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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Jantar de aniversário... sem aniversariante

A minha mãe tem todos os anos um jantar de aniversário de uma amiga que morreu há anos. Passo a explicar: antes de morrer, essa senhora pediu às filhas e aos amigos que todos os anos se juntassem, no dia do seu aniversário, e que tivessem na mesa um bolo com uma vela acesa. "Se eu puder, venho apagá-la". Achei genial. Olha que bela ideia de continuar a ser relembrado! Olha que bela ideia de manter-se viva, em festa! E, ainda por cima, com uma forma concreta de possível interacção (quem sabe!). De modo que, todos os anos, a tradição se cumpre: a minha mãe lá vai, e no dia seguinte eu pergunto sempre se a vela se apagou, para de seguida ela me dizer que lamentavelmente não, ficou acesa até derreter toda e se extinguir. Houve um ano em que ficou tudo em suspenso alguns segundos, com a vela a tremelicar, os corações acelerados, tu queres ver, tu queres ver, mas afinal não. Quem sabe um dia tudo muda?

Agora é a minha vez de ter uma tradição semelhante. Sem vela, porém com o encontro de amigos do aniversariante. Não terá sido um pedido dele (que eu saiba, mas até podia ser), porém foi uma belíssima ideia. Quando fez um ano que morreu reuniu-se um grupo para almoçar (e foi tão bom), e agora no dia do seu aniversário recebi uma mensagem a perguntar se me juntava para jantar. Claro que sim! Acho a ideia linda e - fica já aqui escrito - quero muito que façam o mesmo quando eu me for. 

O Pedro tinha alguns amigos. Uns faziam parte de uma grupeta, outros eram amigos "avulso" como, de resto, creio que acontece com a maioria de nós. Eu era uma dessas amigas "avulso". Não fazia parte das jantaradas e das saídas (apesar de ir acompanhado através dos seus relatos). Quando estava com ele era a dois, nunca em grupo (tirando nos seus 50 anos). Conhecia esses amigos apenas por o ouvir falar deles. Não nos encontrávamos, na maioria dos casos só lhes conhecia os nomes, noutros casos conhecia-as por serem figuras mais ou menos públicas.

Agora, dou por mim a conviver com essas pessoas que fizeram parte da vida do meu amigo e a gostar muito delas. O que não deixa de ser bonito e estranho ao mesmo tempo. Na verdade, se o Pedro nos tivesse juntado talvez não tivesse resultado tão bem como resulta agora, que ele não está. Não por ele não estar (que era um belíssimo elo de união), mas porque o que creio que nos une agora é a falta que ele nos faz a todos. Acho mesmo que se ele nos tivesse juntado não seria, pelo menos, tão incrivelmente fácil como é agora. Não sei. Talvez fosse. O que sei é que há uma empatia surpreendente (e até comovente) entre nós. Não há aquele constrangimento que até seria compreensível porque eles eram um grupo e eu era uma das "avulso". Nada. Quando estamos é fácil, é divertido, é natural. E se ele puder ver vai sentir de certeza uma alegria por nos ver assim, juntos por ele, tão facilmente unidos por ele. 

O último jantar, no dia 16 de Maio, foi de novo uma festa. Para ser perfeito só faltou mesmo ele estar presente (e o filho António, claro).

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