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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Um dia inteiro a revisitar 15 anos

A única indicação que lhe dei foi: "No sábado tens de estar à porta de casa às 10.30 em ponto, com o telemóvel com som e com a chave do carro." Assim foi. Antes de sair, eu, o Manel e o Martim (a Madalena tinha ido dormir a casa da minha amiga Rute, que a levou à segunda prova do Conservatório - sim, logo por azar a segunda prova calhou no dia marcado para a maior surpresa da minha vida) abraçámo-lo e dissemos coisas como "boa sorte", "mesmo que tenhas medo pensa que te vais divertir", "usa a cabeça, pensa bem antes de agires" e ele danado e a rir dos nervos.

Mal saiu de casa, a loucura começou. Os miúdos à janela em histeria, eu a vestir-me à pressa e a recolher todos os elementos que teria de levar comigo: pistas, cartazes à porta, o presente. 

Lá fora, o João, um cameraman da produtora Luneta, aproximou-se do Ricardo, disse-lhe que lhe ia pôr um microfone mas que não sabia de nada (mentira, sabia de tudo), e depois ficou a filmar. A seguir, ele recebeu uma mensagem da "Voz".

Estava dado o pontapé de saída.

Ele fez o que se previa e tocou em casa da Cristina (que é em frente da nossa).

Ela desceu e deu-lhe a primeira pista, num envelope verde:

"A nossa história é a dízima desta, que não há no país quem não conheça. Segue para o centro, que esta é fácil de adivinhar. A aventura vai começar!"

 

Ele pensou, ela tentou atrapalhar, e lá concluiu que teria de ir para o Diário de Notícias, onde nos conhecemos. 

Enquanto isso, eu saía de casa com a minha irmã e o Mateus. A minha mãe levou os outros dois. Com a histeria, fechou-se a porta com a chave dentro. Percebemos que teríamos de chamar os bombeiros quando voltássemos. Mas tínhamos muito ainda para fazer. A minha mãe seguiu para a Igreja de São Roque, eu segui para Santos, onde fui colar uma pista no bar onde demos o primeiro beijinho (que está fechado e ao abandono). Por sorte, um polícia que estava em frente dispôs-se a garantir que ninguém roubava o envelope. E, assim, eu pude seguir para a Igreja.

 

No DN, a Maria João Caetano (que estava a trabalhar), desceu para lhe dar a pista que o levou ao ex-Café de Santos (onde eu tinha estado a colar a pista). Eu ia acompanhando todo o percurso através de uma aplicação (Glympse), que me permitia ver onde estavam em tempo real e, assim, pedir à Cristina que atrasasse ou adiantasse a coisa, consoante eu estava atrasada ou adiantada.

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 A pista colada no ex-Café de Santos dizia:

"Podes dizer que te saiu a taluda e nem tiveste que apostar. No largo está a próxima pista, só tens que a encontrar".

Ele tornou a adivinhar: devia ir para a Igreja de São Roque, onde casámos.

 

Eu, entretanto, chegava à igreja, onde já todo um grupo estava escondido nas escadinhas do duque, sob a orientação da Rita. Ela não tinha boas notícias: havia 2 seguranças à porta, que não deixavam ninguém entrar até à uma da tarde porque estava a decorrer um baptizado. Eu, que me tinha informado com antecedência, sabia que havia um baptizado. O que não podia imaginar era que ia durar até à uma da tarde (tinha começado às 11h). Não paniquei, nem sei porquê. Fui ter com eles e perguntei se, ao menos, podia ficar escondida atrás da porta. Ele viria, abraçávamo-nos ali mesmo, o tempo suficiente para que os nossos amigos e familiares se juntassem no átrio. Estava resolvido. Mas os seguranças condoeram-se da minha figura. E lá me deixaram entrar. Fiquei sentadinha no último banco da igreja onde casei, à espera dele. Lá fora, todos os convidados estavam cuidadosamente escondidos. 

Entretanto, ele chegou. Entrou. Sentou-se ao meu lado e ali ficámos, em conversas nossas, num momento mágico.

Depois saímos. E aconteceu o que ele não imaginava. Dezenas de amigos (até do Porto!) e familiares estavam à nossa espera e atiraram pétalas de rosas (arroz não, obrigadinha, que já chega de fertilidade), e 4 mariachis tocavam, tal como no dia do nosso casamento. O homem ia enfartando. 

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IMG_1864.JPGAdoro a cara dele aqui 

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Estivemos ali um bocado, a ouvir os Los Cavakitos, grupo que contratei (e que me salvou porque, antes deles, só encontrei grupos de mariachis que me levavam o couro e o cabelo por 20 minutos de actuação - estes cobraram um valor que considerei justo), e depois desaparecemos todos (tipo flashmob). Antes disso dei-lhe a próxima pista. E ele voltou a ficar sozinho com a prima e com o cameraman. Eu voei para o próximo ponto.

 

E se a igreja foi emocionante, o próximo sítio foi avassalador. 

 

Ele demorou a decifrar a pista, mais por não acreditar que fosse possível. Mas era.

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A próxima pista levou-o primeiro ao Pão de Canela onde a Sónia, super gerente e amiga, lhe deu a pista que o conduziu... à nossa primeira casa, a casa para onde fomos viver depois de casarmos, no Príncipe Real. A casa onde tivemos o nosso primeiro filho. E o segundo. A casa que continua no nosso coração e da qual falamos muitas e muitas vezes.

Consegui chegar à fala com a nova moradora, expliquei-lhe toda a minha ideia e disse-lhe que era muito bonito se me deixasse abrir-lhe a porta da nossa primeira casa. Ela adorou a ideia. E, quando ele tocou à campainha, ela fez questão de sair de casa e de nos deixar ter aquele momento. Acho que nunca o tinha visto tão incrédulo, tão aparvalhado, tão comovido. Foi mesmo muito emocionante.

