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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Resumindo...

Eu sempre quis ir à Índia. Quando estava no DNA (suplemento do Diário de Notícias), trabalhei com um fotógrafo extraordinário (Marcelo Buainain) que ficou outro, quando foi à Índia. Como que ensandeceu. Passou a ir para lá imensas vezes, as suas fotos eram um arraso, e cheguei a escrever textos para reportagens fotográficas sobre a Índia, lendo livros que ele tinha e ouvindo os seus relatos. De certo modo, eu que já queria ir à Índia, fiquei contagiada com aquela sua doença. Queria ir também. Queria ficar, também eu, embriagada com todas aquelas sensações.
Quando o Ricardo me ofereceu esta viagem, pelo meu 40º aniversário, senti que finalmente ia realizar um sonho. Mas também sabia - sabíamos ambos - que esta seria apenas a primeira abordagem. Uma semana na Índia é muito pouco. Afinal, este é um país que é quase um continente. E, como se não bastasse o tamanho, tem toda uma brutalidade de informação, riqueza cultural e religiosa, fervilhar de gentes, tradições e costumes, que o tornam um verdadeiro caldo imenso que necessita de uma longa, longuíssima digestão. Estive uma semana e sinto-me atordoada. A explosão diária para os sentidos chega a magoar o corpo.
Assim, não tenho qualquer pretensão absurda de achar que já sei alguma coisa sobre aquele lugar mágico. Se a Índia fosse uma refeição, diria que não passei do amuse bouche. Mas já percebi que quero continuar a comê-la, até à última migalha da sobremesa.
A Índia não se explica. Eu, pelo menos, não consigo. Não consigo explicar-vos porque é que é avassalador caminhar em ruas imundas, com homens que empurram carros de mão carregados de frutas, vacas que atravessam ruas onde milhares de carros, motas, carroças, riquexós, camelos e macacos se atravessam uns na frente dos outros, uma poluição que entra nos pulmões e atordoa, um ruído das buzinas que nunca cessa, de dia ou noite. Não se explica a beleza disto, sobretudo quando se vê tanta miséria, crianças que se ajoelham aos nossos pés a pedir dinheiro, que nos fazem ter vontade de as trazer connosco. Não se explica como é que, a par disto, a Índia tem evoluído tanto em termos tecnológicos, por exemplo, havendo como que um país a dois tempos. E, ainda assim, a Índia (esta pequeníssima parte da Índia que conheci mas, pelo que oiço dizer, leio e percebo, toda ela) é magnética e encantadora. A religião hindu é fascinante, com histórias elaboradíssimas e fantásticas e deixa-nos uma imensa vontade de saber mais e mais. Os monumentos de uma beleza… monumental (passe a redundância).
Creio que a melhor forma de explicar aquilo que vi é dizer isto: é como entrar numa máquina do tempo e, em alguns momentos e lugares, regressar à Idade Média. E isso é mais do que qualquer viagem pode oferecer. Nós podemos viajar para muito longe, mas sempre para o nosso tempo. Ali, é possível recuar no tempo. E isso é uma experiência inolvidável. Claro que quem não tem abertura para a diferença, quem não prepara a cabeça para outra realidade, quem só gosta de praias ou cidades cintilantes jamais poderá apreciar a Índia.
Nós por cá… já estamos a olhar para o mapa e a sonhar com a próxima viagem. Há tantos lugares que queremos conhecer: Goa, Bombaim, Kerala, Varanasi… Para a próxima, sem guias ou motorista. E vamos tentar ir por mais tempo, se conseguirmos convencer a malta por cá.

Um agradecimento do tamanho da Índia à minha mãe, que ficou com os nossos três filhos. Desta vez, numa gestão ainda mais difícil do que das outras vezes, com futebol 3 vezes por semana, natação duas vezes por semana, guitarra uma vez por semana, e mais uma festa de aniversário, e dois jogos no sábado. Grande mulher, caraças. Muito, muito, muito obrigada.


