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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Birras e birras e birras

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O Mateus é o filho mais birrento que já tive. A culpa só pode ser nossa. E é. Sei que é. A verdade é que todo o esforço que depositei na educação dos primeiros filhos como que desvaneceu neste. Com o Manel, por exemplo, como era o primeiro havia como que um espírito de missão: eu queria fazer daquele bebé um homem como devia ser. Estava apostada nisso. De maneira que era inflexível com as regras, muito pouco tolerante a faltas de educação, muito apostada em levá-lo a toda a sorte de eventos culturais, porque sentia de forma muito intensa aquela coisa de ter um disco rígido em branco, em que tudo o que se lhe imprimisse podia fazer a diferença. E qureria imprimir coisas boas, coisas incríveis. Depois veio o segundo filho. E claro que continuava a querer fazer daquele bebé querido um homem bom e interessante e feliz mas já havia dois para cuidar, já havia menos capacidade (e até vontade) de ir a todos os workshops lúdico-pedagógico-criativo-cenas com os dois, já tínhamos ido a muitas e achado que muitas delas eram só parvoíces para sacar dinheiro a pais de um só filho e, portanto, apostados como nós tínhamos estado em fabricar seres mais ou menos sobre-humanos.

Quando a Madalena nasceu, começou tudo a entrar em roda livre. Vamos ao que dá, alguns festivais nunca na vida, que se lixem as aulas interactivo-psico-educativo-sensoriais, faz birra que se lixe, não quer ir já para a cama tudo bem, não quer comer agora come mais logo. Ainda assim, como ela era certinha e querida a coisa não se entornou. Mas com o Mateus a coisa fia mais fino. O raça do puto, que é sabido, topou depressa qual era o nosso ponto fraco: o ruído. Então, munido dessa poderosa informação e apetrechado de um potente aparelho vocal, consegue basicamente tudo o que quer... gritando. Começaram por ser coisas simples, tipo "quero isto-não pode ser-buáaaaaaaaaaa-toma". Mas hoje é por tudo e por nada. Se quer e a resposta é não, está montado um drama. Grita, bate o pé, chora como se o estivessem a matar. Ou seja: criámos um monstro. O Manel fica chocadíssimo. Quando lhe damos alguma coisa para a mão pelo simples facto de ter armado um berreiro, fulmina-nos: "Mas vocês acham que estão a fazer bem??? Acham que isto é educação???" E nós respondemos, cabisbaixos e envergonhados. Não, na verdade não achamos. Mas a intolerância à poluição sonora é tanta que fazemo-lo apenas para mantermos a escassa sanidade que ainda nos resta. Hoje, aquilo que começou por ser um "toma lá para te calares", agora é um "não te dou porque na verdade não te calas na mesma". 

Agora, criado o pequeno monstro, estamos finalmente a tentar reverter a coisa. Um "não" é sempre um "não", até ao fim, ainda que sangremos dos ouvidos (como, de resto, sempre tinha sido). Um "agora" é mesmo "agora", não é quando lhe apetecer. O mesmo para um "já", um "chega", e outras palavras similares que pequeno Mateus tem manifestamente dificuldade em apreender.

A culpa é minha, não precisam lembrar. Nossa, que não o deseduco sozinha. Mas vou melhorar! A Fraulein que há em mim tem entrado cada vez mais em acção e estou apostada em fazer deste bichinho um homem fixe também. Me aguardem!

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