Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

E pronto. Cumpri. Custou-me mas está feito

Depois do verão tinha de me meter na ordem. Voltar às rotinas que me fazem bem ao corpo e à mona. Correr nem sempre me sabe bem quando saio de casa, é verdade. Vou reformular: correr quase nunca me sabe bem quando saio de casa. Mas quando chego, depois de correr, sinto-me capaz de conquistar o mundo. Com a sensação de dever cumprido, com mais energia, toda contente. 

Há quem corra sem dar cavaco a ninguém. Nada de relógios, iphones, aplicações, partilhas de quilómetros com quem quer que seja. Acho lindo. De louvar. Eu, porém, sou uma pessoa mais fraquinha. Estou ainda num estágio inferior do desenvolvimento. Preciso do alento de conhecidos e estranhos (vale tudo, na verdade) para me motivar a palmilhar essas estradas e caminhos, correndo, arfando e suando as estopinhas. É a vida. Cada um usa as ferramentas que tem à mão.

Posto isto, informei o pessoal lá do Instagram que me propunha a fazer 100km no mês de Outubro. E o que é certo é que ainda bem que o fiz, caso contrário tinha-me ficado aí por metade. Tive um mês completamente maluco de trabalho, com filmagens diversas e entrevistas múltiplas, com idas ao norte para conferências e reportagens, e conseguir encaixar a corrida no meio de tudo foi uma aventura. Hoje, último dia do mês, concluí os últimos 7km. E pronto. Tudo está bem quando acaba bem.

Agora estou indecisa sobre se me comprometo com alguma quilometragem para Novembro ou se me calo bem caladinha. Vou ter amanhã um dia de reflexão sobre o assunto. E sobre se me inscrevo numa maratona para o ano ou não. categories-100KM.jpg

 

Adeus fraldas!

O fim das fraldas cá por casa continua, uns dias a correr melhor, uns dias a correr pior. Valem-nos as toalhitas, essas invenções incríveis que limpam e perfumam que é uma beleza. Como devia ser tramada a vida sem elas. Uso-as para tudo. Para limpar o rabo do bebé (propósito primeiro), para limpar o sofá quando há asneira, para limpar o chão quando há azar, para remover nódoas difíceis em roupa (se nunca tentaram, experimentem e verão), para limpar bocas impregnadas de chocolate, para limpar pés porcos de correr no terraço, para tudo e mais um par de botas. Agora no desfralde, usamos e abusamos das Kandoo, as toalhitas que podem deitar-se na sanita. Sempre as usámos com todos os filhos nesta fase, e acontece-nos sempre ficarmos tão fãs que prolongamos a fase por muito tempo. É, além do mais, uma excelente forma de promover a autonomia, porque eles conseguem limpar-se sozinhos (mais ou menos, vá, no início é sempre melhor verificar se está mesmo tudo bem limpinho) e isso deixa-os muito cheios de si.  

Pequeno Mateus está a ficar um crescido, é o que vos digo. Mesmo que, de vez em quando, ainda se distraia um bocadinho (e outras vezes faça chichi de propósito para se vingar de qualquer contrariedade que lhe surja 😳).

 

 *post escrito em parceria com Kandoo

Ontem fui a minha mãe e... não gostei

Há algumas coisas em que me pareço com a minha mãe e não me importo, pelo contrário. Na responsabilidade, por exemplo. Na capacidade de trabalho, também. Mas ontem fui igual à minha mãe quando ela me tentava ajudar nos trabalhos de casa ou quando estudava comigo. E era sempre mau. Metia sempre gritos. E eu hoje só conseguia ouvir a voz dela, a sair de mim. Acho que todos nós já passámos por isto de repetirmos comportamentos que não gostámos de sentir, com o mal-estar subsequente. 

A verdade é que há qualquer coisa de profundamente errado na escola que temos.

O Martim está no 7º ano e ontem esteve a estudar coisas tão interessantes como a projecção da esfera terrestre num plano. Basicamente teve de decorar que há a projecção cilíndrica, a projecção cónica de Lambert, a projecção azimutal polar ou a projecção homolósena de Goode. De cortar a respiração de tão entusiasmante. Perdoem-me os geógrafos, e os cartógrafos, que devem adorar tudo isto, mas no 7º ano custa-me a crer que isto seja efectivamente o que queremos ensinar aos nossos filhos. Até porque aposto um rim em como daqui a 3 ou 4 dias nenhum deles ainda se lembra disto, claramente marrado para saber no teste e ponto final parágrafo. E quem diz esta matéria diz outras, empinadas à força apenas para não falhar nos testes.