O regresso

Já se sabe que os regressos custam, sobretudo quando são viagens que nos entram pela alma adentro e pelo corpo e por todos os poros de nós, viagens que nos mudam, ainda que tenham sido apenas um toca-e-foge, viagens que - sabemos - vão fazer-nos voltar mais vezes, vão continuar a mudar-nos por mais tempo, quem sabe por anos, quem sabe pela vida toda. Por isso, saímos para o aeroporto com aquela tristeza do fim das férias que era, na verdade, mais do que isso - era uma tristeza do fim abrupto de um novo caminho que ainda agora se principiava a trilhar.
No aeroporto, o inferno. A fila para passar nos balcões de imigração não era grande - era absolutamente gigantesca. Eram vários balcões, cada um com as respectivas baias a formarem serpentes de gente à frente, um ar quente e irrespirável. Era meia-noite e meia, estávamos cansados, tínhamos sono, e ali ficámos 1 hora e meia. Depois dessa bonita fila interminável, outra para o check-in. Mais meia hora. Por essa altura, já estávamos esgotados.
Entrámos no avião e… azar. Ficámos na fila do meio e, pior ainda, nos dois lugares do meio da fila do meio. Ou seja, o Ricardo tinha um passageiro do lado esquerdo e eu tinha um passageiro do lado direito. Estávamos encurralados, não apenas dentro do avião, como também nos nossos lugares. Qualquer intenção de esticar as pernas ou ir à casa de banho teria sempre de passar por obrigar aquelas alminhas a levantarem-se.
Mas isso não era nada, comparado com o que ainda estava para vir.
Os passageiros foram entrando, entrando, entrando. A conta gotas. E traziam imensas bagagens de mão. Tantas que, às tantas, enfiar tudo dentro da cabine mais parecia um puzzle. Havia gente que tinha a mala quatro lugares atrás de si, porque não tinha arranjado espaço mais perto. Foi um verdadeiro filme encaixar tudo dentro do avião. Demorou 1 hora. Ou seja: o nosso voo já ia partir com 1 hora de atraso e nós ainda tínhamos de apanhar outro avião, em Bruxelas, sendo que, se bem se lembram (nós lembrávamo-nos bastante bem), tínhamos perdido o avião de ligação para Delhi, uma semana antes.
Ao nosso lado, dois belgas começavam a inquietar-se nos lugares. Não iam fazer voos de ligação mas um deles já estava há 15 horas à espera no aeroporto e o outro protestava (com razão) pela quantidade (e dimensão) absurda de bagagem de cabine que todos traziam.
Bom, uma hora depois já estava tudo arrumado, o avião dirigiu-se para a pista, a tripulação verificou se todo o pessoal tinha os cintos de segurança, se as cadeiras estavam direitas e as mesas recolhidas. Os motores principiaram a fazer um barulho diferente, aquele que antecede o ronco forte que acompanha o arranque. Nisto, uma mulher levanta-se e dirige-se à casa de banho. A tripulação agita-se. Quando ela sai, há movimentação, agitação e nervosismo. A casa de banho começa a ser alvo de entradas e saídas e é selada. O som do avião tornou a baixar e ninguém percebia nada. Às tantas, um membro da tripulação pergunta se há algum médico a bordo. Parece que sim. Todos se dirigem para a traseira do avião. O co-piloto aparece. Uns 10 minutos depois, aparece o piloto himself.
Por essa altura, nós os 4 (eu, o Ricardo e os dois belgas) estávamos claramente a ter um ataque de histeria, mas ao contrário. Começámos em teorias delirantes sobre um possível vírus mortal que agora ia obrigar-nos a uma quarentena, sairíamos do avião escoltados por uma equipa de cientistas equipados com fatos parecidos com os dos astronautas, ligariam para a nossa família e empregos lastimando o tempo que ficaríamos internados. E ríamos que nem uns idiotas (eu tinha alguma desculpa porque tinha tomado um ansiolítico) mas na verdade estávamos era em pânico.
Um dos belgas olhou para trás e viu a doente estendida no avião, deixámos de rir, o tempo passava e nós os dois estávamos quase certos que íamos perder, de novo, o próximo voo (uma vez que aquele não parava de atrasar e ainda tínhamos 9 horas de viagem pela frente).
A páginas tantas, o comissário de bordo veio comunicar que a passageira teria de ser evacuada e que, por isso, teríamos de esperar mais um pouco para começarmos o nosso voo. Nessa altura, já não pensávamos na chatice de irmos perder outro avião mas na desgraçada que estava ali em tão mau estado. Pronto, o avião voltou ao hangar, veio uma cadeira de rodas, levaram a senhora e nós começámos a achar que a coisa se ia finalmente dar. Mas… não. Faltava uma parte, que a nenhum de nós tinha ocorrido: foi preciso verificar - UMA A UMA - todas as bagagens de mão dentro das bagageiras da cabine. Claro. Por razões de segurança, a tripulação tinha de se certificar que todas as bagagens tinham dono, não fosse aquele mal-estar ser um embuste para a senhora sair e deixar para trás uma pequena bomba que nos levasse a todos desta para melhor. Ora… recordam-se de vos ter dito que havia passageiros sentados num lugar e a respectiva malita 4 lugares mais atrás? Agora imaginem lá o que não foi ter os comissários de bordo todos a perguntar: "De quem é esta? É sua? Não? É sua?"
Vimos passar pelo menos duas malas para a frente do avião, que devem ter sido postas na rua. Não sabemos (e creio que nunca saberemos) se eram de algum passageiro distraído que se esqueceu de dizer que era sua, ou se a doente era, afinal, uma perigosa bombista. O que sabemos é que o nosso voo saiu com 2 horas e meia de atraso. DUAS HORAS E MEIA DE ATRASO! Ou seja, em vez de 9 horas ali dentro, ficámos 11 horas e meia - o que significou que, lá pelo meio, tive de enfiar outro ansiolítico para o bucho porque tive um pequeno ataque de claustrofobia com direito a repetidos "quero sair daqui, quero sair daqui, quero sair daqui!!!!"
Felizmente, chegados a Bruxelas, conseguimos o voo para Lisboa. Mas, definitivamente, estava escrito que esta viagem havia de ser intensíssima do princípio até ao fim.


