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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

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Ontem e hoje fui fazer "serviços". Os jornalistas têm esta mania, de dizer ao telefone, quando alguém liga a perguntar por um colega: "Ela não está. Saiu para um serviço." Para um serviço? Parece uma coisa obscena (e definitivamente mais bem paga) e nunca consigo deixar de imaginar o colega em questão em posições mirabolantes, num qualquer hotel da cidade. "Saiu para um serviço".

Bom, ontem e hoje fui fazer serviços. E, uma vez mais, compreendi que não nasci para estar fechada dentro de um escritório. Não nasci para comandar uma tropa, não porque não o saiba fazer, mas porque não gosto, porque morro devagarinho, entristeço, apago-me a cada dia. Ontem e hoje saí para a rua, vi gente, falei com gente, senti o pulsar da vida "cá fora", fiz perguntas, bisbilhotei de forma consentida, porque é essa a minha profissão, bisbilhotar, saber tudo e mais alguma coisa, conhecer. E é de perto que se conhece, é olhando nos olhos, tocando no outro, "Gosta mesmo do que faz, não é Gabriela?", e a entrevistada a sorrir com a cara toda, um sorriso que não se pode ver ao telefone, que só se pode ver e sentir e compreender ali, ao vivo, num serviço.

Ontem e hoje constatei, uma vez mais, que não sou mulher para estar a uma secretária, a conferir o trabalho dos outros. E que, de cada vez que o faço, me afasto (talvez irremediavelmente) de mim. Por isso, se me ligarem, não estranhem se atender um colega a dizer: "Ela não está. Saiu para um serviço. Não sei quando volta. Não sei sequer se volta."

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