Já a Madalena, que - relembro - tem 8 anos e anda no 3º ano, esteve a estudar Inglês. E fiquei absolutamente incrédula com a quantidade de matéria: cores, dias da semana, meses do ano, objectos da escola, palavras relacionadas com o Outono, e o presente do verbo To Be. Foi lixado meter-lhe na cabeça que February não era com "e" mas sim com "a", apesar de ser ler "Februéry", foi tramado fazê-la aprender a escrever "schoolbag" e não "scoolbeg", foi do caraças vê-la a patinar com o verbo To Be, e foi uma aventura pô-la a escrever "Wednesday".

A Madalena tem sido uma aluna exemplar. Nunca foi preciso estudar com ela nem ajudar nos trabalhos, mesmo com matérias (em Matemática, por exemplo) que me parecem demasiado complexas para o nível de abstracção que se tem aos 8 anos. Mas este fim-de-semana e ontem vi o desespero no seu olhar. E, em vez de ajudar, sei que perdi a cabeça. Zanguei-me com ela, quando devia era zangar-me com este sistema de ensino. Agora estou só zangada comigo, por embarcar nesta loucura de exigir de crianças da Primária quase tanto como se estivessem no liceu. 😞

Clube de Leitura: o próximo é no dia 24 de Novembro!

Queridos leitores! A nossa próxima tertúlia é no dia 24 de Novembro, às 19h, na Fnac do Colombo.

Gostava muito que fosse uma grande festa à volta dos livros. Adorava ter-vos lá a todos. Muitos. Acreditem no que vos digo: esta é uma daquelas aventuras em que hesitei muito em meter-me, por medo de ficar ali sozinha, sem ninguém que me acompanhasse, e que acabou por se revelar uma das iniciativas mais interessantes e bonitas a que já me propus. As pessoas vão variando, umas vezes mais outras menos, mas há já um grupo sólido que eu sei que só falta mesmo por motivos de força maior. Mas o grupo não é estanque. Podemos ser mais, temos espaço para todos. E é tão bom partilhar leituras, saber o que cada um sentiu ao ler um livro, voar com ele, concordar com a sua visão, discordar, acrescentar, ver por outro prisma, ganhar novos livros e novos autores, conquistar novas histórias e enriquecer com elas. São horas de conversa em que saio sempre de alma e coração cheios. Leiam um livro este mês e apareçam. 

A seguir ao nosso encontro, no dia 24 de Novembro, vamos fazer um jantar de Natal. Uma das participantes nestes encontros desde o início teve a ideia e já temos algumas confirmações, daqueles que são já os habituées. Era importante mencionarem, no formulário da inscrição para o Clube de Leitura, se também vão ao jantar - a seguir ao encontro - para que possa marcar mesa num restaurante e não ficar ninguém de fora.

Entretanto, e para quem esteja sem saber o que ler até dia 24, a Fnac deixa algumas sugestões:

- para fãs de grandes mistérios: Origem, de Dan Brown 

- para quem já tinha saudades do Tomás Noronha, a mítica personagem de José Rodrigues dos Santos: Sinal de Vida, de José Rodrigues dos Santos 

- para quem gosta de viajar, mesmo que seja sem sair do sofá: O Caminho Imperfeito, de José Luís Peixoto 

- para quem adora o mundo simultaneamente soturno e surreal de Murakami, dividido desta vez em pequenas doses: Homens Sem Mulheres, de Haruki Murakami 

- para quem gosta de romances e adorou o Viver depois de ti: Um Mais Um, de Jojo Moyes  

- para quem não tem tempo para acompanhar longas histórias, mas adora pequenos shots de criatividade, em forma de contos: Papeis Diferentes, de Tom Hanks 

 

Preencham o formulário. Não é obrigatório mas, desta vez, dava mesmo jeito por causa do jantar.

Obrigada!

 

Nova rubrica no blogue! Eis o Consultório!

