Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Sobre os ovários

Ter ovários pode ser lixado. O meu ovário esquerdo decidiu infernizar-me a vida e ontem cheguei a ir à Cuf da Lapa mas como não havia urgência ginecológica voltei para casa dos meus sogros, agarrada à barriga e a ganir como um cão.
Provavelmente foi um quisto que decidiu ensandecer, que os quistos, já se sabe, são matéria que ensandece muito. Ou então foi outra coisa qualquer, quem sabe se não terá sido o ovário esquerdo chateado com a vida, raivoso com o direito ou assim.
É pena que o nosso corpo não seja transparente, tipo máquina de lavar roupa. Doía, a gente espreitava e dizia: Lá está, é o quisto que ensandeceu. E pronto. Resolvia-se. Está mal feito e, se acreditasse em Deus, aborrecia-me com ele pelo trabalho mal pensado. E, claro, pedia-lhe que não me desse tantas dores no ovário.
(Gosto mesmo da palavra ovário. Ovário, ovário, ovário.)

Ao lado. Não atrás


Hoje foi um dia especial para a família. O Manel, que andou paulatinamente a aprender a andar de bicicleta sem rodinhas - a princípio muito mal, cheio de medo de cair, todo hirto e tenso, todo racional e pouco corpóreo, infelicíssimo sempre que caía, tomando cada queda como um falhanço inadmissível -, o Manel, dizia, acompanhou-nos hoje numa volta grande aqui no Parque das Nações, onde vivemos e onde, curiosamente, começámos o nosso namoro.
Foi a primeira vez que ele não foi na cadeira pendurada na bicicleta do pai mas sim ali ao nosso lado. E foi estranho e foi bom. Vê-lo assim, grande, com um sorriso orgulhoso, a pedalar connosco deixou-nos uma percepção muito real do seu crescimento. Está grande. Está mesmo grande. Durante o percurso, atropelou uma senhora e enfaixou-se duas vezes num poste e num candeeiro. Caiu e chorou e disse que não queria mais. Mas continuou sempre e cada vez melhor.

No fim agradeceu. "Gostei muito de andar ao vosso lado". Por nós podes contar sempre com isso.

Mulher-bomba arrependida

No outro dia Henrique Cymerman entrevistou, na SIC, uma mulher-bomba que foi apanhada antes de se fazer explodir e matar uma data de gente. O Manel vê aquela mulher de lenço na cabeça, a falar uma língua imperceptível, e pergunta:
- O que é que a senhora está a dizer?
Eu e o pai ficamos um bocadito à rasca. Gosto sempre muito de o informar, de lhe ir dando noções do mundo, nunca invento macacadas idiotas, nunca disse "Olha que vem lá o bicho-papão" nem "Ou comes a chicha ou vem lá o polícia" e outras palermices do género. Mas desta vez fiquei aflita. Devia dizer: Olha, Manel, esta senhora está a contar que ia disfarçar-se de grávida e levar uma série de explosivos enrolados no corpo para se rebentar junto ao maior número de pessoas, matando toda a gente? Um bocadito puxado. Fiquei calada uns segundos. O pai, felizmente, tomou a iniciativa:
- Esta senhora está a contar que houve uma altura na vida dela em que acreditava que matar pessoas era bom. Depois percebeu que era mau. Reconheceu que se tinha enganado. E hoje não faz mal a uma mosca.
Pareceu-me bem. O Manel ficou com aquela cara de quem estuda o assunto, de quem processa a informação. Achei cedo falar-lhe de Israel e da Palestina. Mas, a avaliar pelo número de vezes que segue o Jornal da Noite, qualquer dia vamos ter de adaptar o discurso para explicar mais essa.

P.S: Gostei da parte em que Cymerman lhe perguntou o que esperava encontrar depois de morrer. Pertinente. 70 virgens? A resposta foi surpreendente: Esperava ser uma das 70 virgens e poder servir o profeta. Sim senhor. Não querendo simplificar o assunto, parece-me que em ambos os casos, sejam os suicidas homens ou mulheres, o que lhes falta realmente é uma vida sexual satisfatória. Mas sobre isto só poderei falar mais tarde com o Manel