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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

O primeiro encontro do Clube de Leitura no Porto, by MultiOpticas

Fui para norte logo cedo. Queria parar em Aveiro para almoçar com a minha mana e assim foi. Todos os bocadinhos são poucos para estarmos juntas. Parecendo que não Aveiro é longe de Lisboa. E as nossas vidas são corridas, como todas as vidas, e há compromissos que todos temos, eu, ela, os nossos maridos. Todos temos famílias de origem (eu, ela, o Ricardo, o Filipe), amigos de cada um, amigos do casal, filhos, agendas dos filhos, amigos dos filhos. Por uma ou outra razão vai sendo adiado o próximo encontro e, por isso, cada possibilidade de estarmos juntas é de aproveitar. Almoçámos, pusemos a conversa em dia (em versão resumida, vá) e depois segui para o Porto.

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Cheguei ao Vila Galé Porto cedo e à hora combinada lá fui para a sala que o hotel disponibilizou para o encontro. 

Não éramos 70, nem pouco mais ou menos, apesar dos 70 inscritos. Sendo 100% sincera, claro que se tivessem ido 70 pessoas falar e ouvir falar de livros a um Clube de Leitura que criei, sentiria uma felicidade inimaginável. Como não? Seria mesmo bom e bonito e comovente. Acho que só de se terem inscrito 70 já senti um bocadinho isso. Mas, por outro lado, estava um pouco tensa e a pensar como conseguiria gerir tanta gente, e a pensar como sairíam dali tantas pessoas frustradas por não terem conseguido falar (possivelmente teríamos que fazer um sorteio para decidir quem iria falar e quem teria de ficar apenas a ouvir). Mesmo sendo 30 terminámos perto das 23h, quanto mais se fôssemos 70! 

Foi um encontro muito bom. Eu pelo menos gostei muito. Gostei de ouvir toda a gente - a Cláudia, que imprimiu um forte entusiasmo à descrição dos livros que leu, nomeadamente A Carne, de Rosa Montero, que fala de envelhecimento e as novas vidas que a vida oferece; a Beatriz (que fui buscar a casa) e que merece ser ouvida pela cultura que tem, pelo tanto que leu, pelo facto de estar a atravessar um novo - e desafiante - período da sua vida; o Paulo Duarte, meu amigo Paulo-padre 😊​ que gostei tanto de receber (é sempre tão bom ter também os amigos connosco) e escutar o que tinha a dizer sobre O Lado Escuro do Amor, e o fortíssimo The Neuroscientist Who Lost Her Mind, sobre uma neurocientista com cancro no cérebro (de que se safou) e que teve de passar por tantos fenómenos que ela própria diagnosticou e acompanhou em doentes seus; as crianças (Rodrigo, Carolina e Madalena) que se aguentaram horas valentes, com um comportamento exemplar (e que tão bem falaram dos seus livros); a Sofia, que estava com uma enxaqueca do demónio mas que trouxe o livro Woman Code sobre o qual soubemos pouco porque teve de sair antes que a cabeça lhe explodisse ali (as melhoras, sei bem o que isso é); o Pedro, tão interessante, que terá tanto para nos ensinar sobre livros de guerra e mais documentais; a Raquel, à espera - como tantos de nós - dos próximos livros depois de Eliete, de Dulce Maria Cardoso; a Sara, que tentou por duas vezes, há uns anos, ler o livro O Velho e o Mar e não conseguiu acabar e que agora gostou tanto (ela atribuiu o facto à tradução, eu interroguei-me se não terá sido a maturidade- ficámos de chegar a conclusões quando ela comparar as duas traduções diferentes, para saber se foi de uma coisa ou da outra); a Marília, que não gostou nada d'O Velho e o Mar e que o leu há coisa de um mês (o que a leva a considerar que talvez a culpa não seja da maturidade mas do facto de o livro de Hemingway ser chato) mas que leu Como Ser Uma e Outra, de Ali Smith, que apreciou por ninguém ser o que parece; a Conceição, tão divertida (o que eu me ri com ela!) e a achar que todos verbalizavam muito bem o que tinham pensado sobre os seus livros, ela que também é das que aguarda a sequela da Eliete; a Sofia, que sugeriu o livro Os Loucos da Rua Mazur ao Pedro, fã de livros de guerra, e que nos descreveu o livro da Mariana Correia Pinto sobre o Porto Oriental, um Porto genuíno cada vez mais raro; a Maria João que trouxe um livro que não a conquistou (O Coração das Trevas, de Joseph Conrad), por ser muito difícil e denso, mas que o Pedro também leu e gostou muito, apesar de confirmar que é difícil e denso (e é nestas divergências que há tanto a retirar); a Teresa que trouxe A Sul de Nenhum Norte, de Charles Bukowski, e que definiu como um livro de contos duros, em que bêbedos, escritores falhados, prostitutas, ladrões retratam uma américa onde o sonho americano não se concretizou; a Ana, que ia jurar que conheço de algum lado, que leu Um Capricho da Natureza, da Nobel da Literatura Nadine Gordimer (que conta a história de Hillela, uma branca sul-africana que acaba a lutar contra o apartheid); a Catarina, que não é uma leitora assídua mas gostava de ser e que disse, com um ar embaraçado, que tinha lido Nicholas Sparks, como se houvesse mal nisso (nada como começar, depois logo se pode - ou não - experimentar outros géneros); o Diogo, um jovem que tem um blogue literário (No Conforto dos Livros) e que nos confessou a sua paixão por distopias e, como tal, o interesse que lhe suscitou o livro Os Imperfeitos, de Cecelia Ahern; a Mariana, que já participou num clube em Lisboa, com a tia, e que leu O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, que a comoveu, e o Nada Menos que um Milagre, que comprou por ser do mesmo autor de A Rapariga que Roubava Livros (Marcus Zusak) mas de que acabou por gostar (como tinha gostado do anterior) por ser a história de cinco irmãos cuja mãe morre e o pai os abandona, que vivem no caos que se imagina, e depois o pai vem para convidar um deles a ir com ele construir uma ponte, metáfora para a ponte que se cria entre eles e a salvação da família; a Maria João, que não tem lido nada mas quer que o Clube lhe sirva de arranque ao encontro da leitora que já foi, e que nos trouxe o livro Jogos de Raiva, de Rodrigo Guedes de Carvalho, que a apaixonou tanto, tanto, tanto (que fiquei - de novo - cheia de vontade de o ler); a Joana, que anda há meses às voltas com o Codex 632 do José Rodrigues dos Santos sem conseguir acabá-lo de tão aborrecido que o acha (apesar de já ter lido outros do mesmo autor e não ter sentido esta dificuldade); a Anabela, que não consegue adormecer sem ler (e é interrompida pela Liliana que diz, com muita graça: "Já eu não consigo ler à noite sem adormecer") e se encantou com a Eliete por pensar coisas que ela também pensa (apesar de terem vidas distintas); a Liliana que leu A Queda dos Gigantes, de Ken Follet e adorou (mais um que fiquei mesmo com vontade de ler); a Verónica, que leu O Homem de Giz, de C. J. Tudor, um thriller em que todas as personagens têm segredos; e a Ana, a última a falar, que nos contou a história de vida de Maya Angelou (pseudónimo de Marguerite Ann Johnson), uma escritora e activista americana que tem uma mensagem de força e optimismo no livro Cartas à Minha Filha.

