Sempre a aprender!
Às vezes a gente acha que já sabe umas coisas disto de ter filhos. Afinal de contas, quatro é mais que três que, diz o povo, é a conta que Deus fez; ou seja, a pessoa já tem mais do que a conta divina e, só por isso, é natural que possua um razoável nível de auto-convencimento.
Porém, a pessoa está permanentemente a aprender coisas novas e a ser supreendida por crias novas, com manias modernas e traços psicológicos distintos e desafiantes, até para uma mãe já rodada.
Isto para dizer que tenho - temos - um agradecimento público a fazer à educadora do Mateus.
Quando lhe confidenciámos que ele não dormia e que aparecia dezenas (centenas?) de vezes na sala ou no nosso quarto, e que o íamos levar de volta à cama, e que ele tornava a aparecer, e que o levávamos de novo, e ele de regresso, ela fez um ar surpreendido. No seu olhar estava escrito um "fónix, mas será possível que à quarta vocês ainda não tenham aprendido como é que isto se faz?" Talvez possa mesmo ter surgido um "vocês são burros ou quê" mas não tenho a certeza porque não quis olhar muito para os olhos dela, que espelhavam incredulidade e alguma desilusão.
Nós encolhemos os ombros. Afinal, os rapazes desta casa sempre foram assim. A Mada foi a única que sempre dormiu bem, os outros infernizaram-nos as noites até quase à insanidade. Por isso... estávamos assim mais ou menos como "perdido por 100, perdido por 1000".
Foi então que a educadora do Mateus disse:
- Porque é que não o fecham lá dentro, sozinho, às escuras?
Achei o método um tanto bárbaro.
- Fechá-lo? Ai, não sou capaz.
- Mas ele está a manipular-vos... e não é por muito tempo. Só um bocadinho...
Fiquei a pensar naquilo.
Claro que eu já li dezenas de métodos que se dizem infalíveis: o Estivill, o da Filipa Sommerfeldt Fernandes, o da Constança Ferreira. Já li as dicas do Paulo Oom, do Mário Cordeiro, li o Dr. Spock, e toda a sorte de livros de pediatria, não só por interesse pessoal como profissional, ouvi o discurso entusiasta da Mafalda Navarro. E nunca consegui pôr estes pequenos selvagens a dormir.
Mas, vá, decidi experimentar. Quando ele se pôs a vir para a sala, peguei-lhe pela mão e disse:
- Se voltares a fazer isso, a mãe tira a Mada do quarto, fecha a porta e tu ficas aí sozinho.
Ele riu-se como quem diz "Deves".
Dito e feito.
Saquei a Mada do quarto, fechei a porta e fiquei a segurar na maçaneta.
Armou-se um pequeno berreiro.
Esperei o suficiente para me parecer já próximo de uma cena medieval (mais ou menos... 5 segundos) e abri a porta e perguntei:
- A Mada pode vir? Ficas na tua caminha e não sais?
Ele, de olho triste:
- Xim.
E pronto. Acabou-se. Chega a hora de ir deitar, ele deita-se, ainda ensaia um choramingo, a gente pergunta se ele quer a porta fechada e um pouco de solidão, ele responde que não, e a vida segue o seu rumo. Tranquilo, sereno, um sonho.
De quando em vez é preciso relembrar a razão pela qual ele deixou de nos atazanar, retirando a Madalena de seus aposentos, fechando a porta e ouvindo um pequeno chinfrim, e é o suficiente para que tudo volte aos eixos.
Por isso... muito obrigada à Marina! Sinceramente, pensei que tivesse de o fechar e ir para a sala como se não fosse nada comigo, e isso eu não seria capaz de fazer. Mas ter sido o assunto resolvido assim, só com um cheirinho de porta fechada, parece-me um sonho.
(bom, é claro que ele continua a acordar aos guinchos a meio da noite, acordando todo o prédio... mas quanto a isso creio que não haverá outra solução que a de esperar que lhe passe)