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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Mudar de Vida #12: Marta Metrass

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Vivia ligada à corrente. A correr. Ao telefone. A deitar-se tarde. A acordar cedo. A esquecer o almoço. A beber cafés uns atrás dos outros. Eléctrica. Mas feliz, sublinhe-se. Não sabia ser de outra forma. Quem trabalha em publicidade sabe que ou é assim ou não é. Marta Metrass começou por estagiar na UAU (eventos e espectáculos) porque apesar de ter feito a licenciatura em Dança sempre teve um fraquinho pela parte da organização e não se via nada a ser professora (e bailarina, em Portugal, não era propriamente fácil). Daí saltou para a Publicis onde foi TV, Foto e Radio Producer. Quatro anos em stress, a organizar tudo, a fazer 50 coisas ao mesmo tempo. Seguiu-se a Garage Films, onde foi directora de pós-produção. Chegou a fazer seis filmes publicitários ao mesmo tempo, acompanhava todo o processo desde que acabavam de filmar até ao momento em que chegava à televisão para ser emitido. Adorava. Nunca sabia se ia dormir essa noite, se tinha fins-de-semana, se conseguia fazer aquele programa combinado com as amigas. Mas só sabia viver assim. No limite. Tinha, porém, um escape: o yoga. Fazia yoga às 6.30 da manhã, antes do telemóvel começar a tocar. Precisava daquele tempo para si. Daquele equilíbrio entre corpo e mente. Depois disso, sentia-se pronta para comer o mundo.

Foi na Garage que conheceu o Hugo. Um ano e meio depois, casaram. E a seguir nasceu o primeiro filho, o Vicente. "Mas eu continuei com a mesma vida, a mesma loucura. Um dia, aconteceu uma coisa que me fez mudar tudo. Fez-se um clique aqui dentro. Estava em casa com o Vicente, que teria uns dois anos e meio, e atendi a chamada de um cliente, daqueles mesmo muito exigentes. O meu filho chamava-me e eu andava basicamente pela casa a fugir dele, a ver se o meu cliente não ouvia a sua voz. Quando ele começou a tornar-se mesmo muito insistente, fechei-me na cozinha e deixei-o do lado de fora, aos murros à porta e a chorar. Eu só queria terminar aquela chamada, que era importante, mas quando desliguei e lhe peguei ao colo, para o consolar, senti-me a pior mãe do mundo e percebi que aquela já não era a vida que eu queria. Eu queria acompanhar a vida do meu filho, queria vê-lo crescer... e não era nada disso que estava a acontecer."

O clique foi tal e qual como se de um interruptor se tratasse. Num momento estava ligado. No momento seguinte desligou-se. Uma epifania. E Marta sentou-se com o marido a pensar em alternativas. Pensaram mudar de país e, numa primeira fase, Marta enviou currículos para o Rio de Janeiro, mas para fazer exactamente a mesma coisa. Chegou a ir a entrevistas, no Rio, e quando regressou ligaram-lhe a dizer que tinha ficado. Contavam com ela para começar assim que possível. E foi então que se fez luz, de novo. "Eu quero mudar de vida e não de país para fazer a mesma vida! E então pensámos em mudar tudo mesmo, o paradigma por inteiro. Bali começou por estar em primeiro plano, poque foi a nossa primeira viagem juntos e adorámos - foi lá que pedi o Hugo em casamento -, mas depois tivemos receio, já havia tanta coisa em Bali... talvez a Tailândia. E assim foi. Fomos de férias para Ko Phangan e voltámos a Portugal só para despachar tudo e rumar a uma nova vida na Tailândia."

Marta despediu-se. Hugo, que era freelancer, despediu-se também, de uma forma diferente. Venderam tudo. Carro, mota, recheio da casa e uma auto-caravana que tinham ido comprar à Alemanha. "Foi o que mais me custou. Fizemos férias tão giras naquela caravana que vendê-la foi mesmo a única coisa que me fez impressão."

