, vulgo Mcdonald's. "Portaram-se muito bem, por isso podem!" Yeah!, gritaram eles, batendo com a mão um no outro. E dali até ao carro foram sempre à porrada e atirando-se para o chão, de modo que estou convencida de que podem bem vir a receber um Óscar cada um. Pelo menos.
O que sei é que agora tenho uma segunda casinha, para usufruir e para alugar, onde espero sinceramente prolongar a minha (nossa) felicidade. Mas, apesar de não ter tido uma educação católica, não consigo livrar-me da culpa judaico-cristã que me faz ter pavor de que, depois de mais esta conquista, coisas horríveis poderão vir a acontecer-nos. Um cancro, um acidente, uma trombose. Vinha a pensar nisto no caminho de regresso a Tavira, e a auto-recriminar-me por ter pensamentos tão estúpidos. Nisto, fomos mandados parar por um Audi que vinha colado a nós, na Autoestrada, e que não estavam a fazer uma corrida, mas eram da Brigada de Trânsito. Vínhamos depressa, é verdade. Os agentes foram delicadíssimos, mas não nos livrámos da multa. Quanto a mim, confesso que não consegui evitar um sorriso de alívio: "Se for só este o preço a pagar por mais este upgrade na nossa vida... tudo bem!"

Férias

É tãoooooo linda a nossa casinha do Algarve. Dentro de 3 dias fazemos a escritura mas nós já cá estamos, muito bem instalados, e ela parece-nos ainda mais perfeita do que quando a viemos ver e nos apaixonámos por ela. Adoro-a! E o jardinzinho? E a mesa cá fora, para tomar o pequeno almoço?
As férias começam hoje. Três semanas de férias... Vamos tentar aproveitar cada minuto.

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