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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Não fui eu, foi a melga


No Domingo, depois do hospital e da cortisona, fomos ao Algarve. Ao almoço, metade do restaurante olhava para o Martim com piedade e, para nós, como os malfeitores. Não havia dúvidas ou más interpretações de olhares. Quem olhava fazia-o com ódio. E comentava para o lado, em surdina. Para aquelas pessoas não havia engano. Um de nós (ou talvez mesmo os dois) era um pai maltratante. Um de nós teria dado uma pêra no Martim, de certeza absoluta. Uma mocada bem dada, em cheio no olho.
E apesar de não ser verdade, começámos a sentir-nos mal. E, de repente, sentimos necessidade de justificar aquele olho à banda, inchado e negro. E começámos a falar alto, mais alto que o habitual, MALDITA MELGA, NÃO É MARTIM? COITADINHO DO MARTIM, ISTO DE SER ALÉRGICO À PICADA DAS MELGAS, HEIN? QUE MAÇADA...
Não resultou. Durante aquela hora do almoço eu fui a madrasta da Cinderela, a madrasta de Hansen e Gretel, a bruxa má, um monstro. A velocidade com que as pessoas tiram conclusões é assustadora. Mas, se calhar, eu pensava o mesmo. Fica a lição: da próxima vez que vir uma criancinha de olho negro e tumefacto, antes de pensar chamar a Comissão de Protecção de Menores, vou deixar uma margem para melgas e afins.