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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Cá beijinho à prima

No outro dia, a propósito do primo pequenino não querer dar beijinho de despedida, o pai do primo, quase em jeito de desculpa, referiu-se a um artigo do The Guardian que defendia a tese de que as criancinhas não deviam ser forçadas a beijar ninguém (por acaso o título até era mais específico: "Why you shouldn't force a child to kiss a grandparent" [Por que razão não deve obrigar uma criança a beijar os avós]). Senti um daqueles calafrios: oh não! Eis que acaba de nascer mais uma fabulosa teoria sobre educação e, como vem num jornal inglês, é caso para nos atirarmos para o chão em sucessivas vénias. Ainda rosnei qualquer coisa, entredentes, mas preferi ir ler primeiro o artigo, não fosse dar-se o caso de concordar com a teoria que, até então, desconhecia.
E não concordo. Diz o artigo que obrigar as crianças a darem beijinhos quando elas não querem é o mesmo que estar a dizer-lhes que o corpo não lhes pertence e que têm mais é que fazer o que os adultos lhes mandam com o seu próprio corpo. E que, daí para a aceitação do abuso sexual como algo de normal, é um passinho. Hein? Oi? A sério? Mesmo? Então agora vamos deixar que os miúdos não beijem os familiares porque isso pode confundi-los em relação a um possível avanço pedófilo de um adulto mal intencionado? Desculpem, mas não há uma diferença de gigante entre um beijo na cara, de afecto, entre um adulto e toques ou beijos de outro teor? É preciso deseducar os miúdos, torná-los caprichosos e frios no que toca aos afectos, para prevenir algo que - enfim - por muito que aconteça (e todos sabemos que infelizmente acontece) ainda é algo mais raro (felizmente) do que comum? E será que evitar os beijos aos avós e tios previne realmente alguma coisa ou quando tem de acontecer acontece e ponto final? Vão dizer-me que uma criança que sempre se recusou (com sucesso) beijar a prima não vai consentir um toque esquisito de um pervertido e que, pelo contrário, aquela que sempre beijou a prima vai sentir que aquele toque esquisito é normal?

Poderei ser uma obtusa do piorio. Poderei. Mas acho tudo isto um absurdo.
E creio que caminhamos a passos largos para uma deseducação brutal das criancinhas, rainhas e senhoras de tudo, em nome do seu bem-estar supremo e inalienável. Não se bate, não se grita, tem de se falar em tom baixo, é obrigatório brincar x minutos por dia senão haverá traumas irreparáveis, não se obriga a criancinha a dizer, a falar, a fazer. Não quer comer não come, não quer tomar banho não toma, quer ir adormecer no carro vai, quer ficar acordada até às 4h da manhã fica, não se diz "não" que isso é muito violento. Depois crescem e são um vómito de arrogância e nulidade, totalmente despreparadas para o mercado de trabalho, para o mundo, para a vida.
Poderei ser uma obtusa do piorio. Mas os meus filhos continuarão a dar beijinho à família e aos amigos, quando chegam e quando partem*. Que eu cá também beijei muita tia de bigode e outras a deixar um lastrozinho de saliva na minha bochecha e não foi por isso que morri (ou fiquei a achar que isso lhes dava o á-vontade para me tocarem noutros sítios e de outra maneira).


*excepção apenas para horas impróprias, em que a birra que farão para oscular alguém vá ser mais perturbadora do que pedagógica.

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