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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Tabasco: um parceiro na educação infantil


O Martim aprendeu o feminino de "puto".
Da primeira vez que o usou recebeu a explicação de que aquela palavra era feia, uma asneira a não usar nunca-nunca.
Ele gostou. Da palavra, da solenidade da explicação, da ameaça contida. E passou a usá-la amiúde. Sem saber o que significa, claro, mas consciente do efeito provocado.
Tentámos de tudo: ralhetes, castigos, quarto escuro, gritos, fingir-que-não-era-nada-connosco, fazer-de-conta-que-estávamos-mortos e, claro, porrada.
Mas ele parece gostar de todos os métodos. Parece gostar muito. Porque repetia em voz alta, cada vez mais alta, às vezes minutos depois da repreensão.
Até que, no outro dia, decidi fazer uma coisa diferente. Andava ele pela casa a dizer "És uma puta, és uma granda puta", quando eu me passei dos carretos. Fui à procura de pimenta para lhe pôr na língua, mas não havia pimenta. Então, abri o frigorífico, tirei de lá o Tabasco super-picante e dirigi-me a ele, abri-lhe a boca, espetei-lhe uma boa gota dentro, e fechei-lha.
O que se passou a seguir foi digno de desenho animado. Ele corria pela casa aos gritos, e eu até conseguia ver fumo sair-lhe pelas orelhas. Pediu água. Bebeu muita. Prometi que, da próxima vez, não lhe daria água, sequer. Ele chorou. Chorou muito. E o meu coração apertou-se. Mas fingi que não.
Eram onze da manhã e ele acabou por adormecer, com lágrimas na cara e a língua no lençol, para refrescar.
Nunca mais disse o feminino de puto. Às vezes vai para dizer mas trava a tempo, arregala os olhos e garante: "Eu não disse, eu não disse, eu não disse".
Não há dúvida de que há receitas antigas que continuam a resultar. Mesmo que adaptadas aos tempos modernos.
Viva o Tabasco. Viva a boa educação.

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