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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

O segredo das relações duradouras

Há muita gente que me pergunta sobre a minha relação duradoura. Como uma vez me dizia o João Miguel Tavares, alguns de nós, que mantemos casamentos longos e felizes, começamos a ser olhados com curiosidade e até desconfiança. "Serão normais?" Somos. Normalíssimos. Creio que o que nos distingue de quem não consegue manter relações longas é a sorte, em primeiro lugar, e o prazer pela paz, em segundo. A sorte porque, como em tudo, é essencial. Eu tive uma sorte do caraças em ter encontrado o Ricardo, assim como tive uma sorte do caraças em ter respondido ao anúncio que o Pedro Rolo Duarte pôs no jornal Público, assim como tive uma sorte do caraças em ter conseguido ter filhos, assim como tive uma sorte do caraças em ter tido filhos saudáveis, assim como tive uma sorte do caraças por tudo me ter corrido sempre bem. Há factores na vida que não dependem de nós. Dependem apenas da sorte. Mesmo. Não a escamoteio, não a desprezo, não a desvalorizo. Muitos dos que por aí andam, de relação em relação, simplesmente não tiveram a mesma sorte que eu. Por isso, obrigada, sorte.

Em segundo lugar, dizia, vem o prazer pela paz. Valorizo muito a minha paz, o saber com o que conto, alguma previsibilidade dentro de toda a imprevisibilidade da vida. Há muitas pessoas que não têm dentro de si (ou ainda não encontraram) este prazer pela paz, pela serenidade, pela quietude. Vibram com a aventura, o desconhecido, anseiam pela paixão e tudo o que ela traz: arritmias, desejo, insegurança, sangue a ferver. Eu sou muito mais pelo amor nos seus pequenos detalhes, na intimidade profunda de conhecer o outro quase como a palma da nossa mão, de lhe saber de cor o cheiro, os gostos, os defeitos.

Há nisto tudo uma certa analogia com o mar. Eu prefiro um mar tranquilo. Não tem de ser mar-chão, se bem que as águas transparentes, cálidas e mansas de umas Maldivas, por exemplo, são perfeitas para mim. Mas pode ser um mar ligeiramente agitado, com aquela ondulação que não chega a ser perigosa mas que dá um friozinho na barriga. Pode ser uma bandeira verde ou amarela. Não me chamem para um mar picado de bandeira vermelha. Até posso mergulhar, mas não fico mais que esse mergulho. Acontece o mesmo no amor. As paixões violentas sempre me tiraram o pé do chão, fizeram-me temer pela minha segurança, pela vida, até. Não gosto de sentir o afogamento próximo. Não tenho qualquer vício pela adrenalina. Gosto muito mais de um mar tranquilo, ainda que com alguma agitação. 

Não somos todos iguais, e ainda bem. E pode bem acontecer que, um dia destes, me dê na cabeça gostar de uma vaga tipo canhão da Nazaré. Ninguém pode adivinhar. O encanto da vida também é esta surpresa permanente. Mas para já (e há já 20 anos) não contem comigo para surfar tsunamis.

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