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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

12 palavras apenas

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Aflito co' as mãos nos bolsos, do oito e coisa, deixou-me o desafio. Escrever as minhas 12 palavras preferidas. É difícil. Muito difícil. Mas, assim de repente, aqui vai:
Pai. Porque o que me calhou em sorte não é mais que um progenitor. Porque me fez, faz e fará falta ter um pai. Porque, felizmente, encontrei um pai digno desse nome para os meus filhos. Perfeito. Pai a sério é o que está. Que cuida, trata, tapa, beija, abraça, brinca, ralha, fica. Sempre. Gosto da palavra e do peso da palavra pai.
Mãe. A primeira vez que me chamaram assim, Mãe, senti-me muito maior, senti-me enorme. E cresci. E dei muito, mas mesmo muito mais valor à minha mãe. A boca arredonda-se para dizer Mãe. E os olhos parecem fechar-se de um quentinho bom.
Galatazarai. Não sei se é assim que se escreve. Nem sei de onde é que esta equipa é. Uma pesquisa rápida no Google permitia obter a resposta. Mas não me importa. Gosto desta palavra porque é gira de dizer. Galatazarai. Parece uma praga. "Galatarazai para ti".
Colo. Gosto de colo. De me aninhar no colo de alguém. De aninhar gente amiga no meu colo. Gosto de ter um colo para onde correr. Gosto de ser o colo para onde há quem corra. Adoro ter os meus rapazes dentro do meu colo.
DNA. Sim, é a nossa identidade mais exclusiva, aquilo que temos de mais nosso. Mas não é por isso que o DNA consta desta lista. DNA foi uma casa onde fui feliz. Tão feliz que a felicidade que sobra parece não ser mais que infelicidade. DNA foi nome de suplemento, de entrevistas grandes, de reportagens maiores ainda, de fotografias que falavam mais que dez mil palavras. DNA, DNA, DNA.
Saudade. Ora, pois. A seguir a uma tinha de vir a outra. Saudade é bom e é mau. Se temos saudades é porque já vivemos coisas boas. Se temos saudades é porque nos faltam. Quem não sente saudades não é boa gente.
Casa. Gosto de estar em casa. Gostava de trabalhar em casa. Gosto de regressar a casa. A minha casa tem as coisas que me fazem sentir feliz. Gosto de mudar de casa. Gosto de ver casas, de imaginar a minha vida ali dentro, gosto de imaginar as minhas coisas naquele espaço novo e diferente. Gosto de desempacotar a vida dentro de uma casa nova e decidir onde fica cada coisa. Casa é ninho. Gosto do meu.
Viagem. Seja para onde for. Para o Algarve, para o Norte, para fora do país. Detesto voar mas o aeroporto é a antecâmara da viagem. Gosto de fazer as malas. Gosto quando vamos todos. Fico doente quando me despeço dos meus filhos. Gosto do que as viagens me trazem, da forma como me transformam. Gosto de regressar de viagem. Dos abraços. Dos reencontros. Das histórias que conto e que oiço contar.
Céu. Azul. Também pode ter núvens, desde que sejam brancas e não ameacem o sol. O céu é onde gosto de imaginar os meus avós. E as pessoas de quem gostei e gosto e que já cá não estão. Não acredito que estejam espojadas no céu mas finjo que sim. Gosto de olhar para o alto e imaginar que os meus pedidos vão ser concedidos. "Quero...ficar em casa a escrever. Para sempre." Plim. O céu ouve e concede. Era tão bom.
Bolota. Como Galatazarai. Gosto do som. Como de lagartixa, péroquet, castanhola, pipoca, minhoca.
Silêncio. Sinto-lhe a falta. Lembro-me vagamente de como era e era bom. Nem um grito, nem uma corneta, nem a televisão. Nada. Só o silêncio.
Amor. O meu. O amor verdadeiro. Ter vontade de abraçar o meu homem, oito anos depois de me ter vestido de branco e ter dito, a medo, que sim, ficaríamos juntos o resto da vida. Sempre achei que 'sempre' era demais. Era tempo a mais. Quanto mais tempo passa mais percebo o quanto estava errada.
Amor. Às vezes soa a ridículo, pirosão. Connosco não. Amor. Para sempre? Sim, senhor. Para sempre.

Madrugar e trabalhar por culpa da fada

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Ontem à noite, enquanto o Manel dormia, deixámos um gigantesco embrulho aos pés da cama. Comprámos um quadro, de um lado ardósia, do outro uma espécie de porta-telas, para pôr folhas grandes e pintar com pincéis. De um lado um suporte para pôr o giz e o apagador, do outro um suporte para pousar as tintas e os pincéis.
Confesso que me incomoda sempre um bocado que as fadas e os Pais Natais desta vida fiquem com os louros das nossas ofertas. E por isso é que faço questão que o presente que o velho das barbas vem entregar no dia 24 nunca seja o mais giro de todos. O mais giro oferecemos nós.
Desta vez, porém, concedi.
De manhã o Manel chegou à nossa cama com a voz de quem acaba de chocar com um fantasma no corredor:
- Mãe... Mãe... está um embrulho enorme na minha cama...
- Ah sim? Boa, então a fada dos dentes sempre veio.
- Mas, mas, mas... A fada dos dentes é pequenina ou é grande?
- Errrh... Não sei. Nunca a vi. Porquê?
- Porque o presente é mesmo grande e pesado. Se ela for pequena, como é que conseguiu pôr aquilo no meu beliche?
- Bom, as fadas são mágicas, não é?
- Sim. E ela se calhar tem ajudantes.
- Pois, é natural que tenha.
Foi outra vez para o quarto. Cinco minutos depois voltou.
- Mãe? Mas a fada sabe onde é que se embrulham os presentes? O embrulho é da Toys 'r us.
- Errrh... As fadas devem ter imensas lojas de brinquedos lá na terra delas.
- Pois. Então as fadas existem mesmo?
- Parece que sim.

Esta conversa aconteceu às 8 da manhã. São nove e meia e já ouvi o pai rosnar, de volta de pedaços de madeira e parafusos, que a maldita fada podia ter tido a decência de montar o quadro.
Definitivamente, as fadas não nasceram para nos facilitar a vida.