Sorver

Os indianos (não todos, mas os que fui vendo) sorvem. O nosso guia, que almoçou todos os dias connosco, sorvia com um som tão alto que me fazia corar. Comecei a achar que por lá não devia ser falta de educação sorver e tive a certeza quando, no cinema, vi um anúncio ao chá Pataka. Eu sorvo, tu sorves, ela sorve.



Coisas que aprendemos (ou aprofundámos) com o nosso guia #2

O império Mogol começou em 1526, entrou em declínio a partir do início do século XVIII e foi extinto pelo poderio britânico em 1857. Começou com Babar, que teve muito que lutar para manter o seu poderio e morreu muito cedo. Diz a lenda que, ao ver o seu filho Humayun gravemente doente, Babar deu 9 voltas à sua cama e pediu para ficar doente, em vez do filho. Por coincidência, contágio ou destino, Babar adoeceu e morreu em 1530. Humayun sucedeu ao seu pai. Mas também não teve vida fácil, rodeado de inimigos que queriam o trono de Delhi. Entre eles, havia um afegão chamado Sher Shah Suri, que lhe deu muito trabalho. Para sorte de Humayun, o engenhoso Sher Shah morreu de um disparo acidental. E Humayun pôde sossegar mais um pouco. Mas… não muito. Quatro anos depois, o filho de Babar teve uma queda fatal das escadas da sua biblioteca (pareciam embruxados).
Subiu então ao trono, com apenas 13 anos, o neto de Babar e filho de Humayun, Akbar. É o meu preferido dos mogois pela imensa abertura a outras religiões que não a sua (muçulmana). Era um diplomata e um conciliador. A Índia mogol desenvolveu uma economia forte e estável. Akbar gostava de literatura e arte e criou uma biblioteca com mais de 24 mil volumes escritos em sânscrito, hindi, persa, grego, latim e árabe. Akbar criou verdadeiros centros de arte e discussão. Desiludido com o Islão ortodoxo e cheio de vontade de agradar a todos, Akbar criou inclusivamente um novo culto, uma mistura entre islamismo, hinduismo e cristianismo, que provocou a ira nos muçulmanos mais radicais.
Durante o seu tempo, o império mogol triplicou em tamanho e riqueza.
Seguiu-se o seu filho Jahangir (de quem sei pouco) e depois Shah Jahan (o apaixonado e responsável pela construção do Taj Mahal. Por fim, o império mogol terminou com o odioso Aurangzeb, um impiedoso e fervoroso muçulmano que não só prendeu o próprio pai como matou os irmãos, rivais na disputa pelo trono. O seu fanatismo levou-o, ao contrário do avô Akbar, a perseguir os hindus. E isso acabou por se revelar fatal para o império mogol.