Estiveram quatro anos em Ko Phangan. A ideia inicial era abrir um resort mas preferiram começar por um projecto mais pequeno. Montaram uma hamburgueria gourmet. "Foi um sucesso. Esteve sempre nos primeiros 5 lugares do Tripadvisor, no meio de centenas de restaurantes. O Hugo cozinhava, eu servia às mesas. Depois, eu saí porque começámos a sentir que não era saudável estarmos 24 sobre 24 horas juntos. Começaram a desafiar-me para dar aulas de dança e eu, que sempre achei que não tinha jeito para ser professora, resisti um bocado mas depois lá acedi. E descobri a minha vocação. Descobri que adoro dar aulas, quem diria! Passei a ensinar crianças e adultos, criei aulas extra-curriculares de dança jazz e dança criativa, organizava espectáculos a cada dois meses e meio e, pelo meio, decidi tirar um curso de yoga. E, claro, fiquei rendida."

Se Marta já se refugiava no yoga nos tempos em que vivia ligada à corrente, não é difícil imaginar o impacto que teve nesta nova etapa da sua vida. "Para mim o yoga é meditação em movimento. É muito sentimento, é filosofia. É mente, é coração, é respiração. É uma viagem que abarca tudo e que até junta a dança, minha formação de base." Durante o curso compreendeu que dar aulas era-lhe mesmo natural e, por isso, começou a dar aulas de yoga em todo o lado. De repente, sem se aperceber muito bem como, estava na mesma lufa-lufa de que tinha fugido. Passava os dias inteiros ao lado da praia mas sem pôr os pés na areia e menos ainda no mar. Não tinha mãos a medir. Ainda havia um caminho de mudança que era preciso fazer.

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Quando nasceu o segundo filho, Gustavo, sentiram vontade de mudar, de novo. Pensaram voltar para Portugal mas nenhum dos dois queria regressar para a mesma vida. Cogitaram ir viver para o Alentejo ou para o Algarve mas ambas as opções os mantinham longe dos amigos (que era do que mais sentiam falta) e não permitiam vidas muito auspiciosas. Entretanto, enquanto viviam esta nova onda de dúvidas, Marta tinha marcado um retiro para fazer em Bali. Mas o vulcão entrou em erupção e, como o bebé era muito pequeno, estiveram quase para cancelar a viagem. Mas ela sentia que não podia tomar nenhuma decisão sem ir a Bali. Algo lhe dizia que era lá que estava a resposta para as novas dúvidas.

Tinha razão. No momento em que desceram do avião e puseram os pés no aeroporto, o cheiro a insenso como que os hipnotizou. "É isto. Nós vamos viver aqui. Foi ali que fizemos a nossa primeira viagem juntos, foi ali que pedi o Hugo em casamento, fazia todo o sentido. Passámos um mês de férias a ver casas, alugámos casa por um ano, inscrevemos o Vicente na escola, voltámos a Ko Phangan, vendemos tudo, e estamos a viver em Bali há 3 meses."

Neste momento, Marta Metrass é professora credenciada pela Yoga Alliance de 500h (RYT500h), sendo que já tinha um registo de Experienced Yoga Teacher 200h (E-RYT 200h), dá aulas em três sítios diferentes, mas tem tempo para desfrutar da vida em Bali. "Há uma vida intensa, todos os dias o pôr-do-sol é celebrado, há música ao vivo, tudo a tomar banho no mar mesmo quando já é de noite, porque a temperatura mantém-se quente, as pessoas são simpatiquíssimas e educadas, super espirituais... estamos rendidos. Depois dos 4 anos que passámos na Tailândia, este era o caminho certo. Estou em crer que vamos passar aqui o resto da vida. Ou então até nos fazer sentido! O que importa é mesmo isso: que faça sentido. E o maior sentido que podia dar à minha vida era o de ter tempo para mim, para o meu marido, para ver os meus filhos crescerem, para desfrutar da vida!"

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 Podem encontrá-la AQUI ou na página de Instagram marta_yogadancelove

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