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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Racing Varius: uma empresa para esquecer

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Vocês sabem que é raro usar este espaço para dizer mal. Nem sei se alguma vez aconteceu, assim expressamente vir aqui contar uma situação que correu mal e alertar a malta para não cair na esparrela. Por um lado porque tenho tido sorte, não acontece assim tantas vezes sentir-me tão enganada como desta vez, por outro porque tento sempre a via do diálogo, e porque prefiro de longe dar palco ao bom do que ao mau. Mas desta vez não podia mesmo deixar passar isto em claro. Até porque acho importante avisar a navegação de que o melhor é não fazerem o que eu fiz, sob pena de vos correr mal a vidinha.

No ano passado a minha irmã e eu oferecemos ao nosso pai, pelo aniversário, um voucher para ir conduzir uma grande máquina ao autódromo do Estoril. Ele sempre gostou de carros XPTO e de velocidade, já não tem assim muitas coisas que gostasse propriamente de ter, e então achámos que podia ser boa ideia oferecer um shot de adrenalina ao homem. Trocámos mensagens e marcámos. 

Durante o ano, a empresa Racing Varius marcou 4 eventos no seu Facebook (24 Novembro; 17 Fevereiro; 28 Abril, 14 Julho). Quem comprava o voucher tinha de ficar atento para ver quando era lançado novo evento (leia-se: possibilidade de conduzir a máquina escolhida no Autódromo) e tentar encaixar-se. Não havia envio de informação a ninguém. Era preciso estar atento ao FB da marca e ver quando se conseguia encaixar a data deles na nossa vida. A minha irmã marcou tudo para vir ao quarto evento porque nos outros três nunca deu - fosse por mim, pelo pai, ou por ela. Estava então tudo marcado quando ela, por descargo de consciência, decidiu ir à página de Facebook na véspera do dia marcado. Tinha sido cancelado. Com esse cancelamento (que não é comunicado a não ser na página de FB, ou seja:vês vês, não vês visses), ela perdeu a marcação de hotel que tinha feito. Ficou danada mas, pronto, é a vida, azares sucedem. Até que marcou para o quinto evento do ano: dia 10 de Novembro. Não dava propriamente muito jeito, porque era o aniversário do Mateus, mas tentámos ver o copo meio cheio: assim dava para vir dar um beijinho ao sobrinho e irmos com o pai, lá pelo meio do dia, fazer a experiência ao autódromo. E assim foi. 

No dia 10, de manhã, o Mati reuniu cá em casa os 10 amiguinhos e foi uma animação. A seguir a sair o último, saí eu. Os rapazes e a rapariga ficaram a arrumar a casa e eu fui buscar o pai e a Nana. Seguimos juntos para o autódromo. No caminho, a minha irmã diz que ele tem de assinar um termo de responsabilidade. Sim, senhora. É então que começa a lê-lo. E é então que eu começo a suar do buço. "O Declarante reconhece, aceita e admite para si próprio e/ou os seus herdeiros/herdeiras, conforme aplicável, no sentido mais lato possível em termos legais que: 1. Assume a total responsabilidade pelos prejuízos que a referida viatura possa sofrer de danos próprios ou provocar a terceiros , nos casos que sejam por culpa do declarante. Os danos em qualquer das viaturas serão reparados em oficinas oficiais e liquidados pelo Declarante à sociedade Racing Varius S.A."

Ia tendo um colapso nervoso, a imaginar o meu pai a esbardalhar o carro e a ficar a pagá-lo durante toda a vida (e possivelmente nós, as filhas, a continuarmos o pagamento, depois de ele quinar). Claro que devíamos ter lido isto antes de comprarmos o presente (ÓBVIO) mas confesso que nunca me passou pela cabeça que uma empresa destas não tivesse um seguro que cobrisse este tipo de situação. Nisto, já tínhamos chegado ao autódromo e demos por nós a implorar ao pai que não fosse muito depressa, a ver se a experiência não lhe dava cabo da vida (e da nossa, já agora).

Quando chegámos, tivemos de pagar 5€ à entrada porque cada condutor só pode levar um acompanhante (que não vai com ele no carro, fica mesmo só a ver). Por cada acompanhante extra paga-se 5€ (foi por isso que fomos só as duas e não levámos a família toda em peso - e ainda bem que não levámos, como já vão ver). Entrámos no recinto e demos com uma fila gigante, que terminava numa espécie de boxe (ou talvez seja mesmo uma boxe, não me peçam precisão automobilística, que pedem demais). Ali ficámos, bem mais de uma hora, em pé, em fila, ao frio e alguns choviscos. Até que nos fomos aproximando da boxe. Quando estávamos mesmo quase a entrar (portanto a aproximar-nos da nossa vez, estando a fila comprida ainda atrás de nós), ouvimos uma voz gritar:

- Vamos ter de ficar por aqui! Como puderam perceber veio muita gente e portanto agora já não podemos proporcionar mais experiências a ninguém. Porém, podem manter-se na fila e preencher uma ficha porque no próximo sábado vamos repetir o evento e poderão então fazer o que hoje não puderam. 

Claro que houve uma pequena sublevação, que foi crescendo de tom perante a arrogância dos responsáveis.

No nosso caso, explicámos que queríamos o dinheiro de volta porque já era a segunda vez que havia uma desmarcação, esta com a agravante de termos estado ali que tempos na fila, e com a maior agravante ainda de a minha irmã ter vindo de Aveiro para nada (e ainda com o facto de ter deixado o meu filho de 5 anos no dia do seu aniversário para... nada). Queríamos o dinheiro de volta porque como seria fácil de imaginar, a minha irmã não viria no próximo sábado de novo de Aveiro, onde tem a família, para esta brincadeira. Foi então que nos responderam, com sobranceria e desprezo, que não só não devolviam dinheiro do voucher como não devolviam SEQUER os 5€ da entrada do acompanhante. Tentámos chamá-los à razão: "Não houve evento nenhum, o valor do acompanhante era para assistir ao condutor a CONDUZIR, o que não aconteceu, pelo que OBVIAMENTE, queremos esse dinheiro (e o outro, by the way) de volta." A resposta foi hilariante: "Não devolvemos porque tiveram a oportunidade de ver os carros." De ver os carros??? VER OS CARROS? 

Enfim. Seguiu-se uma fila para o Livro de Reclamações, onde alguns de nós (pena não terem sido todos) escrevemos o sucedido. Houve exaltações, indignações, houve quem tivesse ligado para a GNR e para a CMTV. Nós, depois de termos escrito a reclamação no livro, só quisemos vir embora dali. O caso seguirá para as devidas instâncias. Mas digo-vos uma coisa: depois de ter lido aquele termo de responsabilidade, houve um lado meu que acabou um bocado aliviado. O outro está furioso pela perda da massa, que ainda foi considerável. Mas o alívio de saber que o meu pai não vai ter de vender órgãos para poder pagar os eventuais estragos num carro, tudo por culpa de um presente que as filhas lhe deram... esse é indesmentível.

De todo o modo, fica o alerta. Racing Varius... é capaz de não ser boa ideia. 

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