Coisas que aprendemos (ou aprofundámos) com o nosso guia #1

Nunca viajamos com guia. E, sobretudo, nunca viajamos em grupo. Odiamos excursões, detestamos manadas, rebanhos, todos juntos para todo o lado e, principalmente, para os lados mais turísticos e menos genuínos dos lugares.
Mas… desta vez não deu para prescindir do guia. Não fomos em grupo (isso é que não), mas as notícias das violações e o catatau deixaram a semente da insegurança e não nos sentimos suficientemente aventureiros para fazer a primeira abordagem à Índia por nossa conta e risco. Assim, fomos com um motorista e um guia e não arriscámos quase nada. De vez em quando estivemos sozinhos - tivemos algumas tardes livres (e todas as noites livres) - e aí fizemos as nossas próprias explorações, mas sem nunca metermos o nariz em ruelas muito estreitas e esquisitas e assustadoras (como fizemos em Marraquexe, por exemplo, ou em alguns lugarejos perdidos no nordeste do Brasil).

Ter um guia teve um lado muito bom: aprendemos imensas coisas. Nem tanto sobre os monumentos que visitámos, porque para isso há os livros e a internet, mas sobre a vida propriamente dita, a cultura e as tradições. Claro que há que ter em atenção que nem todas as coisas que o guia diz são a verdade absoluta. Não nos podemos esquecer que ele tem a sua própria noção da realidade que seria totalmente diferente se fosse um guia diferente. E, por isso, ter guia não dispensa continuar a aprofundar as informações, para que não se fique com uma ideia errada do país. Por isso… se houver aqui imprecisões, peço desde já desculpa. Vou continuar a ler sobre a Índia, para saber mais, mas para já o que aqui fica é um pouco do que ele nos foi dizendo.
O nosso guia era de uma pequena cidade do Rajastão e ainda vive segundo as tradições mais ortodoxas e fechadas, coisa que já não acontece em Delhi, por exemplo. De resto, ele fala de Delhi sempre com algum desconforto, dizendo que é "muito moderna" como se ser moderno fosse uma coisa má.

O que o Mahendra nos contou foi que, tirando em Delhi (e talvez numa ou outra cidade, não sei), em 90% dos casos, na Índia os casamentos ainda são arranjados. Os pais dele andam a tentar casá-lo há que tempos mas ele já recusou algumas vezes (tem 28 anos). Agora têm uma nova pretendente mas ele acha-a muito feia e anda a tentar livrar-se. Os pais estão zangados e dizem que, quando morrerem, Deus (ou seja Brahma ou Shiva ou Vishnu - ou outro qualquer dos milhares de deuses que existem na religião hindu) vai perguntar-lhes o que andaram a fazer para terem um filho solteiro. O Mahendra, apesar de ser todo muito certinho, não concorda com esta tradição e gostava de poder casar com que lhe desse na gana. Quando lhe perguntei pelo amor, ele respondeu, entre a tristeza e a resignação: «Aqui não há disso».
Claro que, quando chegámos a Delhi, percebemos que é toda uma outra realidade. As mulheres vestem coisas justas e saem à noite e namoram com quem querem. O problema é que a maior parte do país não tem nada que ver com Delhi. E o peso da família, da vizinhança e da perpetuação das tradições é brutal.
Esses casamentos arranjados têm, além do mais, de ser feitos dentro da mesma casta. Há 4 castas principais e não se lhes pode escapar (pelo apelido sabe-se a casta a que a pessoa pertence). Nasce-se numa casta e morre-se nessa casta (o Mahendra diz que é como se fizesse parte do ADN de cada um). Hoje, isso não é tão mau como já foi. Antigamente, quem nascesse na 4ª casta estava basicamente feito ao bife. Não podia estudar, não podia ter outro trabalho que não fosse o de varredor de ruas, não podia viver numa casa numa aldeia, não podia beber da água do poço da aldeia (só para dar um exemplo), e estava condenado a viver assim, sem hipótese de melhorar a existência. As coisas mudaram com Bhimrao Ramji Ambedkar (1891-1956). Ambedkar nasceu na 4ª casta e, por isso, estava impedido de estudar. Mas era muito inteligente e, certo dia, quando estava à porta de uma sala de aula (talvez a varrer, não consegui aprofundar), ouviu o professor fazer uma pergunta e nenhum dos alunos soube responder. Então, ele respondeu. Em vez de ficar irado, o professor ficou encantado com a sabedoria daquele menino, da 4ª casta. E fez um pedido especial para que ele pudesse estudar. Era o princípio do fim das castas tal como elas existiam na Índia.
Ambedkar estudou e tornou-se jurista, filósofo, antropólogo, historiador e economista (estudou muito, como se pode ver). Mas, sobretudo, tornou-se um lutador incansável contra a discriminação social que o sistema de castas da Índia promovia. Hoje, essa discriminação é proibida por lei e qualquer pessoa de qualquer casta pode estudar, trabalhar e ter altos cargos políticos.