Foi bom, foi mesmo bom. Porque não é só de livros que falamos quando nos reunimos. É de vida. Há sempre paralelismos, identificações, projecções que fazemos com as nossas próprias vidas. Há uma espécie de partilha comum, uma espécie de comunhão que vai crescendo com a confiança que vamos ganhando, uma espécie de catarse. É terapêutico. No final, a Cláudia surpreendeu-me com uma Fogaça de Santa Maria da Feira (que desapareceu no fim-de-semana e nem deu tempo para fotografar - tão boa, senhores, tão boa) e a Sofia Martins espantou-me com a oferta de duas peças de joalharia feitas por ela, duas Keepies. "As Keepies são umas meninas que voam e têm muita personalidade: Zoe, a criativa. Pihu, a curiosa. Lily, a BFF. Luna, a sonhadora." Recebi uma Luna e a Mada recebeu uma Pihu. Adorei. ❤️​

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Eis os livros que lemos, que são os atrás descritos e mais alguns:

A Carne, Rosa Mantero

O Poço e a Estrada, Isabel Rio Novo

Mange, Prie, Aime, Elizabeth Gilbert

Histórias da Terra e do Mar, Sophia de Mello Breyner Andresen

O Lado Escuro do Amor, Jane G. Goldberg

The Neuroscientist Who Lost her Mind, Barbara K. Lipska

Princesa das Flores, Janie Jones

Diário de Uma Totó, Rachel Renée Russell

Woman Code, Alisa Vitti

Eliete, Dulce Maria Cardoso

Se Esta Rua Falasse, James Baldwin

Mais Um Dia de Vida, Ryszard Kapuscinsk

O Velho e o Mar, Ernest Hemingway  

Como Ser Uma e Outra, Ali Smith

Mr. Fox, Helen Oyeyemi 

Os Loucos da Rua Mazur, João Pinto Coelho

Porto Última Estação, Mariana Correia Pinto

Oceano das Trevas, Joseph Conrad

A Sul de Nenhum Norte, Charles Bukowski

Um Capricho da Natureza, Nadine Gordimer

Cada Suspiro Teu, Nicholas Sparks

Os Imperfeitos, Cecilia Ahern

O Ódii que Semeias, Angie Thomas

O Meu Pé de Laranja de Lima, José Mauro de Vasconcelos

Nada Menos Que um Milagre, Markus Zusak

Jogos de Raiva, Rodrigo Guedes de Carvalho

Codex 632, José Rodrigues dos Santos

A Queda dos Gigantes, Ken Follet

O Homem de Giz, C. J. Tudor

Cartas à Minha filha, Maya Angelou 

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Obrigada ao Vila Galé Porto, que nos acolheu.

E obrigada à MultiOpticas, que apoia esta iniciativa!

O próximo encontro no Porto vai ser excepcionalmente numa quinta-feira (que na sexta não posso). Será dia 6 de Junho, às 19h, no Vila Galé Porto. E vai ter um livro único para debate: Caim, de José Saramago

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Inscrevam-se aqui:

 

 

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