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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Uma família de queques, um comando de televisão e dois gins tónicos... fraquitos

Lá na quinta onde passámos o fim-de-semana, havia uns queques (nome fofinho para 'tios', 'betos', 'ricos-ou-a-armar-ao-rico') daqueles que julgam que tudo é propriedade sua. Já conheci algumas criaturas destas e o seu comportamento sempre me fascinou.
Estava eu na sala de estar da Quinta do Marco (uma sala enorme, cheia de bom gosto, uma parede de pedra, uma lareira imponente, uns sofás confortáveis e um plasma gigante), a beber um gin tónico e a trincar uns salgadinhos, antes do jantar, quando um destes 'tios' se jogou para uma poltrona e agarrou no comando da televisão. Eu, que até então via as notícias na SIC, passei a ver futebol na TVI. Ainda tossi uma vez. E ele nada. Depois chegaram os filhos (vários) e foi preciso tossir com mais força, para ser escutada. Ele escutou. Mas nem se apercebeu. Pedi mais um gin e pensei: Mais uns goles nisto e vou ali roubar-lhe o comando. Quando mudar de canal e ele olhar para mim, surpreendido, deito-lhe a língua de fora. Mas, afinal, o gin não teve assim tanto poder. E dei por mim a pensar que aquela família (enorme, entre irmãos, cunhados, filhos, sobrinhos e avós) seria a proprietária da Quinta.
Mas não. Não eram. Acontece que este tipo de malta tem esta peculiar capacidade: entram, sentam-se, espojam-se, falam alto e dispõem de tudo como se tudo fosse seu. Os outros? Os outros são os Silva desta vida, são invisíveis. Pessoas como estas têm este efeito em mim: odeio-os e, ao mesmo tempo, fascinam-me. A forma como se mostram superiores deve de certeza ajudar a que os tratem como superiores. Até ao dia em que um ou dois gins bem servidos façam a diferença. Ainda não foi desta.

Venham mais destes






Mas que fim-de-semana tão bom. Na quinta-feira, nós e eles rumámos a pontos distantes no mapa. Nós pegámos no carro e fomos para o Algarve. Eles foram de comboio com a tia Nana para uma terra perto de Viseu. Eles, pelo que sei dos relatos ao telefone (ainda não chegaram), semearam batatas, deram de comer às galinhas, andaram de tractor. Nós... nós fomos felizes. Vimos umas 20 casas (andamos à procura de uma para comprar) mas também fizemos praia e piscina. Namorámos, dormimos, ouvimos passarinhos, apreciámos o silêncio, ficámos calados de mão dada a olhar para as estrelas, rimos (rimos muito quando estamos os dois), não mandámos calar ninguém, nem gritámos, nem tivemos que nos preocupar com nada. Rigorosamente nada.
Ficámos numa quinta maravilhosa. Recomendo vivamente. Chama-se Quinta do Marco e é lindíssima, cheia de recantos bem inseridos na paisagem, no meio da serra algarvia mas com vista de mar, a 7 quilómetros de Tavira.
Agora, estamos já de regresso. Com a pele tostada do sol, uma moleza boa no corpo, e a usufruir, ainda, do silêncio. Os rapazes vêm a caminho para nos encher a vida de confusão, alegria e, também, cansaço. Gostamos muito deles, naturalmente. Mas quando estamos os dois, sem eles, percebemos o quanto gostamos um do outro e o quanto precisamos destes momentos a dois. Felizmente que temos na família tanta gente a oferecer-se para ficar com os rapazes. A todas essas pessoas, o nosso muito e muito obrigado.