Delhi: último dia

No último dia fomos conhecer a Jama Masjid, a maior mesquita da Índia, situada em Old Delhi. No seu pátio cabem 25 mil devotos. Foi outra das construções extravagantes do imperador Mogol Shah Jahan (o mesmo que mandou construir o Taj Mahal ou o Forte Vermelho). Esta mesquita tem 4 torre e 2 minaretes com 40 metros de altura. Para entrar, tivemos de nos descalçar (passei esta viagem a tirar os sapatos e, em alguns casos, também as meias) e eu, por ser mulher, tive de vestir uma espécie de robe largueirão.

 Ridículaaaa


Quando me preparava para fotografar o homem com a mesquita por detrás apareceu, como que por magia, uma menina que se pôs ao lado dele. E ali ficou, com o sorriso paralisado para a foto. Percebi imediatamente que ela ia pedir dinheiro pela foto mas não lhe resisti. 


Visão que se tem da mesquita, para Old Delhi


Se New Delhi tem prédios altos, centros de escritório, mulheres de calças ou saias curtas, avenidas largas e imensos jardins… Old Delhi volta a parecer-se com Jaipur ou Agra - uma espécie de Idade Média com carros e motas. Paupérrima, caótica, suja. Mas magnética e delirante. 




Joalheiros VIP IN (nunca a palavra VIP teve um significado tão… diferente, vá)

Uma banca de comida colada a… um urinol. Mas atenção! Não é um urinol qualquer! 
É um urinol "waterless & odourless". Ah! Assim está bem.


As ruas de Old Delhi têm intrincadas teias de cabos eléctricos - é como se cada prédio tivesse o seu próprio polvo gigantesco na fachada.  

De Old Delhi fomos ver o monumento a Mahatma Gandhi, a Porta da Índia e o palácio do Presidente.


Depois… fomos a dois templos. Um deles, Gurdwara Bangla Sahib, é o principal templo sikh de Delhi. Tem uma cúpula dourada e começou por ser um palácio, conhecido como Jaisinghpura, que era propriedade do marajá Jai Singh (séc. XVII). Nesse século, houve uma grande epidemia de cólera na cidade e o gurú Har Krishan ajudou os doentes, oferecendo ajuda e água fresca do lago da casa. A água desse lago é hoje considerada curativa e sagrada. Siks de todo o mundo vêm de todo o mundo para beberem e se molharem com esta água e até para a levarem para casa. O Gurdwara converteu-se num centro de peregrinação, não só para os sikhs como também para os hindus.



Para não variar, tivemos de nos descalçar. Meias incluídas. E tivemos que pôr um lenço cor de laranja na cabeça.
Bom… eu que até acho que sou descontraída e pouco enojadinha, tenho de confessar que foi um pequeno tormento ir até ao interior do templo descalça. Havia centenas de pessoas, todas descalças, e tínhamos de passar por um pequeno lava-pés aí com um dedo de uma água… turva. Se me tivessem filmado, estaria com uma careta de horror. Fui em bicos de pés e arrepios na espinha. 
Lá dentro, um sikh estava a fazer a oração. Todos de sentados nos tapetes, alguns completamente deitados e com a cara no chão, e o homem naquela ladainha que mais parecia uma zanga. O Ricardo, sentado ao meu lado, só disse "queres que te faça tradução simultânea?" e eu arregalei-lhe os olhos, respondi um categórico "não" e tive mesmo de me controlar para não rir - a graça destas "traduções simultâneas" que ele faz é encontrar palavras em português com terminações parecidas à língua original. A ladainha do homem - disse-nos o nosso guia - pode durar horas. Quando ele para, vem logo outro substituí-lo e assim ficam, todo um dia se for preciso.
No interior do templo não se podia fotografar mas ninguém disse nada sobre gravar a oração. Eis um pedacinho.