Há uma semana e meia, mais coisa menos coisa, tinha-vos pedido para deixarem as vossas inquietações, dúvidas, questões para o pediatra de serviço, aqui no blogue. E vocês assim fizeram. Choveram questões no email, a que vamos tentando dar resposta nesta nova rubrica do blogue, o Consultório. E quem vai dar luz às vossas trevas nestas matérias da parentalidade é o conhecido pediatra Paulo Oom, a quem agradeço a disponibilidade e dedicação. A produção dos vídeos está a cargo da Luneta, com quem é sempre muito bom trabalhar.

Não vamos conseguir responder a todas as perguntas mas, mesmo sem ser em vídeo, vamos tentar dar uma ajuda a cada pessoa que enviar email com questões.

A ideia não é fazer um tratado exaustivo sobre cada tema, mas sim responder o mais directamente possível a cada questão concreta.

Esperamos que gostem! 

Daqui a 15 dias há novo Consultório.

Se quiserem enviar as vossas questões, o email é: perguntasconsultorio@gmail.com

 

16 anos

A Joana nasceu apenas alguns dias antes do Manel. Eu e a mãe éramos amigas, tínhamos sido vizinhas e trabalhado juntas. Passámos a gravidez comparando barrigas enormes e naquela bebedeira única que os primeiros filhos sempre dão. 

Eles brincaram algumas vezes juntos, dormiram nas cestas um ao lado do outro, diziam que eram namorados porque havia sempre quem achasse graça a imaginar um namoro desde a barriga.

A Joana fez ontem 16 anos. O Manel está quase lá. Já não se dão, porque a vida os levou para caminhos diferentes, como é natural nas coisas da vida. A mãe e eu continuamos amigas, apesar das distâncias que naturalmente acontecem a pessoas com caminhos distintos. Um dia, há uns anos (dois? três?), ela deu-me uma pequena árvore, que está no meu terraço. E disse: "Esta árvore simboliza a nossa amizade. Agora não a podes deixar morrer." E é giro porque a árvore é tal e qual como a nossa amizade. Às vezes fica frágil, perde as folhas, a gente acha mesmo que se vai extinguir. A culpa não é de ninguém. É simplesmente do modo como as coisas são. Depois, surgem novas folhas, novas flores e ela parece capaz de aguentar mais um inverno. 

Hoje tropecei nesta fotografia do Manel e da Joana. Deviam ter uns dois anos. Às vezes fica difícil acreditar que passou tudo tão depressa.

(parabéns, Joana)

IMG_6353.JPG

 

Corrida Sempre Mulher

Rockport_Passatempo Corrida Sempre Mulher.png

 

A Rockport convidou-me para estar presente na Corrida Sempre Mulher, que acontece já este domingo, dia 29 de Outubro! Como todos já devem saber, esta corrida visa angariar fundos para a Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com Cancro da Mama, pelo que não é só mais uma corrida, é uma corrida por uma causa.

Podem inscrever-se na caminhada de 5Km ou na corrida, também de 5km. Inscrições AQUI.

A partida é junto ao Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações.

Às 10.30 é dada a partida da Corrida de Competição e às 10.33 partem os que vão caminhar.

Juntem-se a nós! Venham apoiar esta causa!

 

 

Ainda a transexualidade

Tal como disse no post anterior, em 2006 fiz para o Diário de Notícias uma grande reportagem sobre a transexualidade. Uma reportagem que me marcou muito. Porque não fazia ideia da violência por que passa quem nasce no corpo errado.

Se tiverem paciência e vontade... aqui está ela.

As fotos, do Gonçalo F. Santos, estão muito mal representadas (são fotos do jornal, velhinho e amachucado). Desculpa, Gonçalo. 

 

 

Quando o corpo e a alma se desencontram

A morte de Gisberta, transexual, alegadamente vítima da violência de um grupo de rapazes internos nas Oficinas de São José, no Porto, levantou velhas dúvidas sobre o tema da transexualidade. Houve quem insistisse em referir-se a Gisberta como homem ou travesti. O DN foi conhecer três transexuais e conta como vivem e como lutam contra a discriminação.

FullSizeRender-4.jpg

Lara veste-se como uma mulher, comporta-se como uma mulher, é uma mulher. O sexo biológico diz o contrário mas a alma feminina não engana 

 

 

Vestiram-na de azul-bebé e chamaram-lhe José Carlos. O sexo não enganava: era um menino. Mas o filho do casal Crespo tinha pouco de menino. Aos três anos rejubilava sempre que na rua o confundiam com uma menina. Não percebia porquê. Assim como não conseguia compreender que gostasse infinitamente mais das pulseiras da irmã do que dos carrinhos do irmão. 

