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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Pedido de desculpas ao ovário

Aos fofinhos que me perguntaram sobre o ovário, não, hoje não fui fazer a ecografia. Porque ontem já o meu querido Dr. França Martins expôs o dito cujo na televisão.
Mas, ao que parece, o ovário não tem culpa nenhuma nesta embrulhada. De resto, nenhuma outra miudeza do meu corpo é culpada. Afinal, eu tenho... nada. Por isso, aqui ficam as minhas desculpas públicas e sentidas ao ovário, bode-expiatório de uma dor misteriosa que, a propósito, não passa. Espero que me perdoes, ovário. E que continues, apesar de todo este mal-entendido, a fazer o teu trabalho, ou seja, a ovular.
Quant à dor, confesso que tenho vontade de ir à farmácia pedir qualquer coisa para as dores. Mas já imaginei a conversa e desisti.
- Queria um analgésico, por favor.
- Mas tem dores onde?
- Ehrrr.... Aqui... no... no nada.
- Perdão?
- No nada. Aqui em baixo, do lado direito, no nada.
É capaz de soar esquisito. O melhor é continuar com a dor e fingir que isto tudo não aconteceu.

De como fiquei a saber que o nada dói


Passei pelo meu ginecologista/obstetra para lhe falar no malfadado ovário. Ele recebeu-me, ouviu as minhas descrições de dor pungente e, pela primeira vez, vi-lhe no olhar uma preocupação. Fiquei à rasca. O homem mais bem disposto do mundo, para quem tudo é uma piada, estava ali, à minha volta, com uma cara séria. Depois de me consultar, mandou-me para o hospital. "Eu acho que isso é uma apendicite. Não esperes por amanhã, vai já hoje."
Lá fui. Esperei. Triagem. Ah, e tal, dói-me aqui do lado direito, achava que era o ovário mas agora o meu ginecologista diz que é o apêndice. A enfermeira abanou a cabeça, mediu-me a febre, não tinha, e pediu-me para esperar na sala.
Lá fui. Esperei. O meu nome ecoado na sala. Ah, e tal, dói-me aqui do lado direito, achava que era o ovário mas agora o meu ginecologista diz que é o apêndice. O médico mandou-me deitar, apalpou a barriga, chegou ao ponto certo e eu dei um grito abafado pelas mãos. Hum, disse ele. "Vamos fazer análises".
Ele não foi, mas eu lá fui. Estiquei o braço, senti a picada, respirei fundo. E depois mandaram-me esperar. Esperei. Esperei. Esperei. Duas horas e um quarto de espera. Para por fim ouvir o meu nome.
Lá fui. O senhor de verde olhou para mim, olhou para o resultado das análises, tornou a olhar para mim. Eu a pensar, pronto, lá vou, o bisturi a furar a minha barriga, eu a acordar da anestesia, pestanejando até reconhecer a cara do meu homem e dos meus filhos, eu com menos uma entranha, eu ainda com dores, mas outras dores, a dor da cura e não a dor original, eu deitada num quartinho da CUF Descobertas, a receber visitas e tal. O senhor de verde mordeu o lábio e disse: "Pois, por nós... pode ir para casa. Não vemos aqui nada."
Ah... Nada. Sim senhor. Então estas dores lancinantes são... nada. Pois, faz sentido. "Mas olhe que eu não sou maluca", expliquei eu ao senhor doutor. "Olhe que estou aqui que não posso." E ele que sim, que acreditava. Mas que as análises estavam bem, que não era do apêndice, que aparentemente estava tudo bem, adeus e boa noite.
Cheguei ao pé do Ricardo, aflitíssimo. "Olha, parece que não é nada". Como nada? "Assim mesmo. Nada." Na recepção, a senhora a quem paguei deu-me o recibo e desejou "As melhoras". As melhoras? As melhoras de... nada?
E agora aqui estou. Com nada. Cheia de dores vindas de lado nenhum. De modos que, se eu marar, todos os que me lêem são testemunhas. Eu tinha dores. Eu coxeava. Eu não conseguia esticar-me. Mas, aparentemente, terei marado de nada.