Seguiu-se a visita ao templo hindu Birla Mandir. Carregadinho de deuses hindus, a quem os devotos levam oferendas.


Ainda o casório



O realizador não é grande coisa e faz uns travellings um bocado rápidos mas devia ser da excitação do momento. A noiva vai ali ao fundo, com uns homens a segurarem-lhe numa renda por cima da cabeça, e o noivo espera-a na pérgola. 

Fechar com chave de ouro

Depois vos conto o dia de ontem (que foi bem recheado). Mas, para já, dizer que tivemos uma sorte dos diabos. Depois de termos visto um casamento no nosso hotel (mas só vimos passar os convidados e o noivo - era tudo chiquérrimo e, mais tarde, o nosso guia confirmou tratar-se de uma família muito conhecida), agora vimos um casamento propriamente dito! Estamos num hotel perto do aeroporto, a fazer tempo para o voo, e neste hotel vimos toda a cerimónia - desde a chegada do noivo, à chegada da noiva, ao cortejo com uma renda por cima da cabeça... Antes da cerimónia até fiz uma "amiga". Uma senhora, com um sari absolutamente deslumbrante, estava a pedir ao marido para a fotografar. Acontece que o senhor era um bocadito inapto para a fotografia e ela estava furiosa. Às tantas, olhou para mim e perguntou se me importava de a fotografar. Eu ia dando três mortais encarpados mas consegui disfarçar o meu entusiasmo. Ela estava felicíssima com o seu sari novo e queria uma foto em condições. Ao fim de algumas, lá a contentei.
O casamento foi o máximo!
A pérgola de entrada

A passadeira vermelha por onde passaram os convidados (elas lindas, de saris cheios de brilhantes), a noiva e o noivo (de branco) 
 Jardim onde decorreu a cerimónia e a festa 

 Os pombinhos, já casados, a posarem para os fotógrafos (eu incluída) 

  O meu ar de contentamento 

Asalaam-e-ishqum

Eu ia um bocadito tensa. O cinema era num sítio assim a dar para o manhoso, cheio de gente, é certo, mas não tinha a certeza se haveria mulheres a assistir. Quando chegámos, passámos por um detector de metais (há um em todos os monumentos e todas as lojas e em todo o lado, para falar a verdade), e ainda fomos revistados por cima. Foi a primeira vez que fui revistada para poder ir ao cinema.
O filme é de chorar a rir o tempo quase todo. É em hindi, sem legendas em inglês (ainda tivemos uma secreta esperança), e por isso não houve um único diálogo que tivéssemos percebido. Fomos deduzindo tudo, mais coisa menos coisa. Mas era de rir, com os heróis da história a aviarem os maus todos de uma vez, a voarem qual Shaolim, com os corpos todos brilhantes de óleo e as camisas abertas (uuuuh). Os indianos são um bocado mais interactivos do que nós, no cinema, e batem palmas e comentam em voz alta, mas mesmo assim são mais contidos do que imaginámos.
A actriz principal, Priyanka Chopra, é a mulher mais bonita do mundo (elegi-a hoje). O melhor do filme foi ter o Ricardo ao lado a fazer tradução simultânea baseando-se no som das palavras. Assim, quando a cena estava num dramalhão de fazer chorar as pedras da calçada, imaginem que alguém dizia qualquer coisa como atzuganfé (estou a inventar) que ele traduzia para "vai buscar-me um café". Quase sufoquei a rir. Adorei as partes em que há música (a música é óptima - comprámos o CD) e coreografia com moooontes de bailarinos. Uma coisa é certa: é uma produção em grande. No final, quase tive de me beliscar: "estamos no cinema na Índia!"

Deixo-vos com a minha música preferida do filme. Se me virem por Lisboa a cantar Asalaam-e-ishqum já sabem que ando a ouvir o CD em modo repeat.

Gunday

Como qualquer casalinho piroso que se preze, hoje, Dia dos Namorados, vamos ao cinema. Ver o novo hit de Bollywood que estreia HOJE! Com muitas cenas de amor à mistura. O trailer é qualquer coisa. Vejam lá se não apetece...