Seguiu-se um almoço no Pão de Canela, já com uma mesa toda enfeitada com balões (ele tinha lá estado 10 minutos antes e os balões ainda não estavam colocados).

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 Aí, despedimo-nos da Cristina e do João, eu agradeci-lhes muito, dei-lhe o meu presente, uns ténis Ultra Boost, da adidas. Por todas as razões. Porque tenho uns e estou absolutamente rendida, porque espero que esta nossa paixão pelas corridas prossiga a bom ritmo, porque quero que continuemos a correr juntos pela vida fora. Ele adorou e pensou que a surpresa tinha chegado ao fim. Não podia estar mais enganado.

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A seguir ao almoço... nova mensagem da Voz.

Dei-lhe a pista, a Cris e o João já lá estavam de novo, e sumi (apanhei um táxi para casa - esperava-me uma árdua tarefa).

Ele, por sua vez, decifrou a nova pista e foi para a Luís Bívar, onde era o Hospital Particular (agora fechado) e onde nasceu o nosso primeiro filho. 

O Manel entretanto tinha recebido ordem de marcha e o avô levou-o à porta e escondeu-se numa rua ao lado.

Quando o Ricardo chegou, viu-o com um cartaz nas mãos. Abraçaram-se. Foi outro momento emocionante.

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Depois deste abraço, o Manel estendeu-lhe a nova pista: "Estaciona o Brancomobile, que o teu conforto está-se a acabar. Tem três rodas e duas asas, o teu novo bat car".

Ele andou à procura e lá encontrou o novo veículo, o The Flying Took Tuk.

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Com a cúmplice mais espectacular do mundo e o repórter de imagem, João 

 

A menina do Tuk Tuk deu-lhe a nova pista, que o levou até ao miradouro de Santa Catarina, onde fomos tantas e tantas vezes, ao longo da nossa vida em comum. E as tostas do Adamastor? E o Noobai?

Ao chegar, encontrou-se com a minha amiga Anabela Mota Ribeiro, que tinha na mão 10 balões, cada um com uma fitinha de cetim com uma viagem importante para nós. Eram para ser 15 mas tive medo que depois não coubessem no carro e que ele tivesse que os abandonar.

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Ela deu-lhe a nova pista. E ele, depois de puxar pela cabeça, seguiu viagem para a CUF Descobertas, onde nasceram os outros três filhos, que já lá estavam à espera dele.

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O Martim deu-lhe a última pista: "O mister já está à tua espera, nem penses dizer que estás cansado. Esta é por todas as vezes que chegaste atrasado". 

Ele desceu então para junto do rio, onde costumamos treinar. Antes de chegar ao jardim do costume, o Pedro encontrou-se com ele, entregou-lhe um saco de desporto e mandou-o equipar-se para treinar. Depois, saíram todos de cena, para ele se trocar. No saco não estava roupa de treino mas uma camisa de linho. No jardim, todo decorado para o efeito (por mim e ajudantes preciosos como a minha irmã e cunhado, a Rita, a minha mãe), estavam os amigos e familiares que tinham estado na igreja (e mais alguns), e um saxofonista a tocar.

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A festa foi muito animada, acho que toda a gente se divertiu e nós pudemos relaxar um bocadinho de um dia alucinante.

Podia ter ficado por aqui. 

Mas não.

Depois da festa, um carro veio buscar-nos e fomos jantar, a dois, ao Petit Palais. Quando soube que fazíamos anos de casados, ao visitar a nossa mesa, o Olivier preparou uma surpresa. Apareceu um bolo a arder e uma garrafa de champanhe. A DJ Poppy pôs a tocar o "Happy Birthday" do Stevie Wonder. Cantámos, jantámos maravilhosamente (recomendo vivamente o crepe do mar) e revivemos todo um dia que mais pareceu um carrossel. Não podia ter acabado melhor. Até porque o Olivier já acompanha a nossa história há anos, desde que só tinha um restaurante pequenino no Bairro Alto (e nós éramos só dois namorados).

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Esta surpresa levou dois meses a preparar. E eu adorei cada minuto.

Nada disto teria sido possível - MESMO - sem a ajuda da preciosa Cristina, amiga como poucas, pessoa rara, prima querida, que prescindiu de horas do almoço para ir comigo às compras, para traçar cenários, para alinhavar percursos, ideias, concretizações, que fez as pistas (porque não tenho manifestamente jeito nenhum e era tudo óbvio), que pensou na decoração, que passou noites sem dormir a pensar nisto tudo, que recebeu em casa as compras (ficando sem hall de entrada), que me aturou as perguntas sucessivas via sms e email, que antecipou problemas, que traçou soluções, que me impediu de complicar, que fez o bolo (lindo), que esteve lá para mim, como sempre tem estado - para nós - ao longo destes 15 anos. Agradeço-lhe do fundo do coração e não me canso de dizer que é das melhores e mais generosas pessoas que já conheci. Love u, girl!

 

Quanto ao alvo da minha surpresa... só posso dizer que merece tudo. Tudo. Estamos casados há 15 anos. Temos 4 filhos. Uma vida corrida. Mas nunca nos esquecemos um do outro. E por muito que esteja orgulhosa desta surpresa (e estou), e por muito feliz que ele tenha ficado (e ficou), não chega para descrever o quanto gosto dele, o quão estou agradecida por o ter na minha vida (perdoem lá o momento piegas mas 15 anos são 15 anos). Venham mais 15. E outros 15. E a vida inteira.

 

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