Lara passou por muito até se entender que a sua biologia estava em contramão com a sua identidade psicológica. Na escola, gostava de jogar à macaca e achava os rapazes estúpidos. A professora primária forçava-a a brincar com os meninos e, nas reuniões com a mãe, falava de "inadaptação". 

No liceu D. Pedro V, sofreu as mais variadas perseguições: "Chamavam-me mariquinhas, borboleta. Roubavam-me a mochila, os livros, encharcavam a minha roupa." Lara não era aceite, nem por raparigas nem por rapazes. "Sentia-me uma aberração." Incapaz de se enquadrar, isolou-se. Deprimiu. Como se sentia atraída por rapazes, aos 14 anos assumiu-se como homossexual. Mas os relacionamentos não corriam bem: "Os homossexuais com quem tinha relações sexuais estavam à espera de um comportamente masculino na cama. E eu era feminina. Porque era uma mulher, apesar dos genitais dizerem o contrário."

O conflito interior que Lara sofreu é relatado praticamente por todos os transexuais. Quem o diz é a psiquiatra Graça Santos, coordenadora da consulta de sexologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra. "Na maioria dos casos, a perturbação da identidade começa a afirmar-se muito cedo. Há casos - e não são tão raros quanto isso - de crianças que fantasiam que, quando crescerem, vão ser do sexo oposto."

Na adolescência, o drama avoluma-se e é quando "se desencadeia uma enorme crise de identidade". Os transexuais desenvolvem sentimentos de rejeição para com os seus genitais: "Sentem asco, repulsa. Evitam olhar-se ao espelho, não aceitam o desenvolvimento do pénis ou das glândulas mamárias, evitam tocar em qualquer um desses caracteres sexuais secundários, com os quais não sentem identificação. Muitos têm pensamentos de mutilação."

Quando Lara tinha 24 anos e ainda não era conhecida por Lara, viu um programa de televisão que mudou a sua vida: "Estava em casa e vi uma entrevista da transexual Roberta Close. Tudo o que aquela mulher dizia era o que eu sentia. E foi então que percebi." Foi a primeira vez que sentiu que encaixava num modelo. Que existiam outras pessoas como ela. E de então até hoje, nunca mais parou de tentar ajustar a biologia à alma: "Comecei a ser seguida por sexólogos do Hospital de Santa Maria. Agora já estou na fase do tratamento hormonal. Depois, segue o pedido para a Ordem dos Médicos e, se eles autorizarem, passo para as cirurgias, primeiro os implantes mamários, depois a reatribuição do sexo."

A cirurgia, porém, assusa-a. "Queria ter o sexo certo, aquele que corresponde àquilo que sou. Mas ninguém me garante que eu vá, alguma vez mais, ter um orgasmo. E isso deixa-me apreensiva, como é natural."

 

RIP 2 MY YOUTH

22780516_1826174891027426_3796092882135883764_n.jp

 

O meu amigo João Pico, que é realizador e produtor de vídeo (tem uma empresa chamada Comprimido), co-realizou um documentário sobre a vida de um transexual, com um grupo de estudantes da cadeira de produção audiovisual (no âmbito do mestrado). O documentário conta a história de Isaac, com todas as suas dores, lutas e conquistas, sem o colocar no papel de vítima. É um trabalho que todos deviam ver. Porque o problema da não aceitação começa pela ignorância. Tendemos a rejeitar aquilo que não conhecemos, aquilo que não entendemos, aquilo que nunca ninguém nos explicou. 

Em 2006 fiz uma reportagem grande para o Diário de Notícias em que acompanhei três transexuais e lembro-me que me impressionou muitíssimo esta questão de nascer num corpo errado. Não imaginam o que é ser uma mulher ou ser um homem mas ter nascido com o sexo errado. Essa não correspondência é de uma violência atroz. E só pode discriminar quem não faça puto de ideia do que está em causa.

O documentário vai passar no Auditório Orlando Ribeiro, em Telheiras, no dia 2 de Novembro (próxima quinta-feira) às 20.30. Vão lá, a sério. Deixo-vos o trailer:

Pág. 1/7