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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

A adolescência não é para meninos

Tenho tido muita sorte com as adolescências cá de casa. Além de respostas tortas (devidamente cortadas com olhares fulminantes ou repreensões certeiras) e uma ou outra parvoíce sem importância tem sido muito fácil e até divertido assistir ao crescimento desta malta. Lembro-me de me exasperar com o poder de argumentação do Manel, que me levava a querer estrangulá-lo (só por segundos, calma), e de achar enervante o tempo que passava ao telefone com a namorada e do certo ar de enfado que punha quando se tratava de nos oferecer algum do seu precioso tempo, mas tirando isso... tudo na maior.

O Martim tem sido uma paz de alma. Não é propriamente um fã de escola e de estudo (também me lembro de não ser assim a minha coisa preferida do mundo) mas tem cumprido, com a minha ajuda, porque tenho sempre sentido que lhe sou útil e que, sem algum apoio, se perde em distracções. Este ano, decidi não ajudar. Disse-lhe que estava crescido e que era chegada a hora de voar sozinho. O primeiro período correu tão bem que respirei fundo.  Boas notas, impecável. "Ufff! Estava tão farta de estudar, caraças. Estou livre!", pensei. Só que o tempo foi passando e a sua dedicação ao estudo foi caindo como se fosse o caudal de um rio ao chegar a uma catarata. Sempre que se lhe perguntava se já tinha feito os trabalhos a resposta era "já". Sempre que se lhe perguntava se já tinha estudado a sua resposta era "sim". Sabia sempre tudo. Estava sempre tudo bem. Fui assistindo e pensei: "Eu até posso agarrá-lo já mas... vou ver no que isto dá." Deixei-o cair de propósito. Afinal, quantas vezes é nas quedas que mais aprendemos? No meio do processo, fomos chamados à escola, queriam saber se havia alguma alteração alguma coisa de que não estivessem a par. A derrapagem era evidente, as notas no final do período tiveram o efeito do caudal do rio a despencar no fim da catarata (do Iguaçu). 

A conversa, nesse final de período, foi clara: eu estou e empenho-me se tu estiveres e te empenhares. Se não te quiseres empenhar desistimos já os dois. Baixamos os braços. Entregamos os pontos. Ele comprometeu-se. E cumpriu. Estudámos para caraças. Quem me acompanha no Instagram viu os stories com o estudo, viu quando pedi fichas e testes, houve quem enviasse muito material, PDFs, vídeos, exercícios. Muito, muito, muito obrigada a todos. O Martim passou o Cabo das Tormentas e rebaptizou-o de Cabo da Boa Esperança. Com ajuda? Sim. Por que não? Devia tê-lo deixado chumbar o ano? Aprender à sua custa? Ficar para trás quando a única coisa que o travou foi a sua imaturidade? Quando tinha os professores a dizerem que ele era um miúdo muito participativo nas aulas, interessado, e que nem queriam acreditar nos resultados dos testes? Devia ter continuado impávida, ou oferecer a minha ajuda, depois do susto? A resposta para mim foi evidente. E será sempre evidente. Quis que aprendesse, que levasse um susto, mas que depois conseguisse, com o seu esforço, reverter a situação.

Creio que levou com ele uma lição importante para a vida: sem trabalho... poucos são os que conseguem (que também os há, raio dos bichos). E levou outra: com trabalho, árduo, sério, consistente... só alguns não chegam lá. E ele chegou, com algumas notas verdadeiramente impressionantes (para quem tinha feito o disparate que ele fez). A recuperação foi notável mas não foi um milagre. Foi apenas e só trabalho. A adolescência também nos prega partidas destas. Não é nenhum bicho de sete cabeças nem tem de ser um tabu ou uma vergonha. São percalços. A vida está cheia deles. Há os que sucumbem e há os que lutam. É bom quando se luta e, no final, se vence. Parabéns, Martim. 

 

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