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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Apoio psicológico do doente oncológico

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Na sequência do post anterior, em que divulguei o filme que estreia amanhã e cujas receitas revertem na íntegra para o IPO de Lisboa, há algo de que é urgente falar.

No outro dia recebi um email de uma leitora cujo filho, de 13 anos, está a lutar há meses contra um cancro e está internado em regime de quase permanência no Hospital Pediátrico de Coimbra. O que ela me revelou a seguir ter-me-ia deixado perplexa se eu não soubesse já a pouca importância que ainda se dá à saúde mental neste país: o Serviço de Oncologia do Hospital Pediátrico de Coimbra não disponibiliza qualquer tipo de acompanhamento psicológico a miúdos ou aos pais, apesar de existir (como é evidente) esta especialidade no hospital. 

Esta mãe já reclamou formalmente junto da direcção do serviço, junto da direcção clínica e da administração do hospital há vários meses e nem resposta obteve. 

 

Não sei como funciona nos outros hospitais mas sou da opinião de que um doente oncológico devia SEMPRE ter acompanhamento psicológico, a menos que o recusasse liminarmente (mas ainda assim julgo que só o devia fazer depois de experimentar algumas sessões). Continuamos a tratar o nosso complexo cérebro e a saúde psicológica e emocional com um desprezo que é absurdo em pleno século XXI. O cancro é uma doença cada vez mais crónica e em muitos casos curável, sim senhora, mas continua a ter um impacto violentíssimo na vida dos doentes. Os tratamentos são agressivos, as pessoas vão-se abaixo, temem não sobreviver, vêem-se longe da escola ou do trabalho e consequentemente de todas as suas rotinas e zonas de conforto, sentem-se sozinhos, perdidos, deprimidos. Não tratar da parte emocional pode bem ser meio caminho andado para que percam as forças, para que desanimem, para que desistam. Está provado que a componente psicológica interfere - e muito - com a componente física. "Mens sana in corpore sano" (Mente sã em corpo são), já dizia o filósofo e poeta romano Juvenal, no século X. E nós, tantos séculos depois, continuamos a achar que isso são tudo balelas. Coisas para gente fraca e com pouco que fazer. Temos sempre que ser fortes, que superar tudo, de preferência de cara alegre e sem chatear muito quem está na sua vidinha.

Enfim. Gostava muito que o filho da minha leitora pudesse ter a ajuda que merece. E a mãe. E todos os que estão a passar por este difícil percurso que é o cancro (e todas as doenças crónicas, já agora). 

 

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