15 km para 15 anos
Eu só tinha uma indicação: tinha de ir vestida com uns calções e uma t-shirt de treino e tinha que levar outra roupa, para trocar, também calções, t-shirt e umas paez. Não sabia absolutamente mais nada. Saímos de casa às 8h, levámos o Martim à escola e seguimos viagem. Parámos em Setúbal, veio um rapaz ter connosco numa carrinha, entrámos e lá fomos - sendo que eu continuava completamente à toa, com o Ricardo a deixar escorregar coisas como "está vento, não há perigo?" ou "os cabos ficam mesmo seguros?" e eu a pensar que ainda ia saltar de um penhasco qualquer (e com o coração a mil).
Fomos na carrinha até à serra da Arrábida e, a certa altura, já não dava para continuar. "A partir daqui vamos a pé", declarou o nosso guia. Subimos um bocado, a pé, sempre a subir num piso cheio de pedras, até que chegámos junto a dois homens e uma bicicleta. O guia subiu para a bicicleta, entregou um GPS ao Ricardo, os outros dois despediram-se, e nós ficámos sozinhos, no meio da serra.
Foi então que recebi o primeiro envelope. Ali estava, por fim, a explicação: íamos fazer um trilho de 15 kms, a representar os 15 anos de vida em comum. Um trilho que representava, segundo o cartão, os nossos anos de casamento: subidas, descidas, zonas planas, partes mais fáceis, outras mais difíceis, mas sempre com beleza. Comecei logo a chorar, não é?
Na primeira foto, já no meio da serra, mas ainda sem fazer ideia do que me esperava. Na última, um dos balões presos num dos quilómetros.
O nosso guia, que conhece a serra como a palma das suas mãos, delineou os 15 km de propósito para nós. Pediu-nos 15 minutos de avanço, para ir pondo os balões nos diferentes quilómetros e nós, sempre que saíamos de mais um ponto, mandávamos-lhe mensagem a dizer que tínhamos saído do km 2, 3, 4... e por aí fora, para ele poder ir sempre à nossa frente.
Aqui sou eu, emocionadíssima com a mensagem do ano 2003. Mas a verdade é que chorei em quase todos os quilómetros, com quase todas as mensagens. Cada cartão tinha algo alusivo ao ano que vivemos e fotografias desse ano. Foi absolutamente maravilhoso. E a vista? De cortar a respiração.
No final, acabámos no Portinho da Arrábida, onde estava o 15º balão e envelope.
Aí apanhámos boleia de um pequeno bote de um pescador até a um veleiro. Lá, o Pierre, esperava por nós. E foi mágico. Refrescámo-nos, trocámos de roupa, viemos para cima, parámos numa praia pequenina ao lado de Albarquel, e almoçámos uma salada de salmão que ele preparou para nós. Com um vinho rosé fresquinho.
Tenho muita sorte. Tanta sorte.
Foi uma surpresa fantástica, emocionante, linda! Mas o que é melhor ainda é que a nossa vida de todos os dias também o é. Mesmo. E tem sido assim, em crescendo. Sempre a melhorar.
E eu? Terei alguma coisa preparada para ele?
Hummmmmm... Talvez...